Antes que me esqueça

No blog 'Antes que eu me esqueça' autor relembra amizade


Não tenho ideia de onde vem a frase, mas tenho-a ouvido a vida inteira. A gaiatice é evidente. Imagino quando alguém quer impressionar outro alguém, mostrando algo que não é tão sólido, mas deixaria o súdito da rainha boquiaberto uma hipótese inimaginável, dada a fleuma dos britânicos.

A penúltima vez que a ouvi foi dita pelo Coronel Nilton Freixinho, na ponte que une Paraguai e Brasil sobre as comportas do vertedouro da Usina Hidrelétrica de Itaipu, lá pelos anos oitenta, quando ele explicava a complexidade engenheirística da obra monumental, para uma delegação do Instituto Real de Engenharia do Reino Unido.

Com seu inglês perfeito, Freixinho provocou risos ao dizer: "o planejamento e a execução desta Hidrelétrica, a maior do planeta terra, não é para inglês ver". Silenciou por alguns segundos e proclamou com indisfarçável orgulho: "É para ser vista pelos ingleses". Foi demoradamente aplaudido.

Tive a honra, a satisfação, a sorte de conhecer, colaborar e fruir, por 15 anos, da companhia diária desse brasileiro extraordinário. Homem inteligente, culto, disciplinado, estudioso, comunicador talentoso. Após um dia de intensa atividade, recolhia-se às oito horas da noite, dormia cinco ou seis horas, levantava-se e, no silêncio da madrugada, dedicava-se a pesquisar e escrever.

Meses após aposentar-se lançou o primeiro de uma série de cinco ou seis tomos, abordando temas cruciais da vida política, da História, de heróis da nacionalidade, das vitórias diplomáticas do nosso país, e análise dos conflitos diplomáticos mundiais. Teve, sempre, o respaldo da Livraria Kosmos Editora , da Biblioteca do Exército Editora, ganhou prêmios e mereceu honrarias da Academia Brasileira de Letras.

Freixinho me estimulou muito a escrever e publicar meus livrinhos, perseverando na solitária rotina de ler e escrever.

Em uma clara e bela manhã de outono, evoco esse amigo com alegria e muita saudade. Como gostaria de compartilhar com ele, minha participação neste espaço.

Agradecido a Deus pela oportunidade que tenho, de me comunicar com meus conterrâneos, e com o mundo, ao Freixinho e ao companheiro de profissão José Carlos Finéis dedico este pensamento do teólogo Reinhold Niebuhr, que encontrei na abertura do livro de Thomas Cabill: "Como os irlandeses salvaram a civilização"- Editora Objetiva, 1995. "Nada que valha a pena pode ser realizado durante a vida; portanto, seremos salvos somente pela esperança. Nada que seja verdadeiro, belo ou bom faz pleno sentido em qualquer contexto histórico imediato; portanto, seremos salvos somente pela fé. Nada que fizermos, por mais virtuosos, poderemos fazê-lo sozinhos; portanto, seremos salvos somente pelo amor".

PS: Antes que me esqueça: agradeço à minha esposa, Lucia Veneu Brandão Nogueira, minha parceira na produção do blogue. Ela foi secretária do Coronel Freixinho e mereceu esta referência em um dos livros dele: "Agradecimento Lucia Veneu Brandão pela segunda vez, em minhas atividades de escritor e historiador, contei com o apoio da excelente profissional Lucia, que teve a seu cargo a revisão do manuscrito e a digitação integral da presente obra, fazendo-o com elevado senso de responsabilidade e inexcedível zelo".

PS2: Alguns títulos dos livros do Freixinho: - "O poder permanente da História"- 320 páginas; - "500 anos depois de Gabriel Soares de Souza"- 325 páginas; - "Brasil os difíceis caminhos da integridade" 448 páginas.