CULTURA

Jovem de Votorantim é destaque em concurso


Seu olhar para o mundo é traduzido em imagens. Ela afirma que enxerga fotografia 24 horas por dia e esse é o recurso que utiliza quando quer comunicar algo importante, ou mesmo ajudar alguém. "A fotografia é a minha linguagem", justifica a votorantinense Paula Mariane Silva da Costa, 18 anos, que teve duas de suas fotos selecionadas entre as 50 melhores do mundo na categoria Jovem, pelo concurso de fotografias Sony Photography Awards 2016. O mérito de ter fotos reconhecidas mundialmente dá mais força para o trabalho que Paula vem desenvolvendo de forma voluntária em Sorocaba, onde já formou mais de 200 adolescentes na oficina Jovem Cidadão, oferecida gratuitamente pelo Grupo Imagem - Núcleo de Fotografia e Vídeo.
 
Dos 50 selecionados no concurso, apenas dez seguem para a final. Paula não sabe qual foi sua classificação, mas para ela ter duas fotos entre as melhores já é uma grande conquista. "Soube que teve seis mil inscrições, de 13 países", disse. Ainda conforme Paula, ela seria a única participante a ter duas fotos escolhidas. As fotografias selecionadas, The soldier e Garoto de São Benedito, demonstram o olhar social da autora. "A do soldado fotografei no 28º Batalhão de Infantaria Leve, em Campinas", conta ela, que está no segundo ano de jornalismo na Puccamp.
 
Paula conseguiu entrar no Batalhão quando estava fazendo estágio de Correspondente de Assuntos Militares, promovido pelo exército brasileiro para estudantes de jornalismo que pretendem fotografar áreas de conflito, que é o desejo de Paula. "Acho fundamental a fotografia nessas áreas, poder mostrar um lado que as pessoas de outras localidades não saberiam se não estivesse alguém lá, registrando. Acredito que é uma forma de dar "a voz", no sentido fotográfico, a pessoas invisíveis."
 
Já a outra imagem, Garoto de São Benedito, foi captada pela fotógrafa em Aparecida do Norte. "E se não me engano era dia de São Benedito", comenta.
 
Os vencedores do concurso serão anunciados no dia 21 de abril em cerimônia de gala em Londres e as imagens vencedoras e pré-selecionadas estarão à mostra no marco histórico de Londres, Somerset House, no dia 22 abril. Os trabalhos também serão publicados na edição de 2016 do livro Photography Awards Sony Mundial. As imagens podem ser vistas na galeria do site da World Photography Organisation: www.worldphoto.org.
 
 
Fotografando com os olhos
 
 
A história de Paula Mariane com a fotografia começou como a de alguém que tem um amor platônico. Desde pequena já era uma observadora atenta das coisas a seu redor e tinha muita vontade de registrar o que via, da forma como via, mas não tinha condições financeiras de ter uma máquina. A família toda sabia disso e, um dia, um primo a presenteou com uma máquina. Paula já estava com 14 anos e correu para fazer o seu primeiro curso de fotografia, em Votorantim. Em um dos passeios, surgiu aquilo que chamam de pedra no meio do caminho. O que a fez a pensar, pela primeira vez, em desistir. "Logo na segunda saída do curso, estava andando em uma trilha quando sofri um acidente. Caí num poço muito fundo e acabei me afogando... Quem me puxou foi minha professora de fotografia, só que perdi a única câmera que eu tinha", conta. "Fico emocionada de falar porque sei da dificuldade que passei."
 
Depois do acidente Paula disse que tinha duas escolhas: ou terminava o curso sem a câmera ou desistia. Foi aí que pensou na possibilidade de parar. No entanto, a fotografia falou mais alto. "Eu continuei os estudos sem a câmera", lembra.
 
Meses depois, ela conseguiu com custo comprar uma câmera usada. "Foi quando entrei no Jovem Cidadão, do Grupo Imagem, e comecei a crescer ali. Depois de aluna me tornei assistente e hoje sou professora e coordenadora do projeto."
 
Foi então que decidiu participar pela primeira vez de um concurso, de forma despretensiosa. Aí veio a classificação. "Além de dar a visibilidade ao meu trabalho, incentiva meus alunos a participarem também, a verem que podem conseguir. Quando estudamos fotografia, estudamos fotógrafos famosos, já com a vida feita, mas quando alguém da nossa comunidade consegue projeção internacional, e a pessoa está do seu lado, é diferente. Isso motiva os outros", diz.
 
Paula considera importante a iniciativa dos organizadores do concurso em criarem uma categoria Jovem. "Acredito que nossa geração tem muito potencial. As pessoas veem que a gente é jovem e pensam que não sabemos nada, mas temos garra, estudamos muito e corremos atrás dos nossos direitos."