Preto é preto, branco é branco, mas a mulata é a tal

O assunto está na ordem do dia. O caso "Dona Ivone" estourou faz uma semana. Jô Santana idealizou um espetáculo para homenagear a grande dama do samba carioca – "Dona Ivone Lara – um sorriso negro" recentemente falecida. Escolheu para vivê-la no palco a cantora negra Fabiana Cozza. Para que? Logo surgiu a contestação. Alegação: Fabiana não é suficientemente escura. Alguém magoou a escolhida, que desistiu do papel, embora fosse aprovada pelos descendentes da homenageada.

Está assim a coisa. Querem negros nas novelas, nos filmes, até na Academia Brasileira de Letras.

Como afrodescendente acho exagerado esse esforço generalizado para escurecer o que já é mais do que na sociedade brasileira. Somos o resultado da miscigenação, desde sempre. O índio, o português e o negro, fizeram do nosso país um exemplo para o mundo, não obstante sermos o último país a acabar com a escravidão. Acabou mesmo?

Lembro-me com que orgulho acompanhei, o sucesso de Leônidas, o diamante negro, com sua atuação na Copa de 1938. Vibrava com as lutas de Joe Louis, campeão mundial do boxe. Para não falar do rei Pelé, Garrincha, Elza Soares, os irmãos Rebouças, Machado de Assis, Martinho da Vila, Clementina de Jesus e quantos mais?

A cor é detalhe. Vale a inteligência, o caráter, a competência. O que importa, sempre é o Amor, é ou não é?

"Renuncio por ter dormido negra e, após o anúncio do meu nome como protagonista do musical, acordar "branca" aos olhos de tantos irmãos".

Fabiana Cozza

Atriz, explicando por que abdicou do papel de Dona Ivone Lara

"É a lógica racista de não escolher uma pessoa de pele mais escura. Isso reforça o embranquecimento de pessoas negras (nas artes) historicamente".

Stephanie Ribeiro

Ativista, explicando por que condena a escalação de Fabiana

Reflexão: "O fato de eu me apaixonar por Meghan tão incrivelmente rápido foi uma confirmação de que todas as estrelas estavam alinhadas. Tudo era perfeito". (Príncipe Harry, sobre a atriz Meghan Markle).