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Andropausa: hipogonadismo tardio



Tatiana Camargo Pereira Abrão

O processo de envelhecimento masculino é conhecido como andropausa, ou, mais apropriadamente, hipogonadismo masculino tardio. Durante anos, estratégias de reposição hormonal visavam prioritariamente o tratamento de mulheres na menopausa. No entanto, o uso de terapia de reposição de testosterona para prevenir e tratar aspectos da andropausa ganhou o interesse de pesquisadores e clínicos, pelo aumento da porcentagem de homens mais velhos, mundialmente.
O envelhecimento masculino é acompanhado de sinais e sintomas que lembram a falta de hormônio masculino em jovens adultos, e apresentam correlação com baixos níveis da testosterona. Alguns estudos mostram que há uma diminuição parcial dos níveis de testosterona com o envelhecimento. Usando como base homens de 40 a 70 anos, acompanhados por um prazo de por sete a dez anos, há uma queda de testosterona total em 1,6% ao ano, e da biodisponível (que mais age nos tecidos sensíveis) em 2% a 3% ao ano.
O diagnóstico do hipogonadismo tardio deve ser baseado nos sintomas clínicos e na análise dos exames sanguíneos com dosagens de testosterona abaixo do nível mínimo de jovens adultos, dosados no período matinal. É importante salientar que a deficiência de testosterona pode ainda ser decorrente de uma alteração da função dos testículos ou da hipófise, que é a glândula que estimula a produção hormonal dos testículos. Por isso é importante, antes de iniciar a terapia hormonal, investigar as causas desta deficiência, pois o tratamento vai depender desse diagnóstico.
Os principais sintomas e sinais clínicos do hipogonadismo masculino tardio são: diminuição da libido (desejo sexual) e disfunção erétil; diminuição de pelos sexuais; depressão, diminuição do humor, do bem estar geral e do prazer de viver; sentimento de tristeza ou irritação; diminuição da capacidade cognitiva (raciocínio, memória, aprendizado; diminuição do tecido muscular, e da força e resistência dos músculos; perda de altura; aumento do tecido adiposo total e redistribuição de gordura, com acúmulo principalmente abdominal (visceral); aumento do colesterol ruim e resistência insulínica; ostopenia e osteoporose (diminuição da massa óssea); diminuição do volume testicular; redução das habilidades na prática de esportes; insônia ou falta de energia, com facilidade de adormecimento após o jantar; aumento da sudorese; e piora na performance de trabalho.
A sintomatologia, ainda que lembre os sintomas de baixo hormônio masculino do jovem, é inespecífica e multifatorial. Devido à baixa especificidade das manifestações clínicas, é necessária a presença de dosagem de testosterona plasmática abaixo do limite inferior observado em população jovem, para que se possa confirmar o diagnóstico de hipogonadismo masculino tardio.
Como podem ocorrer variações semanais na dosagem de testosterona, principalmente no homem mais velho, cujos níveis de testosterona flutuam entre o limite baixo do normal e levemente abaixo do normal, seria bom realizar pelo menos duas dosagens de testosterona para ser confirmado o diagnóstico.
O tratamento só deve ser iniciado quando não houver contraindicação, como tumor de próstata ou de mama masculina. O objetivo do tratamento em homens com deficiência de hormônio masculino é manter seus níveis no sangue dentro da faixa considerada normal (e com melhora dos sintomas clínicos).
A reposição pode ser feita com medicações injetáveis, orais, em adesivo, em gel ou implantes, porém nem todas são disponíveis no Brasil. Existem em nosso país medicações injetáveis para administração de testosterona de curta e longa duração. As de curta duração são administradas a cada duas ou três semanas e a de longa, a cada três meses em média. Em qualquer caso a frequência das injeções deve ser individualizada de acordo com as necessidades do paciente, conforme avaliação do médico assistente. Temos também disponíveis medicamentos para administração de testosterona sob forma de gel, que é absorvido através da pele e pode ser aplicado até diariamente, se for necessário.
Não há nenhuma evidência científica de que o uso de testosterona em doses adequadas e para quem tem indicação possa se associar a aumento de incidência de câncer de próstata. Pacientes com diabetes podem ser tratados com testosterona, o que pode auxiliar inclusive no próprio tratamento do diabetes, pela melhora da massa muscular, do metabolismo basal e diminuição da gordura corporal, desde que haja real deficiência deste hormônio e na ausência de contraindicações. Porém quem não tem deficiência hormonal, não se beneficia com a reposição. O excesso de testosterona traz tantos ou mais malefícios até do que a sua falta.
Níveis elevados de testosterona se associam à maior propensão ao diabetes, aumento da gordura abdominal, aumento do volume da próstata, diminuição do colesterol bom (HDL), aumento do ruim (LDL), infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral (derrame), apneia do sono, aumento dos eritrócitos e hipertensão arterial. Do mesmo modo, temos estudos científicos que mostram aumento de mortalidade, principalmente por problemas respiratórios e cardiovasculares, em homens com níveis de testosterona abaixo da normalidade. Um estudo mostrou que a terapia com testosterona nesses homens com hipogonadismo é capaz de reduzir a mortalidade.
Em todo caso, sempre é aconselhável procurar seu médico, seja endocrinologista, seja o urologista, para diagnóstico, acompanhamento e tratamento do hipogonadismo, caso se tenha os sintomas de andropausa.
Tatiana Camargo Pereira Abrão é endocrinologista, nutróloga, pós-graduada em Medicina Esportiva e Nutrologia Esportiva