Blog do Simões

Critica teatro: Sob o azul do céu


Critica teatro: Sob o azul do céu


O texto "Sob o azul do céu" escrita por Mario Persico, há mais de 20 anos, tem como tema central o acerto de contas entre pai e filho, que retorna  a casa, para o enterro da mãe. Logo após esse momento os dois enfrentam os segredos que querem e, ao mesmo tempo não querem, dizer um ao outro. O texto se estrutura tal qual um folhetim, permeado de intrigas, conspirações, mistérios, juramentos, sentimentalismos, apoiado na identificação e na redenção dos sofrimentos das personagens. É a partir dessas situações que a peça envolve o espectador.

O cenário da montagem está em sintonia com a proposta cênica. Uma sala repleta de objetos de um tempo passado que convida o espectador a ser voyeur da situação vivida pelas duas personagens. É fácil perder se na observação dos pequenos objetos dispostos na cena. Os figurinos são sóbrios. Há, contudo, em relação a composição visual das personagens, a peruca de cabelos brancos do Pai, que dada a distância do espectador, causa estranhamento e afasta a identificação imediata do espectador com a personagem. Remete inicialmente a uma caricatura. 

O risco da interpretação no folhetim é  transformá-lo num dramalhão. Isto não acontece. Tiske Reis (o filho) traz a cena uma personagem repleta de sutilezas e camadas necessárias para enfrentar as peripécias do enredo. Demonstra maturidade cênica na composição dos detalhes da personagem. Mario Pérsico(Pai) tem boa performance. Conhece o oficio da cena. É comedido na medida certa nas cenas de embate com o filho e cumpre bem os desafios que a personagem lhe impõe. Transita no limite entre o drama e a comédia. Os dois interpretes estão confortáveis no folhetim. Estabelecem um jogo de cumplicidades que resultam em cenas cômicas e, também, densas e poéticas. São dois bons atores em cena.

Esta montagem seja talvez a mais longeva produção sorocabana em cartaz na cidade. É um privilégio para a cidade ter um texto, com tanto tempo e poeira de palco, em cena. Esta longevidade revela a tenacidade da Cia Clássica. Ao mesmo tempo que nos mostra, também, a duração e temporalidade do teatro, paradoxalmente, a arte do efêmero.