Agenda econômica

Surpresa dos juros


Por Yan Cattani, Economista do Blog Agenda Econômica

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Ontem o Comitê de Política Monetária, o COPOM, optou pela manutenção da atual meta da taxa Selic. A decisão surpreendeu o mercado (e a mim também, diga-se de passagem), uma vez que os diretores do BC e o próprio presente do Banco Central já havia sinalizado publicamente que a taxa seria reduzida mais uma vez na reunião de maio.

Mas o que de fato houve no mercado para influenciar uma mudança da condução da política monetária no país? Haveria o Comitê se contradito? Na verdade, não. Em antigo post, havia mencionado que credibilidade não era apenas um momento, mas sim uma avaliação comportamental, de grande extensão temporal de preferência.

Há cerca de três semanas, o dólar vinha apresentando oscilações, contudo sem dar nenhum sinal de que poderia ocasionar rompimento de patamares acima de R$3,60. A principal razão era até o momento era a incerteza sobre elevação dos juros americanos e o consequente retorno dos rendimentos das empresas americanas, que poderiam perder atratividade de investimentos - um título americano é rendimento 100% garantido, enquanto nas empresas há risco. Portanto, se eu invisto nos juros americanos, eu retiro dinheiro de países emergentes e isso altera a relação de câmbio e juros aqui.

No entanto, recentemente, houve quebra de um acordo comercial dos EUA com Irã, ocasionando um furor no mercado de petróleo, com grande elevação dos preços internacionais do produto. Como o Brasil possui uma série de produtos com preços atrelados à commodity, dentre eles, combustíveis que possuem preços mais inelásticos (a demanda varia pouco mesmo com aumento/redução de preços), é certo que haverá em breve um choque de preços de oferta em nossa economia. É só uma questão de tempo.

Ou seja, por mais que o BC estivesse monitorando "por tabela" a atividade econômica, seu principal papel é o de salvaguardar a "estabilidade da moeda e poder de compra da população". Dito de outra forma, a queda da Selic para 6,25% poderia ocorrer porque a atividade estava fraca e o nível de preços também se encontrava em patamar baixo.

Como essa relação certamente será alterada, isto é, a atividade provavelmente permanecerá com ritmo letárgico mas a inflação será um pouco maior, a autoridade monetária preferiu ser cautelosa com a condução dos juros, deixando-a no mesmo nível da última decisão e esperando para ver se haverá maiores desdobramentos nos preços em decorrência do choque do petróleo. Com um juros um pouco mais elevado, consome-se menos, e temos menos inflação.

Ou seja: apesar da frustração pessoal (esperava 6,25%), o intuito principal do COPOM foi preservado, reiterando a credibilidade da gestão do BC atual. Enquanto isso, aguardamos ansiosamente o desenrolar dos próximos capítulos.