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Brasileiro vai de herói a vilão e pede desculpas no vestiário da seleção russa


Um dia após a eliminação do Brasil da Copa do Mundo para a Bélgica, um brasileiro teve a chance de sair das quartas de final como grande nome da Rússia. Mas, como se estivesse em uma montanha-russa, o lateral-direito Mário Fernandes, 27, passou de herói a vilão em um intervalo de menos de 20 minutos na noite de sábado (7), no estádio Olímpico de Sochi.

Neste tempo, anotou de cabeça o gol de empate em 2 a 2 na prorrogação, aos 10 minutos da segunda etapa (após 1 a 1 no tempo normal) e perdeu o terceiro pênalti na disputa que acabou em vitória de 4 a 3 para a Croácia. Bateu mal, torto, para fora do gol. Smolov havia desperdiçado a primeira, em uma cavadinha mal executada, mas os russos tinham visto a esperança renascer após Akinfeev defender chute de Kovacic.

Porém cobrança de Rakitic decretou o fim da linha da Rússia no Mundial em casa. Decretou também a Croácia pela segunda vez nas semifinais, após o terceiro lugar de 1998.  O próximo adversário será a Inglaterra, na quarta-feira (11) no Lujniki, em Moscou.

"Foi um momento de alegria pelo gol e depois tristeza pelo pênalti. Mas tinha que bater e não podia fugir da responsabilidade", disse Mário, que revelou ter pedido desculpas aos companheiros no vestiário pela cobrança desperdiçada. "Tenho que pedir perdão. Errei e tenho der ser homem de assumir. Disseram que não tinha de pedir desculpa. Isso reforça que somos um grande equipe", completou.

Mário está na Rússia desde 2012 e obteve sua naturalização em 2016. Em todo este período só defendeu o CSKA Moscou, clube com o qual tem contrato até 2022. Seu gol foi o segundo com a camisa da seleção, mas o primeiro em um jogo oficial. O outro havia sido em um amistoso não considerado pela Fifa contra o Dínamo de Moscou, no ano passado.

Pelo CSKA, tem só três, em 258 jogos disputados. "O que eu posso te dizer? Ninguém se voluntariou, mas depois de jogar 120 minutos de jogo. Eu perguntei para um jogador se ele poderia chutar, e ele mal me ouviu. Quem estava bem bateu os pênaltis", defendeu o técnico Stanislav Tchertchesov.

Esta foi a primeira vez em três oportunidades que a Croácia superou um anfitrião de Copa, ainda que nos pênaltis. Havia perdido para a França na semifinal de 1998 e para o Brasil na abertura de 2014.

Nas oitavas de final, também havia passado pela Dinamarca nas penalidades. É apenas a segunda vez na história dos Mundiais que um time consegue avançar de fase desta maneira em duas oportunidades. A outra a fazer isso foi a Argentina, em 1990. "Foi um outro drama para nós. Não jogamos bem no primeiro tempo, mas no segundo melhoramos, assim como fomos bem na prorrogação. Infelizmente não conseguimos fechar o jogo, mas mostramos caráter uma vez mais", afirmou o meia Luka Modric, eleito o melhor em campo.

A classificação arrancou lágrimas do emocionado Zlatko Dalic, treinador croata. "Eu não choro frequentemente, mas agora tenho um bom motivo. A Croácia está nas semifinais. Este é um grande resultado e um grande sucesso", disse. Os croatas só chegaram ao Mundial após passarem pela repescagem europeia contra a Grécia. Na Rússia, ainda não perderam. São três vitórias e dois empates.

Em que pese a frustração por não chegar à semifinal, a Rússia se despede com a melhor campanha desde o fim da União Soviética, em 1991. Não à toa, os jogadores saíram de campo aplaudidos. Um reconhecimento para um time que chegou ao torneio desacreditado e que jamais havia tido sucesso em superar a fase de grupos. "As pessoas não apenas começaram a acreditar, mas se apaixonaram por nós. O país inteiro está apaixonado pela Rússia. Eles sabem do que o time russo é capaz", afirmou Tchertchesov.

"Sempre acreditamos em nós e sabíamos que poderíamos mudar esta imagem com muito trabalho", completou o técnico, que recebeu um abraço de Davor Suker, presidente da federação croata. Antes no vestiário, havia recebido a visita do primeiro-ministro, Dimitri Medvedev, e uma ligação do presidente Vladimir Putin.