ARTIGOS

Carnaval e Astronomia


Prof. Paulo Sergio Bretones*


A Astronomia está relacionada ao Carnaval por vários motivos: história, determinação da sua data no calendário, sambas de enredo e marchinhas.

Historicamente, várias festas eram feitas por vários povos, como os egípcios com as festas de Ísis, deusa da magia e da ressurreição e do touro Ápis, deus da fecundidade e do renascimento, representado por um touro branco com um disco solar entre os chifres; os gregos com as bacanais, danças e festas em homenagem ao deus Dionísio ou Baco, deus do vinho; e os romanos com as lupercais e as saturnais. Também ocorriam as termálidas entre os romanos. Comemorada nos últimos dias de fevereiro, o último mês do ano na época, era uma homenagem ao deus Termo ou Terminus e celebravam-se em Roma festas de grande animação popular. Trocavam-se presentes, libertavam-se escravos e promoviam-se espetáculos de gladiadores no circo.

Desde a antiguidade os astros sempre foram muito importantes para a construção da sociedade. O ser humano deixou de ser nômade e passou a ser sedentário devido ao conhecimento dos fenômenos astronômicos, que levaram à construção do calendário e o domínio da agricultura. O domínio do fogo também foi importante para isto.

Sendo assim, as datas da Páscoa, Natal e outras são tradições de origem pagã que foram incorporadas pelas religiões e estão presentes até hoje no calendário civil de muitos países. Quanto ao Carnaval, as saturnais eram festas que ocorriam em memória do deus Saturno, que teria ensinado a arte da agricultura. Na ocasião, não eram consideradas as distinções sociais, os escravos ficavam no lugar dos patrões e os serviam nas mesas. Também não funcionavam as escolas e os tribunais, eram suspensos os julgamentos e os condenados não podiam ser executados. Os escravos se divertiam e era a maior desordem nas ruas. Quem era de um nível social mais alto se retirava para o campo e o povo festejava este período de liberdade. Já em 15 de fevereiro os romanos comemoravam as lupercais, visando à purificação como consequência dos excessos libertários. Era uma homenagem ao deus Luperco ou Pã, protetor dos pastores e dos rebanhos e era celebrada a fecundidade. Os lupercos saiam nus, apenas com uma pele de um bode sobre os ombros e iam pelas ruas batendo nas pessoas com uma correia de couro. Então se você acha que o Carnaval é uma loucura, imagine as lupercais na Roma antiga!

Todas estas festas ao longo da história tinham danças, máscaras e disfarces. Já no Cristianismo, a igreja incorporou estas festas ao calendário considerando uma maneira como os cristãos se despediam das farras que precediam a Quaresma. Assim, segundo os estudiosos, o nome Carnaval pode ter origem na expressão Carne Vale (adeus carne) ou Carrus Navalis, um carro parecido com um barco usado pelos romanos.

Quanto à data do Carnaval no calendário, a data é determinada pela data da Páscoa. A Páscoa acontece no primeiro domingo após a primeira Lua cheia que ocorre após o início da primavera do hemisfério Norte. Neste ano, a Páscoa será no dia 1º de abril. Assim, a Quarta-Feira de Cinzas é calculada como sendo 46 dias antes da Páscoa, portanto, no dia 14 de fevereiro.

Sobre os sambas de enredo dos desfiles das escolas de samba, podemos citar alguns. Como sabemos, os enredos são temáticos e abordam fatos históricos, personalidades e muitos assuntos. Entre eles, a ciência já foi mencionada muitas vezes e os astros também por serem temas favoritos dos poetas e compositores. Como exemplo, em 1975 tivemos "Macunaíma", da Escola de Samba Portela, de autoria de David Corrêa e Norival Reis:

"Vou-me embora, vou-me embora
Eu aqui volto mais não
Vou morar no infinito
E virar constelação"

Em 1997 tivemos a Unidos do Viradouro com "Trevas! Luz! A explosão do Universo", enredo de Dominguinhos do Estácio, Mocotó, Flavinho Machado e Heraldo Faria e criação do carnavalesco de Joãozinho Trinta. O enredo menciona o Big Bang, no início do Universo:

"É Big-bang, coisa igual eu nunca vi!
Que esplendor
Vem das trevas, tudo pode acontecer,
A noite vira dia, luz de um novo amanhecer!
Vai, meu verso, buscar a Terra em embrião,
Da poeira do universo
Desabrocha a natureza em expansão."

Quanto às marchinhas, temos algumas imortais como "Linda Morena", que menciona a Lua, de Lamartine Babo, gravada por Mário Reis em 1933:

"Linda morena,
Morena,
Morena que me faz sonhar
A Lua cheia
Que tanto brilha
Não brilha tanto quanto o teu olhar..."

Mas talvez a marchinha mais famosa e imortal seja "Pastorinhas", de João de Barro e Noel Rosa, de 1938, muito cantada até hoje:

"A Estrela d"Alva
No céu desponta
E a Lua anda tonta
Com tamanho esplendor
E as pastorinhas
Pra consolo da Lua
Vão cantando na rua
Lindos versos de amor"

Sendo assim, é importante lembrarmos que os astros sempre estiveram presentes na cultura humana. É importante trazer tais elementos para a educação e a formação das pessoas. Desde a construção do calendário, com de muita alegria e tradições, os astros sempre inspiraram os compositores. E o céu nos ensina que tudo é cíclico nesta vida. Bom Carnaval a todos!

Paulo S. Bretones é docente do Departamento de Metodologia do Ensino - DME/UFSCar