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Crítica teatro: O Grande Circo Teatro Sorocabano


Crítica teatro:  O Grande Circo Teatro Sorocabano


O espetáculo "O grande circo teatro Sorocabano" realizado pela Companhia de Teatro Barracão da Vó traz, como o próprio título informa, uma homenagem ao circo-teatro de Sorocaba à cena.

A Companhia informa no programa da peça que o espetáculo tem como objetivo "resgatar um dos patrimônios artísticos culturais de Sorocaba", tal qual uma viagem no tempo.  Esta proposta traz consigo uma série de desafios. Isso porque montagens com pressupostos históricos envolvem aspectos como, por exemplo: dramatúrgicos, cenográficos, interpretação diversos. Muito além da repetição ou representação um texto da época.

É justamente a proposta do regaste um dos problemas que o espetáculo não resolve bem. Isso porque o teatro é uma arte do presente. Feito no aqui e agora. Espetáculos como, por exemplo, aqueles que utilizam a "commedia dell'arte", uma forma de teatro popular que surgiu no século V, encenados no agora não são de modo algum uma reconstituição histórica. Seja porque esta migrou das feiras para dentro dos teatros ou seja porque não existem mais as feiras e nem  existem as cidades medievais como antes. Assim tratar a memória do circo teatro pelo viés da homenagem ou do vivido ou para "mostrar como era" é um caminho perigoso e difícil.

O circo-teatro existe ( e resiste) na atualidade (como modalidade cênica) e tem se atualizado. Não são fotografias estanques no álbum. São propostas vivas em sintonia com este tempo. Segundo Erminia Silva (Centro da Memória da Unicamp) "é possível fazer teatro no circo com as peças antigas, mas atualizando-as em todos os sentidos estéticos inventados até esse século XXI. É desejável fazer teatro no circo com novas peças escritas, ocupando o espaço da lona em toda a sua plenitude. Isso é circo-teatro". De certo modo é o que acontece nesta encenação.

A direção do espetáculo de Rodrigo Cintra realiza um bom trabalho, porém, com alguns problemas no ritmo do espetáculo, principalmente, relacionados à costura entre os números. Em parte, isso acontece devido ao modo como se organizam as entradas e as saídas entre eles. É difícil organizar números cênicos ( acrobacia, magica e teatro) com ritmos internos e lógicas distintas, num mesmo espetáculo.nA direção de Rodrigo Cintra é corajosa e se mantem no fio da navalha.
 
Outra questão é a dramaturgia. Nalguns momentos é eficiente e noutras é explicativa demais. Lembro aqui a fala de antigo professor: o texto de teatro que se explica demais não ajuda a encenação. É o que acontece. Por exemplo: é dito várias vezes que o espetáculo é uma homenagem. A saber que já foi escrito no programa e dito na abertura do espetáculo. A informação já foi dada, portanto, repetir não ajuda ou colabora a entender ( sentir) o que se quer homenagear. 

Os figurinos de Thalita Santos merecem destaque. Estão adequados e funcionam de modo harmônico com a proposta da montagem. Do mesmo modo a cenografia de Santiago Ribeiro. Cenário e figurinos são eficientes. Apenas o senão para as imagens " coladas" na frente do palco, Não estão claras para o espectador.

Logo na abertura  a presença da atriz Iracema Cavalcante dá o tom do espetáculo. Presença homenagem em cena. Na sequência acontecem os números de acrobacia e mágica que se revezam em cena. Os acrobatas da USINARTE (à medida que o espetáculo avança) conquistam a platéia. Do mesmo modo,  os números de mágica  com Augusto Torrine encantam a platéia (principalmente as crianças). Os núemros de mágica e as acrobacias são os responsáveis pela mística do imaginário do circo presente no espetáculo.

Na sequência desses números acontece o espetáculo teatral - uma joia.  Que lindeza! Vale a pena assisti-lo.  O projeto de encenação tem como proposta  revezar a montagem de um texto ao longo das semanas. Numa semana "A mulher do Zebedeu (texto cômico)" e noutra semana  "O direito de matar (drama)". 

Na montagem "A Mulher do Zebedeu" o elenco esta afinado. Cabe  destacar o trabalho da atriz Ivone Martins em  excelente performance. Ela consegue em poucos minutos a empatia do público. Ritmo e tempo de comedia perfeitos.

Ao final o resultado é bom. Boas risadas e  diversão. Viva o circo teatro de Sorocaba! Que a Companhia Barracão da Vó tenha vida longa.
 
Elenco
Priscila Maldonado,  Conrado, Rodrigo Cintra, Augusto Torrine, Ivone Martins, Edneu Abud, Niany Nicoley, Nicolay Andrey,  André Moraes, Beatriz Mendes, Gabriel Manzini, Mariana Noronha, Ana Sousa, Yuri Oliveira.
Participação especial de Iracema Cavalcante.
Direção: Rodrigo Cintra
Figurinos: Thalita Santos
Cenografia: Santiago Ribeiro