ARTIGOS

Freud explicaria?


José Milton Castan Jr.
 
Hoje pela manhã. Avenida Dom Aguirre. Você dirigindo seu carro, trânsito intenso, mas fluindo bem. Seguindo pela faixa central mantendo velocidade e distância segura do carro à frente, percebe então um carrão te ultrapassando pela esquerda com seta sinalizando querer entrar exatamente no espaço que te separa do carro à frente. Você nem pensa: já cutucou fundo o acelerador. Aconteceu? Nããoo? Ontem, talvez? Semana passada, quem sabe? Você não dirige?
 
Que tal essa (você comentando com algum chegado seu):
 
-- Nossa! Nem sei como tive coragem de falar aquilo. Quando vi já tinha saído!
 
Diríamos comportamentos não racionais, ou seja, não resultaram de deliberação pensada e intelectiva. O filósofo alemão Nietzsche afirmava existir algo além da razão e tão determinante para o pensar e agir. "Algo pensa em mim", ou "da maneira mais rude mãos invisíveis nos açoitam e nos dobram", são frases de Nietzsche.
 
Mas, claro, em tempo integral usamos (também) a razão para decidirmos como agir.
 
E ao refletimos sobre nossos atos, na verdade estamos procurando saber como fazer melhor. Aliás, como agir bem, ou como ser melhor é o mesmo que perguntar:
 
Qual a vida que vale a pena ser vivida? O que fazer para uma vida ser feliz?
 
Responder questões dessa natureza, a filosofia se ocupa desde o tempo de Platão, pois a discussão do sentido existencial e da maneira como podemos conduzir nossas vidas percorre os dois mil e quinhentos anos do pensamento filosófico.
 
De maneira sintética a filosofia nos ensina que devemos agir pela razão, desconsiderando os desejos e apetites do corpo. Assim consistiria a melhor vida a ser vivida.
 
Concluímos então que filósofos descendentes da teoria platônica falam da razão, e dos nietzschianos da "não razão", mas ambas são propulsoras de comportamentos.
 
Sigmund Freud era leitor de Nietzsche. Sem dúvidas! E denominou de inconsciente ao "algo pensa em mim".
 
Amanhã, dia 6 de maio, Freud completaria 160 anos de vida. Era médico neurologista e ao estudar a histeria, uma doença bem comum em sua época, concluiu que nem sempre as causas eram da ordem endógena/biológica e possivelmente aspectos psicológicos também poderiam ser agentes causadores das disfunções. Dedicou-se a inferir quais forças são essas, como agem e se contrapõem: a da razão consciente, e aquela não disponível à consciência, e que se encontra no inconsciente.
 
Resumidamente: Freud fala de conflitos, e o embate entre eles se dá em boa medida no inconsciente, e quando guardam relação com experiências traumáticas ocorridas no passado, o resultado pode ser a neurose.
 
Exemplo: sabe aquela sensação de bola na garganta, desconforto intenso não traduzível em palavras, incômoda e denominada angústia? Pode ser resultante de "pensamentos" inconscientes, ou seja, no fundo você sabe que algo não vai bem, mas não sabe o quê. Freud além da teoria sobre o funcionamento do aparelho mental desenvolveu a técnica prática para entender, enfrentar e resolver essas situações, consistindo encaminhar o paciente para tornar consciente o que é inconsciente; trocando em miúdos, estabelecendo a relação nexo causal entre um passado traumático "esquecido" e como ele pode estar sendo determinante para ações e sentimentos atuais.
 
Quem já passou (ou passa) por terapia psicanalítica sabe dos seus ganhos pessoais, das evoluções e transformações que propiciam viver uma vida que vale a pena ser vivida.
 
Amanhã é o "Dia do Psicanalista". Minhas homenagens a esses profissionais, e a todos os psicoterapeutas. "Importantésimos" num mundo contemporâneo tão conflitante, estressante e ansiogênico.
 
E também amanhã (6/5, às 19h30) tem sessão solene na Câmara Municipal de Sorocaba comemorativa ao "Dia do Psicanalista". Estarei lá!
 
José Milton Castan Jr. é psicanalista e escritor - www.psicastan.com.br