O aniversário... dela!
- Qual presente? Kuka perguntou-se em voz alta olhando o calendário sobre a mesa do escritório, com uma enorme roda vermelha emoldurando "sexta feira".
Precisava de solução "inovadora e prática" para comprar presentes para sua esposa, tal quando teve que guardar definitivamente a data de casamento e nunca mais passou batido: era a senha do banco!
Todo ano o mesmo dilema: Calça, blusa ou sapato? Cor, modelo, tamanho, na moda ou não? Anel ou brinco, de ouro, prata ou folheado?
Eu sei você minha querida leitora deve estar pensando: basta que seja com amor e carinho, o mais importante é a lembrança, consideração, reconhecimento, e claro, se possível uma lembrancinha.
Como o "niver" da esposa era na sexta-feira, Kuka tinha mais três dias de... torturas!
Não queria passar o mesmo sufoco, pois no ano passado deixou para comprar o presente de última hora. Lembra que havia marcado jantar para comemorar o aniversário dela num restaurante no shopping, assim poderia comprar o presente por lá mesmo. Achava que em uma hora resolveria a "parada". Enganou-se, levou mais tempo que imaginava e quando foi pagar, descobriu que seu cartão havia expirado. Resultado chegou ao restaurante atrasado, sem presente e ainda ela teve que pagar a conta! Ouviu durante uns seis meses. Este ano seria diferente. Resolveu que sairia mais cedo do escritório para comprar o presente.
Eram cinco horas da tarde e Kuka já perambulava de loja em loja desde as três. Sem chances. Resolveu pedir ajuda para a turma do futebol.
À noite, num barzinho com os amigos falou do seu drama pessoal: tinha três dias para comprar o presente e não tinha ideia. Lá pelas tantas o assunto rendia:
Carlito bem pragmático declarou:
- Eu não sofro com isso: libero o cartão e pronto, ela compra o que gosta e pago a conta.
Vitinho um romântico não se conforma:
- Assim não tem valor algum, e o sentimento e o romantismo?
Paulo Vitor filosofa algo como o consumismo exagerado e o sentido mercadológico destas datas.
A tortura e as dúvidas de Kuka somente aumentavam: qual o presente? E o pessoal "botando pilha". Entre um chopp e outro, eis que toca o celular de Kuka, que atende de pronto:
-Alô!
- Não entendi!
- Desculpa a ligação tá ruim! Oi amor! Fala linda!
- Nunca te chamo de linda? Ah! Sempre tem a primeira vez!
- Teu aniversário? Amanhã! Amanhã?? Sei...sei...
- Você gostaria de comprar seu presente!!! Claro, claro! O que é? Perfeito, acho legal, mas veja uma com salto tipo palito!
- Como? Você esta me achando meio diferente!! Meio romântico? Docinho é você!
- Outro presentinho? Qual? Aquele casaco? Hum... sei não... mas vá lá, pode comprar!
- Também te amo! Mais presente? O carro que prometi no ano passado? Pensando bem, você merece sim. Pode fazer o financiamento.
- Ah amor! Como? Minha voz esta diferente? Acho que meu celular "tá" com problema.
- Também de amo!!! De montão!!! Beijos.
Carlito sempre atento aos detalhes pergunta:
- O Kuka, você está numa enrascada mesmo, pois nem sabe a data de aniversário da tua mulher. Você não falou que o aniversário dela era na sexta feira?
- E é mesmo!
- Como assim? Agora no telefone você falou "amanhã"!
E Kuka com cara de menino arteiro disparou:
- Eu sei, e também não era minha mulher! Foi ligação errada. Aliás: era mulher errada, marido errado e... relação equivocada!
José Milton Castan Jr. é psicanalista e escritor - www.psicastan.com.br