SOROCABA E REGIÃO

Amizade afasta a solidão e ganha importância durante a velhice


Aquela famosa frase que diz que "quem tem amigos, tem tudo" passa a fazer ainda mais sentido com o passar dos anos, com a chegada da terceira idade. Um estudo publicado em 2017 pela revista científica Personal Relationships mostra que as amizades tendem, ao longo dos anos -- e sobretudo na velhice --, a serem mais importante para o bem-estar de uma pessoa do que até mesmo suas relações familiares.

De acordo com a psicóloga Vivane Dias Júlio, as amizades sólidas e confiáveis são mais determinantes para a boa saúde e a felicidade de um indivíduo idoso do que sua relação com parentes. "Lógico que é muito importante manter os vínculos familiares, mas família não é uma escolha. Já os amigos são escolhas nossas, são pessoas que conquistaram a nossa confiança", afirma. Desenvolvido por estudantes da Universidade Estadual de Michigan, dos Estados Unidos, o estudo baseou-se em duas pesquisas, que envolveram 278.534 pessoas.

A ausência de convívio social, alerta Viviane, pode causar severos efeitos negativos na capacidade cognitiva geral, além de depressão. As pessoas que estão em contato com as outras, afirma a psicóloga, podem ser mais inclinadas a ter hábitos saudáveis, a ajuda dada ou recebida contribui para o aumento de um sentido de controle pessoal, tendo uma influência positiva no bem-estar psicológico de cada um. A interação social é um fator de proteção no envelhecimento ativo e saudável. "Muitas vezes o idoso chega nessa fase da vida e precisa lidar com a viuvez, com os filhos já criados e ter amizades fortes ocupam esses vazios", afirma.

Amizades novas e antigas

De acordo com Viviane, tão importante quanto manter as amizades antigas, também é saudável estar aberto para estabelecer novas relações. Visando justamente encontrar novos amigos e ter uma vida mais ativa, as amigas Nilcea Guidolin Zambon, 70, Bernardina Pereira Borges, 67, Edileuza Pinheiro Silva, 67, e Edinalva Pinheiro dos Santos, 68, passaram a frequentar o Clube do Idoso de Sorocaba.

Cada uma das aposentadas foi ao local por conta própria e lá puderam encontrar pessoas que passaram a fazer parte da rotina. "Os amigos que fazemos acabam indo para outros círculos de amizade também", afirma Nilcea, que frequenta o clube desde a sua inauguração, em 2013. Bernardina conta que procurou o espaço para praticar atividades físicas, mas acabou encontrando a chance de criar novos vínculos e espantar a solidão. "O tempo aqui passa muito rápido. A gente se diverte bastante."

Edinalva e Edileuza também contam que as festas organizadas no local reforçam as amizades criadas dentro do clube. O grupo de amigas costuma organizar viagens e passeios para aumentar ainda mais a convivência. "Enquanto a gente estiver vivo tem que aproveitar ao máximo junto com as pessoas que fazem bem para a nossa vida", diz Edinalva.

Já a aposentada Irani de Jesus Marques Amaral, 65, conta que conserva até hoje amizades que fez na adolescência e uma delas é com a amiga Dirce Soares de Mello, 77. "Somos companheiras há mais de 50 anos e sempre torcemos pelo bem da outra e nos fortalecemos." Ela recorda que a amiga enfrentou um momento difícil quando perdeu totalmente a visão em decorrência da diabetes e a forma como Dirce conseguiu lidar com o problema serviu de lição e incentivo para Irani. "Nós não nos vemos com tanta frequência, mas sempre que nos encontramos é muita alegria e não falta assunto", relata.

Irani também organiza excursões em que o principal público é da terceira idade e garante que nos 23 anos organizando passeios fez muitos amigos que permanecem em sua vida. "Não existe coisa melhor do que saber aproveitar a vida junto com as amizades que a gente encontra pelo caminho", afirma. Viúva há 19 anos, a vida ativa, que inclui muitos bailes, foi o que trouxe a Irani a possibilidade de encontrar um novo amor. Ela conheceu o atual companheiro em um baile de Natal e há 11 anos estão juntos.