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Câncer de tireóide



Tatiana Camargo Pereira Abrão

Como endocrinologistas, de costume, sempre avaliamos a glândula tireóide. Como dissemos no artigo anterior, disponível no site do jornal, nódulos tiroidianos são comuns, principalmente em mulheres, mas temos feito com certa frequência diagnóstico de carcinoma de tireóide e, graças a Deus, todos com bom prognóstico até agora.
Os carcinomas de tireóide acometem de 2% a 5% das mulheres no mundo, sendo menos de 2% nos homens, com um aumento em sua incidência de 1% ao ano. No nosso país, aparece no quinto lugar entre as brasileiras, sendo que sua incidência é maior nas regiões Sudeste e Sul. A faixa etária mais acometida é entre 25 a 65 anos. O único fator de risco comprovado é irradiação prévia na região do pescoço e exposição a radiação prévia, mas alguns estudos estão verificando relação com ingestão ou falta de iodo, e fatores alimentares (ingestão de peixes, frutos do mar), genéticos e ambientais.
Os carcinomas podem não apresentar sinal ou sintoma nenhum, sendo um achado de exame clínico ou de imagem, mas eventualmente pode apresentar os seguintes sinais ou sintomas: Nódulo ou massa na região anterior do pescoço, com aparecimento de gânglios ou não, que pode apresentar aumento de volume rapidamente; dor na região deste nódulo, podendo irradiar para o pescoço ou ouvidos; voz rouca e outras alterações vocais persistentes; dificuldade para engolir, ou dificuldade para respirar; tosse constante que não melhora com o tratamento.
Os dois tipos mais comuns de carcinoma de tireóide são o carcinoma papilífero e o carcinoma folicular. Estes tipos de tumores são carcinomas diferenciados, que se desenvolvem a partir das células foliculares da tireóide. Nestes tipos de câncer, as células se parecem muito com o tecido tireoidiano normal quando vistas sob um microscópio.
O carcinoma papilífero corresponde de 70% a 85% dos tumores de tireóide. Em geral apresentam crescimento muito lento, sendo muito raro disseminar para os gânglios do pescoço, e na grande maioria das vezes em apenas um lobo da glândula.
O carcinoma folicular corresponde de 10% a 15% dos carcinomas de tireóide, sendo menos comum. Este tipo de carcinoma pode se disseminar para outros órgãos, como ossos e pulmões.
Podem haver ainda outros tipos de carcinomas de tireóide: Carcinoma de células de Hurtle (3% dos carcinomas de tireóide, subtipo do carcinoma folicular); Carcinoma medular (5% dos carcinomas, mais agressivos, derivados das células C da tireóide, podem ser ocasional ou hereditário); Carcinoma anaplásico (2% dos carcinomas, raros, altamente invasivos, indiferenciados e metastáticos); Linfoma de tireóide (incomum, derivado dos linfócitos, células do sistema imunológico); Sarcoma de tireóide (raro, derivado das células de sustentação da glândula).
Quando se tem suspeita de nódulo ou câncer de tireóide, deve-se procurar um endocrinologista, o qual fará exame físico, conversará sobre sua história familiar, fatores de risco, solicitará exames laboratoriais para ver função tiroidiana e exames de imagem, como a ultrassonografia.
Na ultrassonografia, inclusive Doppler, consegue-se dar características do nódulo e de sua vascularização, dizendo até mesmo se ele é suspeito pra carcinoma ou não (critério de Chammas), além de outros dados como tamanho, bordas, quantidade e se os gânglios linfáticos estão aumentados e suas características. Caso seja necessário, ou seja, o nódulo ser suspeito, ou maior que um centímetro, o exame essencial para o diagnóstico é a punção biópsia com agulha fina, de preferência guiada por ultrassonografia.
Na punção biópsia com agulha fina, o médico utiliza uma agulha muito fina para aspirar algumas células do tumor, que são posteriormente enviadas para análise em um laboratório de patologia.
Aproximadamente 70% das biópsias por agulha fina mostram que o nódulo é benigno. O câncer é certamente diagnosticado em apenas cerca de 5% das aspirações por agulha fina, e em algumas vezes não se obtém resultados conclusivos, sendo necessária a retirada cirúrgica do nódulo e biópsia cirúrgica, intraoperatória, onde será concluído o diagnóstico de carcinoma ou não e se haverá retirada de toda a glândula e dos gânglios cervicais se necessário.
O tratamento do carcinoma de tireóide é cirúrgico, sendo feita a retirada total da glândula, de preferência pelo cirurgião de cabeça e pescoço, com posterior controle com cintilografia de corpo inteiro (PCI), iodoterapia (se for papilífero ou folicular) e o acompanhamento com endocrinologista após todo processo para reposição hormonal tiroidiana; exames de controle são necessários periodicamente.
A recidiva em carcinomas diferenciados é baixa, em torno de 10% em vários anos de seguimento, e a mortalidade é menor que 2%. Quando detectado, retirado e tratado precocemente, o paciente pode ser curado, principalmente nos carcinomas papilíferos.
Caso tenha algum sintoma, história familiar ou dúvidas, procure um endocrinologista ou seu médico de confiança.
Dra. Tatiana Camargo Pereira Abrão - Endocrinologista e Nutróloga pós-graduada em Medicina Esportiva CRM 95121- SP