O prazer de acompanhar a majestade
Andrea Alves
[email protected]
Em 1970, ela teve o privilégio de ser a primeira a gravar "Dupla Traição", de Djavan. Naquela ano, sua voz marcante e suave já era conhecida do público brasileiro graças ao sucesso que fizera com a música "Meu Guarda-Chuva", composta por Jorge Ben Jor. Foi por essa canção que todo mundo sabe cantarolar até hoje ("Mas quando comecei a gostar de você, você me abandonou...") e por interpretar músicas como "Pisou na Bola", de Benê Alves, entre outras, que Elizabeth Viana é considerada a rainha do samba-rock. Agora, Elizabeth Viana coloca fervura novamente na carreira de cantora e vai sair em turnê por várias cidades acompanhada da banda sorocabana Batucada Groove. A primeira dessas apresentações acontece amanhã, às 22h, no Depois Bar e Arte. A cantora admite que os shows são um "esquenta" para a produção de um CD, ainda sem previsão de data para gravação, mas que já reserva uma música inédita de Jorge Ben Jor, contou em entrevista ao Mais Cruzeiro.
A cantora descobriu seu talento aos 10 anos e com essa idade já cantava na Rádio Difusora de Assis. Aos 17 anos, a intérprete foi vencedora de um programa comandado por Flávio Cavalcante e chamado "A Grande Chance". "Foi coisa de Deus", ela acredita. "Deus dá os dons às pessoas e me deu o dom de cantar e cozinhar, duas coisas que gosto muito". A conquista nesse programa de televisão permitiu que Elizabeth permanece por cinco na TV Tupi antes de gravar, em 1969, "Meu Guarda-Chuva", canção que a tornou conhecida no estilo que na época era chamado de sambalanço. Na década de 70, além de "Dupla Traição", de Djavan, gravou várias músicas inéditas, ela conta, entre elas "João e Maria", de Chico Buarque, antes mesmo da música ficar conhecida na voz de Nara Leão. "Gravei João e Maria na gravadora do meu primeiro marido. A Globo nos procurou para colocar a gravação em uma novela, mas meu marido não quis e naquele tempo eu fazia tudo o que ele queria", revelou. Rildo Hora, Nelson Cavaquinho, Sivuca e Originais do Samba são ícones da música a quem ela também deu voz.
Há alguns anos, Elizabeth Viana saiu da capital para se instalar no interior, mas nunca perdeu o contato com a música. Em Mairinque, onde morou, abriu uma casa chamada Fepema Music Bar, que se tornou referência para cantores locais. Depois de passar os anos se revezando entre São Paulo e o interior, por fim decidiu fincar suas raízes em uma cidade bem mais tranquila que a capital. "Clima fresco, muito mato... Gosto dessa vidinha de interior. Cheguei a ficar 8 meses em Sorocaba quando minha filha morava aqui, mas a cidade é muito quente, então escolhi São Roque para morar", revela. Foi numa dessas idas e vindas entre capital e interior que a cantora conheceu Jefferson Paes, tecladista da banda Batucada Groove, quando ele ainda integrava um grupo de músicos que tocava forró. Da amizade nascida há alguns anos surgiu a possibilidade de Elizabeth voltar a realizar turnês. "Se eu paro de cantar, fico deprimida. E eu confesso que estava desanimadinha porque queria cantar, mas é tão difícil achar uma banda. Aí eu conversei com Deus e Ele, como sempre, enviou seus anjos, que são esses meninos sorocabanos."
Retomada
A Batucada Groove tem dois anos de vida, mas já conquistou a maturidade para tocar com a rainha do samba-rock. Isso significa que o grupo não teve apenas sorte para acompanhar uma das cantoras mais importantes da música brasileira. Teve também muito talento. É que tocar samba-rock não é apenas ter técnica, avisa Jefferson, é dosar técnica com o que Elizabeth chama de malandragem. "Sem malandragem não é samba-rock", ela diz. "Precisa também ter muito entrosamento entre os músicos e a gente conseguiu isso", diz Jefferson que, em nome da banda, ressalta a empolgação de tocar com uma rainha da música. Para chegar no ponto de acompanhar a majestade, foram meses de ensaio sob a atenção da cantora que, apesar de não tocar nenhum instrumento, tem um ouvido apuradíssimo para detectar qualquer nuance que precisa ser modificada. "Ela não deixa passar nada", admira-se o músico. "E sabe explicar muito bem os detalhes que faltam para cada música". Sobre a banda, Elizabeth comenta: "vai dar muito certo, já está dando porque eles têm muita garra, são maravilhosos".
Para o show de hoje, Elizabeth Viana e Batucada Groove, formada pelos músicos Jefferson Paes (teclado e coro), Thiago Torres (guitarra), Celsão (baixo), Bocão (bateria), José de Sá (percussão e coro) e Danny Koritiake (percussão e voz), vão apresentar músicas do Clube do Balanço, Trio Mocotó, Chico Buarque, João Nogueira, Gonzaguinha, Maria Rita, Rita Lee, Tim Maia, Mart"nália, Wilson Simonal e Vander Lee. "Um mineiro que gosto muito". O resto é surpresa. "A gente pulsa junto. Estou na maior felicidade". A turnê, Elizabeth admite, é uma preparação para a gravação de um CD, com possibilidade de interpretação de uma música nova e inédita de Jorge Ben Jor. "Eu nunca parei de cantar, mas pode-se dizer que é uma volta. Minha vida profissional está sendo remexida", ela brinca. "Minha filha até está fazendo um site para mim", reitera.
Serviço
Show Elizabeth Viana e Batucada Groove
Amanhã, 22h
Local: Depois Bar e Arte (rua Cônego Januário Barbosa, 123)
Entrada: R$10
Informações: (15) 3234 - 7082 ou 8819 - 7973