CULTURA

Pedro Bento será homenageado amanhã na Festa do Tropeiro


Um dos principais representantes vivos da autêntica música sertaneja, o portofelicense Pedro Bento, da lendária dupla Pedro Bento e Zé da Estrada, será homenageado em um espetáculo inédito que ocorre nesta quinta-feira (24), às 19h, no Teatro Municipal Teotônio Vilela (TMTV). A entrada é gratuita e os ingressos serão distribuídos com uma hora de antecedência na bilheteria do teatro (av. Engº Carlos Reinaldo Mendes, s/nº, Alto da Boa Vista).

O show contará com a participação do Grupo de Viola Caipira São Gonçalo, composto por dez violeiros de Votorantim; e as duplas Diamantino e Platinense; Santos e Gonçalves; Teodoro e Alavaninho; Zé Rosa e Manduri, que se revezarão no palco interpretando os principais sucessos da dupla como "Sete palavras", "Seresteiro da lua", "Mineiro de Uberaba" e "Mágoa de boaiadeiro".

O evento, que tem presença confirmada do próprio Pedro Bento, atualmente com 84 anos de idade, é realizado pela Prefeitura de Sorocaba, por meio da Secretaria de Cultura e Turismo (Secultur), e integra a programação da 51ª Festa do Tropeiro. "É uma alegria muito grande ser homenageado em Sorocaba, cidade que sempre fez parte da minha vida", comenta o artista ao Mais Cruzeiro.

Pedro Bento relembra que anos antes de conhecer Zé da Estrada, formou sua primeira dupla com um sorocabano chamado Mauro. "A dupla nem chegou a ter nome, mas a gente cantava de domingo, no serviço de autofalante de Porto Feliz, em frente à igreja matriz, na hora do footing que acontecia depois da missa", diz.

De acordo com o cantor e produtor musical Diamantino Sutil, o show visa render homenagem ao artista que, além de ser filho da Região Metropolitana de Sorocaba (RMS), integrou uma das duplas sertanejas de maior sucesso de toda a história da música brasileira. "É uma referência muito forte. Não existe um cantor sertanejo, incluindo os da nova geração, que não conheça ou que não tenha cantado alguma música deles", afirma.

Diamantino detalha que o tributo ao artista foi idealizado pelo titular da Secultur, Werinton Kermes.

Joel Antunes Leme, nome de batismo de Pedro Bento, nasceu em 1934, em Porto Feliz. Ainda garoto, animava as rodas de viola nas quermesses de cidades da região. Com aproximadamente 14 anos de idade, Pedro Bento percorreu diversas cidades da região, atuando como violeiro de uma comitiva de festeiros do divino. "A gente viajava e o sitiante dava pouso. Nesses Pousos do Divino, eu conheci grandes cururueiros de Sorocaba como o Sebastião Roque e o João Davi", cita, mencionando que, a partir dessa experiência, despertou para sua faceta de compositor.

Em 1954, foi convidado para participar do programa "Manhãs da roça", de Chico Carretel, na rádio paulistana Cruzeiro do Sul, onde acabou conhecendo no estúdio Waldomiro de Oliveira, o Zé da Estrada, natural de Botucatu.

O nome da dupla foi dado por Paiolzinho, o dono da rádio, instantes antes de uma apresentação. Até conseguir se tornar cantor profissional, Waldomiro levava a vida como caminhoneiro, daí o apelido de "Zé da Estrada". "Na época eu era sofrido, estava sem dinheiro, daí ele [Paiolzinho] disse que eu me parecia com um benzedor e chamou de Pedro Bento. Na hora a gente achou horrível, mas ele era o dono do programa. Se a gente falasse alguma coisa, ele mandava a gente embora", afirma.

A afinidade musical e pessoal selou os laços entre a dupla que seguiria junta na estrada por 63 anos, até a morte de Zé da Estrada em junho de 2017, aos 88 anos. Além dos inúmeros sucessos ao longo da carreira, a dupla se notabilizou pelo uso de vestimentas e sombreros típicos dos mariachis. "O sertanejo não tinha uma indumentária específica, todo mundo cantava igual o Mazzaropi. Para cantar moda, tudo bem, mas a gente também cantava bolero, valsa. Tinha que ser mais chique".

Com o passar do tempo, além das roupas e acessórios, a dupla também passou a explorar a sonoridade típica da música mexicana. "Eles foram tão criativos que reinventaram a música sertaneja", considera Diamantino.

Em 1958, a dupla lançou o disco de estreia, ainda em 78 rotações, pela Gravadora Continental. O carro-chefe do vinil era "O seresteiro e a lua", primeiro grande sucesso da carreira da dupla, mais tarde regravado por Milionário e José Rico e as Irmãs Galvão, composto pelo próprio Pedro Bento, em parceria com Cafezinho e José Arraia.

O sucesso da dupla se consolidou nas décadas seguintes com canções como "Mourão da Porteira", "Piracicicaba" e "Sinhá Maria". No final da década de 1970, devido ao sucesso nas rádios, a dupla fez sua estreia nos cinemas no filme "Os três boiadeiros", de Waldir Kopezsky, no qual interpretaram os protagonistas, ao lado do ator Chico de Franco.

Em mais de 60 anos de carreira, Pedro Bento e Zé da Estrada gravaram cerca de 2 mil músicas, sendo 16 álbuns em 78 rotações, 104 em LP e 25 CDs. O CD "Sete palavras" vendeu mais de 70 mil cópias e a entrega do disco de Ouro, pela Gravadora R.I, foi feita em 2007 por Inezita Barroso no programa "Viola, minha viola", da TV Cultura.