SOROCABA E REGIÃO

Cãibra é um problema a ser investigado


De repente, um músculo se contrai sem que você tenha decidido fazer isso. Junto com o movimento, uma dor forte. Para quem sente isso pela primeira vez, as cãibras são assustadoras. Uma sensação de impotência diante do próprio corpo, que faz movimentos involuntários, mais comumente nas panturrilhas (batata da perna), coxas, pés e mãos. "Mas outros músculos, como os do abdome, pescoço, braços e coluna também podem ser acometidos pelas cãibras", explica o médico Daniel Pelegrino dos Santos, cardiologista e médico do esporte da Unimed. O problema, em geral, não é sinal de nada grave, mas causa muito desconforto.

De acordo com Daniel, as pessoas que mais sofrem com as cãibras costumam ser os praticantes de atividades físicas, especialmente as de grande intensidade e com muitos movimentos repetitivos. Porém, as mesmas condições se aplicam a quem realiza movimentos constantes de um determinado músculo por outro motivo, como o trabalho, por exemplo. Se essa situação acontece em ambientes de altas temperaturas -- seja o interior de uma fábrica ou a exposição ao sol forte -- as chances de desenvolver o problema aumentam bastante. Não existem dados concretos que apontem, por exemplo, uma maior incidência em homens ou mulheres ou em pessoas de determinada faixa etária. "São várias as teorias para tentar explicar o desenvolvimento das contrações. Fadiga muscular, desidratação, alterações nos sais minerais, extremos de temperatura e distúrbios metabólicos, como diabetes, hipotireoidismo, alcoolismo e hipoglicemia, por exemplo, podem causar uma maior excitabilidade das fibras musculares e consequentemente o surgimento das cãibras", explica o médico.

Em relação à fadiga muscular, uma maneira eficiente de evitar ou ao menos minimizar a ocorrência de cãibras é o alongamento. Quem pratica exercícios deve alongar os músculos antes e depois do treino. Mas quem não é esportista também deve apostar na técnica. "Hoje já sabemos que é importante alongar pelo menos três vezes por semana", ensina Daniel Santos. "Mas é importante salientar que não vai ser de um dia para o outro que o alongamento trará resultados. É preciso pelo menos algumas semanas com alongamentos diários para o músculo ter mais resistência às contrações involuntárias", completa. A desidratação -- seja no exercício ou fora dele -- também deve ser combatida com a ingestão de muito líquido, que protege os músculos das contrações involuntárias. De acordo com o médico, fazem ainda parte do rol de causas prováveis dos episódios de cãibras as alterações no processo de armazenamento de cálcio, magnésio e sódio no organismo. O mais interessante é que o potássio -- cuja sua deficiência está popularmente atrelada às cãibras -- está fora dessa lista. "Baixos níveis sanguíneos de potássio podem até causar contrações involuntárias, mas seu principal sintoma é fraqueza ou paralisia muscular. O cálcio e o magnésio é que são causas mais importantes de cãibras."

Situações que também podem causar cãibras são doenças neurológicas, alterações estruturais como pé chato e hiperextensão do joelho, insuficiência renal em hemodiálise e cirrose hepática, deficiência de vitaminas do complexo B e anemia. Grávidas também podem sofrer mais com as cãibras, exatamente pela queda de taxas de magnésio no organismo. Em pessoas acima dos 60 anos, cãibras frequentes podem ser sinais de aterosclerose, com diminuição da circulação sanguínea para determinado grupamento muscular por obstrução do fluxo por placas de colesterol. A ingestão de alguns medicamentos, principalmente os diuréticos, também pode provocar cãibras.
Quase sempre não é nada grave

Não é possível estimar uma quantidade de cãibras que possa ser considerada "normal" ou menos preocupante. Na verdade, quase sempre os episódios não significam nenhum problema grave de saúde. "Existe um grupo de pessoas que apresentam cãibras noturnas, principalmente nos membros inferiores. Em geral, elas apresentam a chamada cãibra noturna idiopática, sem causa aparente. São pessoas normalmente com história familiar e que não se consegue detectar nenhum tipo de alteração que justifique o quadro", explica o médico Daniel Santos. Para estas, um alongamento antes de dormir, dar preferência a alimentos ricos em cálcio e magnésio, manter uma boa hidratação ao longo do dia e evitar o sedentarismo podem ajudar.

No momento da cãibra, a única alternativa é massagear o local e esperar a contração involuntária passar. Depois disso, é bom também tentar alongar o músculo afetado. Comer uma banana -- a solução que muita gente sugere nessa hora -- não é tão eficiente assim. "A banana é importante fonte de carboidratos e sais minerais e pode contribuir para um menor desenvolvimento das contrações, mas isso não parece estar ligado à presença de potássio. Bebidas esportivas, que contem carboidratos e sais minerais em sua formulação, além de minimizar os riscos de desidratação e hipertermia, são muito mais indicados do que o consumo de banana", ensina Daniel Santos.

O problema deixa de ser comum e passa a preocupar quando a frequência e intensidade das contrações passam a prejudicar a qualidade de vida e ou o desempenho esportivo. Se isso acontecer, a orientação é procurar um médico. "Devemos pesquisar se realmente existe uma causa para o desenvolvimento das cãibras e tratá-la quando possível. Na ausência de uma causa detectável, devemos evitar os principais fatores desencadeantes e iniciar um trabalho específico preventivo."