ARTIGOS

Ode (Canção) a Giovana



José Milton Castan Jr.

Nasceu Giovana.

Não, eu não a conheço, mas nasceu no dia dezoito passado, portanto há dez dias.

Não, também não é parente. Nasceu muito bem e com saúde.

Então quem é Giovana, e por que embico neste assunto?

Bem, explico já, porém antes tenho que ser justo, posto que também nasceram outras Giovanas, Cláudias, Anas, Andrés, Marcos e também Andrews, Taylors, Marys, Changs, Kims, Meis, Yervants, Abduls, Dharmeshs, e mais uns quase três milhões de bebês pelo mundo nestes últimos dez dias. Sim...isso mesmo, e se fizer a conta, foram perto de 180 nascimentos por minuto, três por segundo! Quando você, amigo, amiga leitora chegar ao final desta crônica, entre começar a ler até o seu final, nasceram uns novecentos bebezinhos.

Deveria então mudar o nome da crônica, e como não daria para encimar três milhões de nomezinhos, sugiro que Giovana seja a representante.

Mas a Giovana que falo, e agora a preposta dessa turminha toda, nasceu com três e meio quilos, distribuídos por quarenta e oito centímetros. Cesariana, em função de circular de cordão, e como disse, nasceu muito bem e com saúde, informações que recebi de sua babushka (adoro essa palavra), ou seja, de sua vovó, uma amiga querida, que claro estava radiante e feliz pela primeira netinha. Inveja boa, a minha, e eu que no final do ano passado, lancei a campanha "quero meu netinho", o danado é que os meninos e minhas noras ainda estão na fase de curtirem seus casamentos e estruturarem suas vidas. Vá lá!

Pensando em Giovana, imagino que viveu até então num nirvana, pois seu habitat era seguro, quentinho, suave e os sons e luzes que por lá chegavam eram devidamente filtrados. O viver consistia simplesmente em ir vivendo, enquanto plasticamente iam se formando os tecidos, órgãos e estruturas. Mas de repente, tudo começou a mudar: inicialmente algumas contrações e em seguida outras forças externas a encaminharam para estreita passagem e não houve o que pudesse fazer (se é que tentou), e lá estava Giovana de cabeça para baixo, chorando, pois pela primeira vez seus pulmões recebiam um ar seco, o calor de antes fora trocado por temperatura bem diferente e mais fria, as pressões eram sentidas de maneira inédita, aliás, tudo era novo, inclusive um ardor em sua bundinha. Os sons agrediam seus ouvidos, fortes luzes a incomodavam e a agitação em sua volta compunham um quadro caótico o trauma rankeano. Giovana não viveu isto conscientemente, porém não é preciso, vez que nunca foi necessário consciência para o sentir. E assim ficaram gravadas em sua memória, as primeiras impressões deste novo mundo, o nosso mundo.

Mas, (e que bom existirem "mas") o que poderia lhe ser sentido como emoções negativas, loguinho, loguinho tudo novamente começou a mudar: o calor do corpo e as suaves mãos de sua mãe, e certamente Giovana sabia que era sua mãe, traziam-lhe de volta segurança e conforto recém perdidos. Foi seu primeiro recomeço, de tantos que virão!

Nestes seus primeiros dez dias de vida, quase infinitas novas situações foram lhe sendo apresentadas, e sem dúvida a melhor de todas é a hora do peito: olho no olho com a mamãe, braços firmes e seguros e um leite quentinho passando pela garganta, e sem esquecer os carinhos de mãos sedosas e suaves. Hummm... isto é o mais próximo que tem Giovana do seu primevo nirvana.

Pois então aqui vai uma ode, a minha canção a Giovana, seus representados e a todos os bebês nascidos e aos que virão:

"Que a constelação cromossômica tenha sido satisfatória quando em sua concepção; que seja amada por seus pais, e estes lhes sejam suficientemente afetivos, bons em suas interações, cuidados e educação; que a vida lhe reserve quase sempre os bons momentos, e àqueles que não o forem, aprenda com eles e esteja apta a enfrentá-los, transformá-los quando possível e aceitá-los quando não. Felicidade, saúde e vida longa"

Ah...ia me esquecendo: desta forma daqui algum tempo, teremos um mundo melhor!

José Milton Castan Jr. é psicanalista e escritor - www.psicastan.com.br