CULTURA

Museu aguarda há um ano verba para modernização


Construído por escravos em 1870, o casarão de taipa que abriga o Museu Histórico Sorocabano (anexo ao Parque Zoológico Municipal Quinzinho de Barros, na Vila Hortência) espera há um ano a liberação da verba de R$ 580 mil do Governo Federal para sua modernização e revitalização.

Os recursos prometidos são fruto de um convênio celebrado com o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), autarquia federal vinculada ao Ministério da Cultura (Minc) e, segundo a museóloga da Secretaria da Cultura e Turismo, Daniella Gomes Moreira, serão investidos na aquisição de mobiliários, como vitrines, guarda-volume, instalação de uma recepção, sinalização visual inclusiva e equipamentos de climatização.

De acordo com o Minc, a previsão é que a primeira parcela do repasse seja liberada no primeiro trimestre de 2018. Segundo a Secultur, um outro projeto de convênio, que pleiteia recursos para a restauração do imóvel, foi enviado ao governo federal no início deste ano, mas até agora não foi apreciado pelo Ministério da Cultura.


Perto da janela há rachaduras, assim como no interior do prédio - EMÍDIO MARQUES Perto da janela há rachaduras, assim como no interior do prédio - EMÍDIO MARQUES


Restauração urgente

A fachada descascada e diversas rachaduras nas paredes evidenciam a necessidade urgente de restauração do casarão histórico, que desde 1968 abriga o Museu Histórico Sorocabano (nos primeiros anos, o acervo ficava instalado no Gabinete de Leitura Sorocabano). "Por muito tempo as pessoas pensavam que prédio histórico tem que ser ou museu ou biblioteca, isso era consenso. Hoje isso mudou porque é muito difícil adaptar [por ser tombado] iluminação externa, por exemplo, que influencia muito", comenta Daniella.

Segundo a museóloga, que também integra o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, o desafio está em encontrar soluções de "intervenções que podem ser feitas sem agredir o espaço".

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Outro problema reconhecido pela museóloga é a ausência de uma política de aquisições e descartes de acervos, conforme prevê o Estatuto Brasileiro de Museus, aprovado em 2009. "É algo muito recente. Acho que [a criação dessa política] tem que ser um trabalho em conjunto, da secretaria [de Cultura] com os conselhos [de Política Cultural e Patrimônio Histórico]", defende.

Apesar de ainda não contar com o documento que estabelece regras e critérios para aquisição de peças, Daniella comenta que nos últimos anos o museu adotou uma postura mais rigorosa em relação à oferta de doações. "É preciso ter um crivo. Tem que ter a ver com o recorte temático do museu, que é a história regional, já que antes toda a região fazia parte de Sorocaba", complementa.


Segundo museóloga, o desafio está em encontrar soluções Segundo museóloga, o desafio está em encontrar soluções "de intervenções que podem ser feitas sem agredir o espaço" - EMÍDIO MARQUES


Reserva técnica

Além das peças expostas ao público no casarão de Quizinho de Barros, o Museu Histórico Sorocabano conta com um acervo de aproximadamente 1.800 itens, que estão guardados na reserva técnica, que ocupa seis salas do Palacete Scarpa, situado na região central. Até o início do mês passado, o imóvel era sede da Secretaria de Cultura e Turismo (Secultur), que foi transferida para o Chalé Francês, dando lugar à Secretaria de Esportes e Lazer (Semes). "Há também um grande acervo de pesquisa, com livros do cemitério e atas da câmara disponíveis para consulta", destaca Daniella Moreira. Para acessar o material é preciso formalizar o pedido junto à Secult.

Atividades prosseguem

Enquanto os recursos não vêm, as atividades do museu prosseguem. Segundo Daniella, em 2017 o museu recebeu 135 mil visitantes em cinco exposições, sendo quatro delas temporárias e uma de longa duração, que traz um recorte cronológico, desde a arqueologia pré-histórica até peças da industrialização do início do século 20, passando por artefatos indígenas, dos bandeirantes e do tropeirismo.


O casarão precisa urgente de restauração - EMÍDIO MARQUES O casarão precisa urgente de restauração - EMÍDIO MARQUES


Geralmente montadas nas duas primeiras salas do museu, as exposições temporárias deste ano foram de maquetes de prédios da cidade, assinadas pelo artista Ademir de Jesus Vendrami; "Sorocaba em imagens", com fotografias históricas do próprio acervo do museu; "Retratos brasileiros", projeto idealizado pelo fotógrafo e produtor Tomás Cajueiro; e "Arqueologia: o metrô descobrindo o passado", ainda em cartaz.

A mostra, que pode ser vista gratuitamente até janeiro de 2018, reúne mais de 70 peças arqueológicas encontradas durante escavações do metrô na avenida Adolfo Pinheiro, em São Paulo.

Daniella detalha que o Museu Histórico Sorocabano tem a salvaguarda do material, já que pela lei, as peças arqueológicas pertencem à União. No início do ano, as peças ficaram expostas na Estação São Bento, do metrô de São Paulo.

Além de Daniella, a primeira e única museóloga de carreira da história de Sorocaba a compor o quadro de funcionários da prefeitura, três servidores e dois estagiários trabalham no museu, supervisionando o acervo e prestando monitoria aos visitantes.

Aos finais de semana, quando o movimento se multiplica em virtude da população que frequenta o zoológico, outros dois funcionários e dois estagiários que ficam lotados durante a semana no Museu Histórico Ferroviário reforçam a equipe.

Perfil dos visitantes

O perfil dos visitantes do Museu Histórico é diversificado. Além de pesquisadores e afccionados pela história da cidade, o equipamento criado em 1954, no ano do 300º aniversário da cidade, recebe centenas de famílias que visitam o zoológico.

Já as visitas escolares caíram sensivelmente há dois anos, com a descontinuidade do Roteiro Educador, projeto da Secretaria de Educação que desde 2007 levava os estudantes da rede municipal de ensino a passeios.

O Museu Histórico Sorocabano era o quinto local mais visitado do projeto. "Hoje depende muito da direção da escola, mas a gente sempre anuncia visita agendada e oferece monitoria", diz Daniella.