BRASIL

Jungmann diz que Marielle Franco pode ter sido morta por milícia


O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, disse, nesta segunda-feira (16), que o assassinato da vereadora Marielle Franco pode ter ligação com milícias, grupos criminosos de pessoas ligadas a forças de segurança que vendem proteção, extorquem comerciantes e exploram ilegalmente serviços como transporte coletivo, distribuição de gás, internet e TV a cabo. "As investigações avançam e têm afunilado possibilidades. Uma delas é que seja um crime ligado a milícias", disse, em evento no Rio. 

O ministro, no entanto, não soube explicar o que leva os investigadores a essa hipótese. "Quem pode responder isso é o chefe da Polícia Civil", disse, quando foi perguntado que tipo de indícios há da participação de milicianos. Em 2008, Marielle trabalhou na CPI das Milícias, que pediu o indiciamento de 225 políticos, policiais, agentes penitenciários, bombeiros e civis.

Jungmann enfatizou que trata-se de uma investigação "rara", pois as provas são materiais, e não testemunhais. "Não se identificou nenhuma ameaça a ela, o que deixa as investigações apenas no âmbito da materialidade -cápsulas, impressões digitais."

No começo da tarde, o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), criticou a fala de Jungmann. "Não cabe ao ministro falar sobre as linhas de investigação, cabe aos delegados", pois qualquer fala precipitada "pode atrapalhar o trabalho da polícia", afirmou, em frente à chefia da Polícia Civil do Rio, onde familiares se reúnem com investigadores para acompanhar o andamento da apuração do crime.

O crime

O assassinato da vereadora completou um mês neste sábado (14) sem que a polícia tenha localizado autores ou mandantes. O secretário da Segurança Pública do Rio, general Richard Nunes, chegou a dizer que a principal linha de investigação era a de motivação política. "Não há dúvidas de que a atuação política dela, não só no momento, mas até a projeção de futuro do que ela poderia representar, indica que a gente tem que ter um olhar mais acurado nesta direção. Isso é inegável", disse o secretário, em entrevista à Globo News. Ele também afirmou que foi descartada a hipótese de crime passional.

Diversos vereadores prestaram depoimento na condição de testemunha, entre eles, um indiciado na CPI das Milícias. O assistente de um vereador que deu depoimento à Polícia Civil foi assassinado no último domingo (8). Não está claro se o crime teve relação com a morte da vereadora. Quando lhe foi perguntado se está descartada a hipótese de participação de vereadores no crime, o ministro disse que "não se pode descartar nada". 

Marielle foi morta em 15 de março, quando saia de um encontro de mulheres negras na Casa das Pretas, espaço na Lapa, região central do Rio. O carro em que ela estava foi atingido por nove tiros.

A vereadora estava no banco de trás de um Chevrolet Agile branco com sua assessora, que sofreu ferimentos leves. Na frente, estava seu motorista, Anderson Pedro Gomes, que também morreu.

O caso teve repercussão internacional e entrou na pauta da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, órgão da OEA (Organização dos Estados Americanos).