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Doenças das valvas do coração


Sérgio Augusto Latuf

O nosso coração possui quatro câmaras, os átrios (direito e esquerdo) e os ventrículos (direito e esquerdo). Os átrios ficam na parte superior do coração e os ventrículos, na parte inferior.
As câmaras esquerdas do coração, são maiores e mais grossas que as câmaras direitas, pois o lado esquerdo do coração é responsável pela irrigação da maior parte do nosso corpo (chamada de grande circulação) e o lado direito é responsável pela irrigação dos pulmões (chamada de pequena circulação). Existem quatro valvas no coração e cada uma delas tem a função de organizar e direcionar o fluxo de sangue, de modo que o coração exerça a sua função.
No lado direito do coração, entre o átrio e ventrículo direito, existe a valva tricúspede e na saída do ventrículo direito, a valva pulmonar. Quando a valva tricúspede está aberta, o átrio direito contrai e envia sangue para o ventrículo direito e quando está fechada, o ventrículo direito contrai e envia o sangue para circulação pulmonar (pelas artérias pulmonares). Quando a valva pulmonar está aberta (consequentemente a valva tricúspede está fechada), o sangue segue em direção aos pulmões e quando fecha, o ventrículo direito está "vazio", permitindo que a valva tricúspede abra para enchê-lo e, assim, formar o ciclo cardíaco.
Em relação ao lado esquerdo o raciocínio é parecido, isto é, no lado esquerdo do coração, entre o átrio e ventrículo esquerdo, existe a valva mitral e na saída do ventrículo esquerdo, a valva aórtica. Quando a valva mitral está aberta, o átrio esquerdo contrai e envia sangue para o ventrículo esquerdo e quando está fechada, o ventrículo esquerdo contrai e envia o sangue para todo o nosso corpo (pela artéria aorta). Quando a valva aórtica está aberta (consequentemente a valva mitral está fechada), o sangue segue em direção a toda circulação e quando fecha, o ventrículo esquerdo está sem sangue em seu interior, fazendo com que a valva mitral abra para enchê-lo e assim formar o ciclo cardíaco.
Os problemas que acometem as valvas cardíacas, em geral estão associados a insuficiência valvar, estenose ou ambas as situações.
Quando existe a insuficiência de uma valva, geralmente parte do sangue que sai de uma das câmaras do coração, acaba voltando para dentro dela, pois existe um fechamento incompleto e incompetente da valva. Na estenose valvar, geralmente o problema está ligado com uma incapacidade da valva de se abrir completamente (estreitamento da valva), fazendo com que seja comprometida a saída total do sangue da respectiva câmara. Existem situações que a valva pode apresentar estenose e insuficiência ao mesmo tempo (chamada de dupla lesão valvar).
Existe uma particularidade em relação a valva mitral, conhecida como prolapso valvar mitral. O termo indica uma anormalidade, em que um de seus componentes, chamado de folheto, se desloca (prolapsa) em direção ao átrio esquerdo, no momento em que o ventrículo esquerdo se contrai para ejetar o sangue para o todo o organismo. Há uma correlação muito estreita entre o prolapso valvar mitral e síndrome do pânico. O prolapso valvar mitral pode acometer uma porcentagem significativa da população, sendo mais frequente no sexo feminino e que muitas vezes não é preocupante e não requer tratamento, exceto se a pessoa apresentar sintomas, associados a ataque de pânico.
As valvas do coração podem ser acometidas por anormalidades, dependendo da causa do problema, existe uma tendência a ser acometida uma ou outra valva em particular.
Causas mais comuns de valvopatias:
Febre Reumática: Normalmente é causada por uma infecção não tratada, como dor de garganta. Por um erro imunológico, os anticorpos que o organismo produz para combater a infecção, "atacam" as valvas do coração, causando sua disfunção. A febre reumática costuma ocorrer em pessoas de 5 a 15 anos, mas os sintomas de doença nas valvas cardíacas causados por ela, podem se manifestar após anos.
Endocardite Infecciosa: É uma infecção grave que pode ser fatal. Ela ocorre quando os germes (especialmente as bactérias) entram na corrente sanguínea durante procedimentos dentários, cirurgias, uso de medicamentos intravenosos ou infecções graves e atacam as valvas cardíacas. Isso pode perfurar a valva cardíaca ou cicatrizar o tecido valvar, causando disfunção.
Outras causas da doença nas valvas cardíacas incluem: doença das artérias coronareas (entupimentos), infarto do miocárdio, doenças do músculo do coração, doença sexualmente transmissível (Sífilis), hipertensão arterial, aneurisma da aorta etc.
O tratamento da doença cardíaca valvar depende da valva acometida, do grau de comprometimento dessa valva, do tipo de doença que a comprometeu, do tempo em que o problema se instalou e de outras variáveis.
O tratamento pode ser desde tratamento medicamentoso em casos mais brandos, até a necessidade de troca da valva por meio de cirurgia em casos mais avançados. As próteses valvares podem ser biológicas (geralmente de origem porcina ou bovina) e metálicas. As biológicas possuem uma duração menor como desvantagem, assim como possuem a vantagem do paciente não precisar usar anticoagulantes. As de origem metálica têm uma duração maior, mas possuem a desvantagem da necessidade de uso contínuo de anticoagulantes.
Em alguns casos, existe a opção de ser feita uma correção cirúrgica da valva acometida, sem a necessidade de troca (chamada de valvoplastia).
Mais recentemente, surgiram os tratamentos de problemas valvares por meio de cateterismo cardíaco, com a vantagem de ser um procedimento menos invasivo que a cirurgia.
*Sérgio Augusto Latuf é médico cardiologista