Nas lentes do conhecimento

Fotógrafa brasileira é vítima de racismo


A fotógrafa Mirian Rosa, de 32 anos, registrou boletim de ocorrência na última quarta-feira, 02/05/2018, no Mato Grosso, após receber áudios de cunho racista no WhatsApp.

As mensagens trazem ofensas como "mucama", "saco de lixo", "crioula maldita", "Desde quando preto é gente? Vou falar uma melhor: quem é você na fila do açougue? Eu vou responder para você: pobre não come carne. Então, nem na fila do açougue você entra, crioula maldita". Entre tantas outras ofensas proferidas pelo agressor, que foi identificado como Rafael Andrejanini.

O agressor teria usado o celular de uma antiga amiga dela para enviar os áudios, como está sendo investigado pela Polícia Civil.
Sendo que as mensagens racistas gravadas por Rafael somente chegaram até ela logo depois de ignorar um áudio da antiga amiga, que criticava o seu cabelo.

A fotógrafa afirmou que apenas conheceu o seu agressor superficialmente através de seu ciclo de amigos em uma reunião e que após este evento não o encontrou mais.

Os outros áudios com forte teor racista e com forte teor violento chegam ao ponto de tratar a fotógrafa como uma escrava, querendo estabelecer a condição de mulher e negra com um preço de mercado.

"Quero saber se você tem dono ou não. Fui no mercado de escravo no Porto e não vi nenhuma escrava no seu valor. Quero comprar uma escrava, mucama, cozinheira, faxineira ou algo assim para minha casa. Quero ver a crioulada trabalhar para mim"

Continuando o show de horrores nas mensagens seguintes e ironicamente a convida para um churrasco. "Pode dar tiro em crioulo, tacar fogo ele não sente nada. A única coisa que crioulo sente é ele no tronco e o chicote nas costas"..."É o seguinte: vou queimar uma carne lá em casa. Preciso de você, como a matéria: o carvão e o saco de lixo para recolher o que restar".

Miriam prestou depoimento à delegada Ana Paula de Faria Campos da delegada da Delegacia Especializada de Defesa da Mulher, Criança e Idoso de Várzea Grande (DEDMCI). E como não poderia ser diferente e minimamente, foi representado criminalmente o suspeito.

A juíza Amini Haddad Campos do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TM-MT) acatou o pedido do Ministério Público Estadual (MPE) e concedeu medida protetiva à fotógrafa. Desta forma o acusado está proibido de chegar a uma distância mínima de 500 metros da vítima e seus familiares, e manter qualquer canal de comunicação com eles.

O Instituto Mulheres Negras de Mato Grosso (Imune) repudiou o ataque racista em uma carta aberta. Demonstrando que a agressão deste homem não foi contra uma fotógrafa, uma mulher, uma negra, mas contra a coletividade das mulheres que buscam seu espaço na sociedade.

Contra as mulheres que com seu trabalho dignificam a vida humana.

Miriam Rosa relatou que já sofreu outros atos preconceituosos, mas desta vez será diferente, vai buscar justiça. Que ela seja exemplo para outras mulheres.

Nós também não podemos nos silenciar diante destes ataques, e no mínimo devemos nos posicionar para que este tipo de atitude seja exterminado da sociedade. Devemos apoiar para que mais mulheres e outras vítimas de preconceitos tenham voz e espaço para lutar pelos seus direitos.

Devemos nos posicionar para exterminar esta doença que destrói a humanidade, para exterminar a ignorância que tem como resultado os preconceitos.

Fica aqui nosso apoio a fotógrafa Miriam Rosa, o retrato de uma brasileira, de uma mulher, de uma trabalhadora.

Por um mundo de seres humanos para seres humanos.