CRUZEIRINHO

A arte de mostrar os sentimentos através do som


 
 
Leila Gapy 
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À frente vão os pratos, anunciando que a música será tocada. Na sequência vêm os sons das caixas, depois os quadritons, das liras, das timbas, e por último, dos bombos. Seguindo os gestos do maestro, o som ordenado dos instrumentos dão vida à formação. É a fanfarra, composta por cerca de 50 músicos ou mais. Já a Fanfarra do Colégio Monteiro Lobato (Facmol) soma 93 pessoas, todos estudantes do ensino fundamental, que se unem semanalmente para treinar o "barulho" que alegra eles mesmos, e a quem ouve também.
 
O professor de musicalização infantil, Diego Rodrigues de Oliveira, de 22 anos, é quem coloca ordem na criançada. Filho de músicos e formado pelo Conservatório Dramático e Musical de Tatuí "dr. Carlos de Campos", o professor Diego, como é chamado, coordena os alunos há 4 anos, quando propôs a criação do grupo como disciplina extracurricular ao colégio. "Felizmente a ideia foi bem aceita e aqui estamos nós", comemora. As aulas são opcionais, justamente porque música é arte e, segundo o professor, tem que vir do coração, do sentimento, do desejo.
 
"O que é a música? É a arte Divina de mostrar os sentimentos da alma através do som. Você toca, mostra aquilo que está sentindo", define. Como se não bastasse, apesar da pouca idade, o professor se aproveita da dificuldade dos alunos perante os instrumentos e perante a organização do grupo para ensinar sobre a vida. De acordo com Diego, as dificuldades acompanham o ser humano por toda a vida. Mas é a persistência que o faz encontrar a harmonia para viver. Como na música.
 
"Sempre que posso, mostro que no início todo mundo tem dificuldade para tocar. Mas que a insistência possibilita o aprendizado. E que por fim, todos juntos, somos capazes de dar harmonia ao som. Falo que na vida devemos ter a mesma conduta. E persistir nos sonhos", ensina. É esse exemplo que Natália Caroline da Silva, de 14 anos, tem seguido. Ela está na fanfarra há 4 anos. Já tocou timba, mas optou por fazer parte da linha de frente e se apresentar com os pratos. "Eu gosto muito disso", assume.
 
Letícia Fernanda Leite, de 12 anos, está na turma há 2 anos tocando timba. No começo até ensaiou em casa, para não fazer feio na apresentação. "Eu não sabia direito o ritmo, então treinava nas almofadas", admite. Juliana Vieira Paes, de 12 anos, toca lira. Ela escolheu o instrumento depois de observar os colegas. "A lira é mais complexa, me senti desafiada. Hoje estou tranquila", avalia. Já Alan Jackson dos Santos Pereira, de 14 anos, é responsável pela caixa. O rapaz de sorriso sereno se disse mais calmo depois que permitiu a entrada da música em sua vida.
 
"Parece que eu tenho um motivo, uma razão de ser. Tenho compromisso e sei fazer algo", observa. Já Vinícius Rosa Dinis, de 15 anos, já deixou o colégio, mas não a fanfarra, que ingressou desde o começo da formação. E é no quadritom que ele "lava a alma". "Tocar o quadritom, as quatro caixas, me distrai, mostra minha evolução, o amor que a música nos possibilita sentir", garante. E a formação é tão democrática, sem contra-indicação, que até a pequena Bárbara Santos Dias, de 11 anos, com seu pouco mais de um metro de altura, se equilibra para segurar a lira.
 
"Eu quis arriscar. Gosto muito", defende. E lá de longe, onde quer que a fanfarra se organize para tocar, é possível ver o professor, um homenzarrão, balançando as mãos e os braços para lá e para cá. Ordenando quem toca e quando. E demonstrando sentimentos, como o da vontade de que tudo dê certo. E todos o seguem, desejando o mesmo. Pim, pilimpim, pim pim.