Tempo de frio, tempo de pulmão
* Mário Cândido de Oliveira Gomes
O órgão que mais sofre com o frio é o pulmão. A baixa temperatura provoca queda da resistência, maior sensibilidade dos brônquios e facilidade de contaminação pela aglomeração das pessoas. O resultado é uma infinidade de infecções que comprometem o trato respiratório superior (até a orofaringe e traqueia) e inferior (brônquios e pulmões).
Em relação ao aparelho respiratório superior ocorre o resfriado comum (coriza, tosse seca e ardor na garganta), gripe ou influenza (cefaleia, febre, mialgia, tosse, etc), sinusite (cefaleia, coriza, febre), faringite (dor de garganta, febre, tosse seca), amidalite (dor de garganta, febre alta), laringite (rouquidão, tosse seca), laringotraqueobronquite (falta de ar, febre, crises de tosse, estridor e cianose ou cor azulada da pele) e, finalmente, a bronquite aguda (tosse produtiva com catarro, febre, roncos e sibiles, dor no peito).
No trato respiratório inferior surgem ou retornam os quadros de asma brônquica (sibilos expiratórios, falta de ar que piora durante a noite, e nas crianças, a tosse seca que não passa), doença pulmonar obstrutiva crônica (bronquite crônica ou enfisema, com escarro frequente e falta de ar), bronquiectasias (infecções respiratórias repetidas com catarro purulento) e as famosas e sempre comentadas pneumonias. As broncopneumonias e as pneumonias são infecções graves, principalmente em crianças e idosos ou nos imunodeprimidos, como os diabéticos e pessoas com aids.
A infecção do parênquima pulmonar (alvéolos) pode ser dividida em primária, quando os germes são específicos do pulmão (pneumococo, estafilococo, legionela, etc) e secundária (aspirativa), quando os micróbios atingem os pulmões previamente comprometidos (hemófilos, anaeróbios, etc). A pneumonia se manifesta por febre alta, calafrios, falta de ar, tosse produtiva e dor à respiração, quando existe comprometimento da pleura. O tempo de evolução varia de 10 a 20 dias, com possibilidade de complicações, como abscesso pulmonar, pleurite, derrame pleural, fibrose pulmonar, etc.
O diagnóstico é realizado com radiografia simples e exames de sangue, como hemograma, hemocultura e sorologia para a identificação dos germes, além de bacterioscópico e cultura de escarro. O tratamento depende do agente etiológico, sendo utilizados os numerosos antibióticos, como é o caso da penicilina e seus derivados, nas infecções por pneumococos. Recentemente apareceram cepas de pneumococos resistentes ao grupo das penicilinas, em virtude do uso inadequado de antimicrobianos.
A gripe pode ser tratada com fosfato de oseltamivir, que reduz a duração dos sintomas, a gravidade e as complicações. É indicado para pessoas idosas ou com baixa resistência. A maioria dos casos graves necessita de fisioterapia, oxigênio e reidratação, pois um tratamento inadequado ou tardio possibilita o aparecimento das temíveis complicações, como o abscesso pulmonar.
Uma forma particular de pneumonia é a pneumonite intersticial, que pode ser provocada por germes (Iegionela, micoplasma, toxoplasma etc) ou causada por doenças reumáticas, como o lúpus, artrite reumatóide etc. O resultado final da pneumonite é a fibrose dos alvéolos, que impede as trocas gasosas entre o sangue e os pulmões, levando à insuficiência respiratória (falta de ar progressivo). O tratamento é realizado com cortisona, que somente resolve o problema em 20% a 30% dos casos, sendo a sobrevida pequena. Em alguns casos pode ser indicado o transplante de pulmão.
Dessa forma, os meses de frio são propícios para a aquisição de infecções do aparelho respiratório, desde a mais simples coriza até quadros extremamente graves. O importante, nesta época do ano, é a prevenção por meio do aumento da resistência do organismo contra as infecções (alimentação correta, vitamina C, vacinas específicas contra a gripe, hemófilos e pneumococos), e, se possível, evitar os ambientes fechados e poluídos (cinemas, cultos religiosos, assembleias, etc).
* Artigo extraído do livro "Doenças, conhecer para prevenir" (volume 2 - Ottoni Editora -págs. 169 a 170), de autoria do médico infectologista Mário Cândido de Oliveira Gomes, falecido aos 77 anos no dia 6 de junho de 2013.