CULTURA

Projeto promove bate-papo com cinegrafista cega


As experiências e técnicas desenvolvidas por Micheli Correia, primeira cinegrafista cega do Brasil a produzir documentários, serão compartilhadas com o público em um bate-papo que ocorre na quinta-feira (26), às 15h, no Museu de Arte Contemporânea de Sorocaba (Macs).

O evento com entrada gratuita faz parte do projeto da exposição "Olhar sensível" e ocorre no espaço expositivo do Macs (avenida Afonso Vergueiro, 280, ao lado da antiga estação ferroviária).

Moradora de Mogi Mirim, Micheli participará do bate-papo via hangout -- plataforma digital de mensagens instantâneas e chat por meio de vídeo on-line -- e falará sobre os trabalhos que desenvolve como cinegrafista há dois anos.

"Vou dar um depoimento sobre como é ser a primeira cinegrafista cega do Brasil e falar sobre a técnicas que eu uso para fazer filmagem que é baseada nas minhas percepções corporais", comenta.

Micheli falará ainda sobre sua participação no projeto "Olhar sensível". A convite do jornalista e também deficiente visual Teco Barbero, a cinegrafista registrou em vídeo uma das saídas fotográficas do grupo que deram origem à exposição -- com as obras também confeccionadas em 3D com intuito de proporcionar experiência tátil e auditiva para quem possui essa deficiência. "Eu resolvi fazer o registro totalmente sem compromisso, daí surgiu esse convite para fazer parte do projeto", diz.

Além de realizar palestras e oficinas, Micheli mantém um canal no YouTube e uma página no Facebook, denominados "Olhar Diferente", onde divulga suas produções audiovisuais. "Desde criança eu gosto de filmadora. Tudo começou como brincadeira, mas com o tempo foi se tornando sério", diz.

Dentre seu trabalhos de maior destaque estão um documentário sobre o projeto Sesc Verão 2017 e um minidocumentário sobre a vida de Wesley Cassiano, conhecido como Índio, que é goleiro da Seleção Brasileira de Futebol de 5 (modalidade de futebol paralimpíco exclusiva para deficientes visuais). "Foi uma emoção muito grande fazer esse trabalho, pois fiz tudo sozinha, sem o auxílio de um assistente", comenta.

Sobre o projeto "Olhar sensível", Micheli afirma como um exemplo a ser seguido, já que, segundo ela, ainda são raros os projetos artísticos voltados ao público com deficiência visual. "A exposição já é uma referência porque é muito bem feita. Mas é o primeiro passo, porque a tecnologia está avançando e pode ajudar bastante na inclusão. Infelizmente no Brasil ainda são poucas iniciativas de inclusão através da arte", acrescenta.

Premiada na 8ª edição do Prêmio Ibero-americano de Educação e Museus, a exposição "Olhar Sensível" é realizada pelo Macs, com incentivo do ProAC (Programa de Ação Cultural), da Secretaria de Estado da Cultura.

A mostra é conduzida com mediação especial, feita por educadores treinados. O público que se interessar pode vivenciar a experiência da não visão ao receber uma máscara para sentir a sensação, sempre acompanhado dos mediadores.

A mostra permanece em cartaz até 12 de maio, e pode ser vista de terça a sexta-feira, das 10h às 17h e aos sábados e feriados, das 10h às 15h. A entrada é gratuita.