SOROCABA E REGIÃO

Adaptação de metodologia para a educação básica é premiada


A sorocabana Nathalie Emanuelle Pigoretti Lousan Vial, 32, foi a primeira brasileira a receber uma premiação no Congresso Mundial de Educação, realizado em Dublin, na Irlanda, no mês passado. O trabalho apresentado pela professora aborda a Aprendizagem Baseada em Equipes (ABE), uma metodologia ativa lúdica comumente utilizada no ensino superior. Nathalie utiliza o método na educação básica e atualmente, em seu doutorado em Educação e Saúde, capacita professores da rede estadual de educação para aplicarem a atividade nas salas de aula.

A professora conta que durante seu mestrado começou a desenvolver o projeto da ABE para educação básica e aplicou o método com alunos no 9º ano do Colégio Objetivo. "Eu precisava colocar em prática e a diretoria da escola autorizou. O resultado foi muito satisfatório e outros professores passaram a utilizar também. Com a experiência, escrevi o artigo e enviei para o Congresso de forma despretensiosa", conta. Entre 900 trabalhos inscritos, 27 pesquisadores foram selecionados para apresentar suas pesquisas no evento. Nathalie conta que não sabia que haveria uma premiação e no último dia do Congresso três trabalhos foram anunciados como os melhores, entre eles, o dela. Um pesquisador do Canadá e um de Taiwan também foram escolhidos. O prêmio, conta, é retornar ao evento neste ano com tudo pago pela própria organização do Congresso.

Atualmente, para o doutorado, a pesquisadora capacitou 15 professores da rede estadual para aplicação do método em sala de aula. "Cerca de 20 escolas estão participando da pesquisa e esse método pode ser utilizado em qualquer disciplina", relata. A ABE, explica Nathalie, baseia-se em conceitos de sala de aula invertida, onde os alunos devem estudar os materiais disponibilizados pelo professor antes da aula presencial. Possui fases bem distintas, como questionário individual, questionário em equipes (com feedback imediato), apelação e aplicação de conceitos.

Adaptação

Para comprovar que é possível empregar esse método na rede pública, Nathalie adaptou os materiais necessários, usando EVA, pratos de plástico e adesivos. Ela conta que inicialmente os alunos devem se preparar lendo o material de apoio em casa e depois, já em sala de aula, responder a um questionário sobre o tema proposto. "Neste questionário individual cada pergunta tem cinco alternativas e o aluno pode apostar um ponto em cada alternativa, dividir em duas ou apostar tudo em uma. Depende do quanto ele está confiante na resposta. Cada pergunta vale cinco pontos."

Depois de responder individualmente, as equipes se formam, debatem o tema e voltam ao mesmo questionário, que nesta etapa deve ser respondido em grupo e apenas uma alternativa deve ser escolhida. "Eu faço como se fosse uma raspadinha e depois a sala responde ao mesmo tempo, com plaquinhas, com a alternativa apostou. Se não acertam de primeira não tem problema, apenas a pontuação diminui." Nathalie relata que a pontuação da equipe normalmente é maior do que a pontuação individual, pois o debate entre os alunos desperta mais interesse em relação ao tema proposto.

Com os questionários respondidos e a somatória dos pontos, Nathalie conta que ainda assim o aluno pode debater as respostas e, caso não concorde, pode fazer mais pesquisas em casa e na aula seguinte apresentar seus argumentos na sala de aula. "Tiramos o papel de total autoridade do professor e deixamos o aluno como protagonista. Isso estimula a turma toda a se empenhar mais nos assuntos." Depois cada aluno avalia a atividade, se auto avalia e, se quiser, pode fazer um comentário sobre a metodologia. A pesquisadora destaca que a ABE pode ser utilizada com frequência e é importante que as equipes sejam mantidas.

Nathalie conta que o resultado da aplicação do método nas escolas estaduais será usado em sua tese de doutorado. Para o Congresso Mundial de Educação de 2019 ela pretende apresentar os resultados parciais da aplicação da ABE na rede pública. "Quero mostrar que quando o professor quer levar algo diferente para a sala de aula, o indispensável é o empenho, pois essa metodologia requer poucos recursos financeiros", conclui.