UNISO CIÊNCIA

Enxofre, Fósforo e Cloro são alguns dos elementos encontrados na saliva de fumantes


Em dezembro de 2008, aos 55 anos, o senhor Antonio faleceu após ser diagnosticado com uma leucemia aguda, deixando a esposa, três filhos e quatro netos. Embora a principal causa da doença não tenha ficado clara na ocasião, os médicos afirmaram que é bastante plausível que o hábito de fumar, que Antonio vinha mantendo há mais de 40 anos, tenha sido uma forte razão, o que o enquadraria numa mórbida estatística: uma a cada dez mortes ocorridas em todo o mundo é causada por males associados ao tabagismo. Esse dado é parte de uma pesquisa mundial financiada pelas instituições filantrópicas Bill & Melinda Gates Foundation e Bloomberg Philantropies, cujos resultados foram publicados em abril deste ano.

Na Universidade de Sorocaba (Uniso), pouco antes da divulgação desses tristes e preocupantes dados internacionais, o filho do senhor Antonio, o farmacêutico e então mestrando Antonio Ademar Poles Junior, também apresentava os resultados de seu próprio estudo, igualmente relacionado aos males causados pelo cigarro. O óbito do pai, oito anos antes, foi um dos motivos que o levou a pesquisar esse tema, comprovando em laboratório como a saliva de fumantes apresenta uma miríade de elementos não encontrados naturalmente no organismo humano ou em concentrações muito diferentes daquelas encontradas na saliva de indivíduos não fumantes.

Sua pesquisa envolveu 32 voluntários adultos, selecionados entre outubro de 2014 e março de 2015 nas Unidades Básicas de Saúde de Araçoiaba da Serra, interior de São Paulo. O objetivo foi aplicar a técnica de FLUORESCÊNCIA DE RAIOS-X (XRF), em experimentos conduzidos no Laboratório de Física Nuclear Aplicada da Uniso (LAFINAU), para identificar os elementos químicos presentes em amostras de salivas de fumantes e posteriormente compará-los àqueles encontrados na saliva de não fumantes. Assim, puderam ser identificadas alterações nas concentrações dos elementos e também a presença de elementos potencialmente nocivos à saúde humana.

“O orientador deste projeto, o professor doutor José Martins de Oliveira Junior, que é físico e Pró-Reitor acadêmico da Uniso, já trabalha há muito tempo com essa técnica, baseada em física nuclear. Aplicando-a à análise de amostras humanas, nós unimos a física e a saúde para levantar alguns alertas”, diz Antonio Junior, ressaltando que ficou evidente não apenas a alteração na composição química da saliva de fumantes, mas um maior impacto nas mulheres, que parecem reter mais elementos na saliva do que os homens.

“A saliva é um fluido heterogêneo, composto majoritariamente por água e por uma pequena parte de células mortas, proteínas e outros”, explica o pesquisador. “Assim, os elementos químicos encontrados — principalmente enxofre, fósforo e cloro — não são produzidos naturalmente no nosso organismo, mas são resultado da exposição direta a uma fonte externa. Esses dados que conseguimos registrar são bastante inquietantes.”

Em todo o mundo, os fumantes somam mais de 1 bilhão de pessoas. No Brasil, são cerca de 200 mil as mortes causadas por doenças associadas ao consumo de cigarro todos os anos, incluindo moléstias como doenças coronarianas, infarto, bronquite, enfisema, câncer no pulmão e doenças vasculares. O tabagismo é considerado a principal causa de morte evitável.

Para saber mais: O que é XRF?
O átomo é a partícula fundamental da matéria, que consiste num núcleo de carga elétrica positiva (formado por prótons e nêutrons) e uma nuvem de carga elétrica negativa (formada por elétrons). No processo de XRF, estimula-se os elétrons em órbita nos átomos com um feixe de radiação, o que faz com que fótons sejam emitidos. Os fótons são então identificados por equipamentos detectores e suas características acusam quais elementos os originaram. Assim é possível saber exatamente quais elementos químicos estão presentes numa determinada amostra.

Com base na dissertação “Estudo da composição química da saliva de fumantes e não fumantes utilizando a técnica de fluorescência de raio-X”, do Mestrado em Ciências Farmacêuticas da Universidade de Sorocaba (Uniso), com orientação do professor doutor José Martins de Oliveira Junior e aprovada em 29 de fevereiro de 2016. Dados publicados na revista Applied Radiation and Isotopes 118 (2016), 221-227, sob o título Study of the elemental composition of saliva of smokers and non smokers by X-ray fluorescence. Com dados adicionais de: Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA), Bill & Melinda Gates Foundation e Bloomberg Philantropies. Acesse a pesquisa completa: https://goo.gl/aLjTMQ

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