Sombras de Maio
Roberto Pompeu de Toledo, em sua coluna na Revista Veja – 23-05-18, tal como Silvio Tendler fez com o sistema financeiro, literalmente põe o dedo na ferida. Diz ele: "O panorama no Brasil apresenta-se melancólico como a primeira parte de Chega de Saudade".
Sim, a canção que deu o tom (êpa) à eclosão da bossa nova e que, depois do lançamento, Elizeth Cardoso, consagrou-se com a canção do amor demais. Naquela gravação, um discreto João Gilberto ensaiava a batida que o tornaria famoso no mundo inteiro.
Fiquei frustrado com o espantoso e lamentável espetáculo que nós, brasileiros estamos oferecendo ao mundo civilizado, com essa falsa greve de caminhoneiros e pergunto: vale a pena recordar o susto que o general De Gaulle, teve, na manhã em que milhões de cidadãos ocuparam as ruas de Paris? Foi o mesmo susto que tivemos naquele ano quando, na noite de 13 de dezembro, o Brasil leu o que o "Jornal do Brasil", o "Estado de São Paulo" e outros ................, sob violenta censura, encheram as primeiras páginas com receitas de bolo, tempo fechado e ventos fortes em Brasília e outros assuntos aleatórios. Começava a noite escura que mergulhou o país na Ditadura por cerca de 20 anos.
Acontecimentos trágicos ou não ocorreram em nosso planeta, desde sempre, em maios inesquecíveis. Um século antes da revolução que implantou o comunismo na Rússia, Karl Marx, usou a palavra comunista em duas obras: O "Manifesto Comunista e "O Capital". Era ele comunista? Há quem afirme que Marx, filósofo, era um burguês, que viveu a maior parte de sua vida dentro do Museu Britânico, em Londres, entretido em escrever sobre "a economia como fator condicionante primário da vida". Faleceu no Reino Unido, está sepultado no cemitério Highgate. Vide "Os 100 pensadores essenciais da Filosofia" – Difel – 2012 – páginas 259 e seguintes.
As idas e vindas da História Universal, as afirmações, as contradições, os reconhecimentos de erros em todos os campos da Ciência, da Astronomia, das Religiões e por aí vai, leva-me a procurar o sentido da Palavra e do Tempo, no contexto de tudo que nos faz "homosapiens".
No "Novo Aurélio", página 1476 – Palavra ocupa duas colunas e pouco mais. Tempo, páginas 1940-1941, três colunas e pouco mais.
Fico a imaginar como tudo começou. Houve o tempo bíblico – Na arca Noé falava com os bichos, na Torre de Babel a confusão de idiomas impediu que nossos ancestrais chegassem ao Céu. Nas relações humanas, os olhos falam coisas que nem podemos acreditar. Falamos com nossos gestos. Pensamos com palavras. E em um segundo, tudo pode acontecer.
Escrevi, escrevi e não sei se me fiz entender. Deixa para lá. Outros maios virão. Espero viver mais alguns, mesmo meio que perdido na tradução. E termino, com o título da crônica mencionada: Sombras de Maio.