O controle não intencionado da inflação (II)
Por Yan Cattani, Economista do Blog Agenda Econômica
Retomando o post anterior: qual é a dinâmica atual da inflação e o que isso significa?
Em sua última aferição, a de março, vimos o IPCA rodando na casa de 2,68%, com deflação em Alimentação e bebidas (-1,63%) e em Artigos de Residência (-1,04%). Outros grupos como Habitação e Transportes mostraram alta de 4,15% e 5,60%. Bastante diferente da análise de janeiro de 2016, certo? Até parece outro país.
Se olharmos então os núcleos, aí então a diferença é acentuada: 2,76% no primeiro expurgo (aquele de alguns itens de alimentação e administrados), 4,16% com expurgo dos administrados e alimentação no domicílio. Nas médias aparadas e suavizadas os valores são de 3,34% e 2,93%. São valores incrivelmente baixos, dado nosso histórico.
Fato é que, além do efeito de aumento de juros no ciclo monetário de 2015-2016 terem provocado um forte comedimento do consumo, o impacto nos preços de diversos produtos, sobretudo de alimentos, foi excepcional. E, além disso, esses bens tiveram ainda uma ajuda adicional decorrente de uma grande oferta de grãos no último ano – e ao que tudo indica, neste também, conforme mostram as avaliações de safra recente.
Ou seja, o que pode estar ocorrendo é uma espiral de preços negativa onde: 1) há excesso de alguns itens de oferta, que trazem os preços para baixo; 2) o consumidor está receoso e não consome como antes; 3) produtores baixam ainda mais preços para estimular consumo.
Obviamente, não devemos tratar isso como uma teoria muito elaborada. Alimentos são itens inelásticos (pessoas comem com ou sem crise), mas o quanto se consome e, principalmente, o que se consome, isso sim, pode variar muito. Para a inflação em nosso país, o caso é até fortuito, mas se a hipótese for em certo grau confirmada, pode indicar uma inibição de consumo e isso não é algo realmente bom para atividade econômica neste momento, pois se persistir, indica que ainda estamos fragilizados e melhorias mais vigorosas somente acontecerão num futuro que ainda permanece bastante incerto.