CULTURA

Companhia Os Satyros apresenta três espetáculos no Sesc Sorocaba


Três dos mais recentes espetáculos da premiada companhia teatral Os Satyros, de São Paulo, serão encenados a partir desta quinta-feira (14) até sábado (16), sempre às 20h, no teatro do Sesc Sorocaba. Os ingressos, disponíveis até o fechamento desta edição, custam R$ 17 inteira e podem ser adquiridos na central de atendimento da unidade (rua Barão de Piratinga, 555).

A mostra inaugura o projeto "Repertórios", idealizado pela equipe da unidade, com intuito de lançar um olhar dedicado à produção artística de companhias teatrais de renome na cena contemporânea. Além dos espetáculos, o novo projeto inclui a oficina sequencial de "teatro veloz", como é chamado o método de preparação da companhia. A atividade teve início na semana passada e prossegue até dia o próximo dia 20.

No sábado, às 15h, também como parte do "Repertórios", o diretor e fundador d'Os Satyros, Rodolfo Garcia Vásquez, e o ator Hércules Soares, do Coletivo Cê, participam da roda de conversa intitulada "Caminhos do teatro nas lutas culturais identitárias da atualidade". A atividade é gratuita e os ingressos devem ser retirados com uma hora de antecedência.

A mostra será aberta na quinta com "Cabaré fucô". Com texto de Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez, o espetáculo leva ao palco uma espécie de show de variedades, no qual se discutem os caminhos do homem na sociedade contemporânea, ao som de canções compostas pelo coletivo de artistas. O feminismo, a repressão sexual e os controles sociais são temas que se transformam em sketches de um show de variedades, em que o ridículo e o patético se encontram.


'O incrível mundo dos baldios' se passa numa noite de Ano-Novo - ANDRE STEFANO/ DIVULGAÇÃO 'O incrível mundo dos baldios' se passa numa noite de Ano-Novo - ANDRE STEFANO/ DIVULGAÇÃO

Na sexta-feira (15), a companhia encena a peça "O incrível mundo dos baldios", também escrito por Cabral e Vázquez, fundadores da companhia que no ano que vem comemora 20 anos de atividades. Acompanhados por um peregrino e um anjo, cinco encontros inesperados ocorrem simultaneamente em lugares diversos em uma noite de Ano-Novo, quando todos despejam suas esperanças de milagres para o futuro.


'Pink Star': trata-se de  uma comédia musical inspirada no universo queer - SALIM MHANNA/ DIVULGAÇÃO 'Pink Star': trata-se de uma comédia musical inspirada no universo queer - SALIM MHANNA/ DIVULGAÇÃO

Já no sábado, fechando a mostra, o público poderá conferir o espetáculo "Pink Star", uma comédia musical inspirada no universo queer e baseada em trabalhos acadêmicos de pensadores como Judith Butler e Paul B. Preciado. Ambientado em 2501, no Planeta Terra, a peça narra a história de Purpurinex Brilhante, um ser humano livre dos clichês do binarismo homem/mulher. Essa pessoa, herdeira do maior diamante rosa conhecido, o "Pink Star", é assassinada no momento em que traça sua fuga para outra galáxia. O espetáculo reconstitui sua trajetória, a fim de desvendar o enigma de sua morte.

Integrante do elenco de "Cabaré fucô" e "Incrível mundo dos baldios", o ator sorocabano Robson Catalunha elogia o novo projeto do Sesc Sorocaba que viabiliza a apresentação de diferentes montagens do grupo fora da sede da companhia, na Praça Roosevelt, no centro da capital. "Poder levar três trabalhos atuais e, ao mesmo tempo, tão diversos, é uma oportunidade incrível", afirma o artista.

Apesar da diversidade estética das peças que serão apresentadas -- "Pink star" é uma comédia musical, "Cabaré Fucô" é uma espécie de cabaré de variedades enquanto "O incrível mundo dos baldios" traz um drama mais denso --, Catalunha destaca que o ponto de contato entre as três montagens se situa na pesquisa, sempre a partir de discussões profundas sobre preconceitos e desigualdades sociais. "Os três, cada um de um jeito, falam muito das diferenças de se colocar no mundo", afirma.

Enquanto "Pink star" explora elementos para a compreensão de questões ligadas a gênero e sexualidade, "Cabaré Fucô", o mais recente da companhia, brinca com o nome e se apropria de conceitos do filósofo francês Michel Foucault, criando uma espécie de "freak show" (ou show de aberrações), baseado nas características peculiares de cada um do próprio elenco. "Partimos de questões bem pessoais para criar os personagens, a partir de características que, em algum momento, foram até motivo de bullying sofrido pelos atores. A questão da mulher, do racismo, do preconceito contra gay. Aborda todas as diferenças", diz.

Os desdobramentos dos preconceitos ante as diversidades são radicalizados em "O incrível mundo dos baldios", que no mês que vem será encenado em um festival de teatro na China. O ator sorocabano destaca que a peça é inspirada nas experiências pessoais do elenco que conta com uma refugiada da Síria, uma transexual, um egresso do sistema prisional e um ex-interno da Fundação Casa.

Catalunha explica que a palavra "baldio", que dá título ao espetáculo, tem dois sentidos, vindo de Portugal e outro comumente empregado no Brasil. "No Brasil, baldio é como chamamos um terreno improdutivo, sem serventia, enquanto em Portugal é o oposto, tem o sentido de lugar de encontro das pessoas, fértil", comenta. No entanto, a peça criada coletivamente pela companhia, que atualmente tem cerca de 60 artistas, vai além da discussão sobre novos significados e possibilidades ao espaço público. "É o terreno do humano. Até quando um artista refugiado ou uma transexual é um artista baldio? E qual baldio entendemos?", complementa.

Desde a sua fundação, em 1989, a companhia Os Satyros se destaca por envolver em seus processos criativos artistas vindos de minorias silenciadas que, além de sua posição social historicamente vulnerável, foram alijados de qualquer acesso ao mundo teatral.

A chegada dos Satyros à então deteriorada Praça Roosevelt, em 2000, aprofundou o interesse da companhia em abordar as questões dos grupos sociais subalternizados, transformando radicalmente a trajetória estética do próprio coletivo. Após pouco mais de dois anos em que Os Satyros estavam na Praça Roosevelt, travestis, traficantes, ex-presidiários e adolescentes carentes passaram a fazer parte do grupo, em diferentes funções.