Reconhecimento merecido

Quem é de Sorocaba e tem mais de 50 anos vai se lembrar de que até a década de 1970, a cidade tinha um número muito limitado de cursos superiores. Tínhamos a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras e a Faculdade de Administração de Empresas, que no final do século passado deram origem à Universidade de Sorocaba (Uniso); a Faculdade de Medicina e a Faculdade de Direito, estas últimas pioneiras no interior do Estado, criadas na década de 1950.

O estudante que quisesse cursar outras faculdades como engenharia, odontologia, arquitetura, jornalismo, psicologia, entre tantas outras carreiras, ou matricular-se em uma universidade pública, tinha que estudar em São Paulo ou outro município. Foi a partir da década de 1970 que o leque de cursos de nível superior começou a se abrir, com a chegada da Faculdade de Tecnologia (Fatec), a primeira faculdade pública a instalar-se na região, e a criação da Faculdade de Educação Física e da Faculdade de Engenharia de Sorocaba (Facens), esta por um grupo empresarial sorocabano, e que começou a funcionar efetivamente em 1977. A Uniso foi criada em 1994 e a partir de uma campanha capitaneada pela Fundação Ubaldino do Amaral (FUA) e jornal Cruzeiro do Sul, pela instalação de uma universidade pública, chegaram a Sorocaba o campus local da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), e o da Universidade Paulista (Unesp).

Paralelamente, foram instaladas várias faculdades isoladas e universidades particulares, criando uma grande concentração de cursos de nível superior.

Nos últimos anos, as universidades e as faculdades isoladas tornaram Sorocaba um polo de atração para estudantes de várias partes do Brasil e um ambiente propício para a produção de conhecimento, por meio de seus laboratórios e centros de pesquisa. E nesse contexto que a pioneira Facens vem se distinguindo pelos seus trabalhos ousados, mas ainda pouco conhecidos pela comunidade. Há alguns anos a faculdade criou o Smart Campus, uma espécie de rede de sensores que captam informações diversas, tais como consumo de água, tráfego, geração de energia fotovoltaica, câmeras de segurança, entre outros. O cruzamento dessas informações e análise desses dados permitem detectar eventuais problemas futuros. O modelo foi criado para ser utilizado no campus da Facens, mas a ideia é que, em um segundo momento, seja levado para as cidades e permita que seus administradores acessem as informações e se antecipem na solução dos problemas. Esse projeto, que teve boa repercussão no mundo acadêmico, ganhou há algumas semanas o prêmio IDTechEx Europa 2018, na categoria "Melhor Desenvolvimento de Tecnologia IoT". A premiação aconteceu durante o IDTechEx Show, em Berlim, Alemanha, que reconheceu o campus da faculdade de Sorocaba como um laboratório vivo de cidades inteligentes e de IoT (internet das coisas), que busca solucionar problemas reais conectando a comunidade acadêmica, mercado e sociedade por meio de soluções que tornam as cidades mais humanas, inteligentes e sustentáveis.

Foi o segundo prêmio internacional que o Smart Campus recebeu, um projeto que tem três anos e já está sendo reconhecido por estudiosos do tema cidades inteligentes. No ano passado o projeto ganhou o "Smart Cities UK Awards", disputando com empresas e universidades do mundo inteiro, o que lhe garantiu visibilidade internacional. Outras atividades da faculdade também têm alcançado reconhecimento, como é o caso da participação de alunos de graduação de engenharia em um projeto da Agência Espacial Norte-americana (Nasa), o Nasa Modeling & Simulation, que tem como objetivo desenvolver um projeto de modelagem e simulação de um módulo lunar. A Facens foi a primeira faculdade da América Latina escolhida para participar do projeto.

O sucesso da Facens em projetos reconhecidos internacionalmente é só um exemplo da evolução da pesquisa acadêmica em Sorocaba. As universidades e faculdades isoladas existentes no município, que atuam em diversas áreas do conhecimento, certamente têm produzido projetos igualmente interessantes e que precisam ser melhor conhecidos.