Agenda econômica

A importância do cadastro positivo para o país

 

Por Yan Cattani, Economista do Blog Agenda Econômica

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Como economista e brasileiro, fico muito feliz pela notícia de aprovação do Cadastro Positivo na Câmara dos Deputados. É realmente de se emocionar!!! Em qualquer país que o cadastro positivo opera, há uma diferença brutal de spreads para aqueles que realmente precisam e utilizam o crédito de forma bem intencionada. 

 

Isso complementa uma série de mudanças que o governo pautou nos último ano, a TLP, a redução da Selic com controle da inflação, a mudança de escopo do BNDES. 

 

O governo federal pode ser alvo de críticas em diversas frentes, com figuras duvidosas muitas vezes em sua condução, mas essa equipe econômica realmente fez e faz um excelente trabalho. Isso é pensamento de longo prazo.

 

Há pouco menos de um ano (dia 8 de setembro de 2017), escrevi no Diário do Comércio (DC) juntamente com meu colega, Vitor Meira França, um artigo falando sobre os benefícios que o Cadastro Positivo fariam ao Brasil.

 

Nele comentamos que enquanto a média mundial dos spreads bancários (para entender o que é spread, veja este post do Agenda Econômica) é de cerca de 5 p.p. (com raras exceções superando a marca de dos 10 p.p.), no Brasil esse nível era de cerca de 30 p.p., à época da publicação do texto, próximo atualmente de 25 p.p.. Ainda é muita coisa!

 

O elevado spread é prejudicial para a economia por pelo menos dois motivos. Em primeiro lugar, ele restringe a oferta de crédito e, consequentemente, o consumo e os investimentos. E em segundo, ele resulta na transferência desproporcional de recursos de famílias e empresas para o sistema financeiro.

 

Sem entrar em grandes detalhes (isso pode ser visto no artigo do DC), fato é que a inadimplência responde atualmente por quase metade do spread bancário no Brasil, ou seja, dos 25 p.p. de spreads, 12,5 p.p. seriam dedicados aos casos de inadimplência.

 

Ocorre que, da mesma forma que o spread elevado seria uma maneira de os bancos compensarem os altos riscos de inadimplência – a inadimplência, portanto, seria a causa do spread elevado –, ele também poderia estar expulsando bons pagadores do mercado de crédito, uma vez que apenas tomadores de crédito de maior risco estariam dispostos a pegar empréstimos com taxas tão elevadas.

 

Com os empréstimos concentrados em clientes de maior risco, a inadimplência, naturalmente, tende a ser mais alta – o spread elevado, neste caso, seria a causa, e não a consequência, da inadimplência, resultado de um problema denominado na literatura econômica que trata da assimetria de informação como seleção adversa.

 

Amenização deste problema, da seleção adversa no mercado de crédito, ocorreu através da análise dos dados positivos. Isto é, não importa saber uma fotografia do passado, mas sim o filme do presente. Até então, em teoria os modelos de análise de crédito podiam dar mais crédito na “praça” para uma pessoa que não tem informações de renda (seja rico ou pobre) do que para uma pessoa que às vezes mesmo sendo milionária, e que devido ao atraso de sua conta de luz de valor irrisório, teve sua avaliação de crédito comprometida em virtude de um descuido esporádico.

 

Com o Cadastro Positivo será possível avaliar de forma completa, separar realmente quem é o bom pagador e o mau pagador de contas, afinal crédito é comportamento contínuo e não único. Seu funcionamento favorecerá consumidores e as empresas que solicitam empréstimos, uma vez que considera todo o histórico de pagamentos do cliente e não somente as dívidas. Quem usa crédito de maneira consciente e/ou com boas intenções de investimento, a partir de agora terá meios mais baratos de poder tocar sua vida.