ECONOMIA

Turbulência gera dúvidas sobre como aplicar dinheiro


A turbulência vivenciada pelo mercado financeiro nas últimas seis sessões colocou os investidores diante de um dilema: a renda fixa paga pouco, mas a Bolsa está dando muita emoção para quem busca, aos poucos, migrar para o mundo das ações em troca de ganho maior. Não há uma receita que se aplique a todos os investidores. Mas a diversificação dos investimentos acaba sendo a recomendação principal.

"O ponto principal é manter uma carteira diversificada. Alinhar os objetivos para cada investimento [compra da casa própria, viagem ao exterior], conhecer seu perfil de risco [mais conservador, moderado ou arrojado] e montar uma carteira que inclua todos esses fatores", afirma Vinicius Maeda, diretor da plataforma Magnetis. Isso significa dividir o dinheiro entre alternativas conservadoras, como poupança e renda fixa, mas também colocar uma parte dos recursos em ações ou fundos multimercados. Confira, abaixo, orientações para quem quer colocar o dinheiro em poupança, renda fixa ou em ações.

POUPANÇA

A caderneta é uma das aplicações mais procuradas pelos brasileiros. Mas, com o juro básico a 6,75% ao ano, a poupança rende 70% da Selic mais TR (Taxa Referencial). Em fevereiro, isso significa um rendimento de 0,399%.

"O dinheiro da poupança é aquele para emergência e para situações que exigem facilidade de resgate. Mas, se tiver algum recurso que possa contar com um horizonte superior a 12 meses, vale migrar da caderneta", afirma André Diz, professor de economia do Ibmec/SP.

RENDA FIXA

A renda fixa acaba sendo um dos destinos naturais de quem tem pouco sangue frio para tolerar as oscilações do mercado acionário. Mas, também como efeito da queda da taxa básica de juros, a rentabilidade dos produtos conservadores está bem aquém dos dois dígitos registrados até o fim de 2016. Em alguns casos, lembra Vinicius Maeda, da Magnetis, podem render menos que a poupança, após o desconto do Imposto de Renda.

"O investidor com pouco dinheiro tem à disposição apenas papéis com retorno baixo, como CDBs que remuneram 80% do CDI e que, após o IR, rendem menos que a poupança", afirma. Se quiser um retorno maior, o investidor terá que se arriscar mais. Isso significa comprar CDBs ou outros produtos emitidos por bancos menores, que remuneram mais para compensar o risco de quebra. Papéis isentos de IR, como LCIs e LCAs (letras de crédito imobiliário e do agronegócio, respectivamente), são opções, mas podem ser difíceis de encontrar no mercado.

AÇÕES

Quem comprou ações aproveitando a valorização dos papéis da Bolsa de São Paulo até o início do ano deve manter a calma, de acordo com Francisco Levy, diretor da associação Planejar, de planejadores financeiros. Mas o investidor que quer começar comprar papéis pode aproveitar as quedas recentes do mercado, diz. "A Bolsa vai ter uma realização, o que é uma oportunidade de entrada, pois está com um preço menor que antes", afirma. A perspectiva de retomada da economia deve impulsionar os lucros de empresas e contribuir para a valorização da Bolsa neste ano.

É preciso ter cuidado, porém. Não se deve descartar o risco eleitoral, que deve provocar novas oscilações no mercado, especialmente mais para o segundo semestre do ano, conforme a disputa fica mais clara em torno dos candidatos mais fortes. Aqueles que não quiserem entrar diretamente na Bolsa podem fazer a transição via fundos multimercados, complementa Levy. Eles costumam ter uma parte da carteira em renda fixa, mas com liberdade para comprar ações, juros e moeda, por exemplo.


Compra de imóvel ainda requer cautela, dizem especialistas



O mercado imobiliário, que foi bastante afetado pela recessão econômica que atingiu o país até o final de 2016, deve esboçar reação neste ano, o que pode servir de janela para quem pensa em comprar um imóvel para alugar, na avaliação de especialistas. No ano passado, o financiamento imobiliário recuou 7,4% na comparação com 2016. Neste ano, o crédito para compra da casa própria deve crescer, acompanhando a melhora do desemprego e a retomada econômica, diz André Diz, professor de economia do Ibmec/SP.

"Se o investidor tiver recurso, vai encontrar algo interessante. Mas ele pode não alugar o imóvel pelo preço que quer, considerando que o IGP-M [índice que reajusta contratos de aluguel] teve deflação no ano passado", diz. "Ele pode ter um retorno melhor em produtos financeiros." Já o preço dos imóveis ainda não deve se valorizar tanto neste ano, afirma Francisco Levy, da associação Planejar. "Não vejo isso no curto prazo. Vai se recuperando aos poucos, mas vejo uma alta mais expressiva nos próximos dois ou três anos", diz.

Quem não tiver dinheiro para comprar um imóvel pode aplicar em fundos imobiliários, produtos com cotas negociadas em Bolsa e que compram prédios residenciais e comerciais, shoppings e terrenos, por exemplo. "Mas o investidor precisa tomar cuidado para não ter uma exposição excessiva a imóveis. Tem que diversificar", diz Levy.