1 gole, 1 garfada, 1 viagem

Sinônimo de Uruguai na taça, o Tannat é um tinto que combina com churrasco e que por sua vez combina com futebol


POR MARCO MERGUIZZO (*)

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Nesta quarta, 20/6, volta a campo contra a fraca equipe da Arábia Saudita, ao meio-dia, pela segunda rodada da Copa do Mundo na Rússia, o bicampeão Uruguai. Com sua tradicional camisa celeste, o país hermano conquistou por duas vezes a antiga Jules Rimet, nos já longínquos anos de 1938 e 1950 (este último, uma conquista épica do país hermano contra a Seleção Brasileira, em pleno Marcacanã, e cuja final foi denominada à época pela imprensa como "Maracanazo" - uma das maiores derrotas da história do futebol brasileiro ao lado do 7 a 1 para a Alemanha, partida de semifinal realizada na Copa de 2014, também no Brasil), além de um honroso quarto lugar no Mundial da África do Sul, em 2010.
 
Com uma longa trajetória futebolística, o país dos goleadores Luis Suárez, o camisa 9 da seleção platina e do Barcelona, e Edinson Cavani, que é o 9 no PSG mas ostenta o 21 por seu país, faz bonito não só no mundo da bola mas também no do vinho.
 
Se a Malbec virou sinônimo de Argentina e a Carménère do Chile, a Tannat se tornou a uva emblemática deste pequeno país sul-americano de apenas 176.215 km2, e em cujo mapa vinícola a variedade francesa representa 32,2% da produção das viníferas (ou seja cerca de 1/3). E como as suas vizinhas encontrou no solo uruguaio a sua melhor expressão.

A origem da casta é a região de Madiran, situada no Sudeste francês. Fato curioso a ser destacado é que as variedades citadas acima eram pouco valorizadas na sua pátria de origem e acabaram ganhando um "upgrade", digamos, e novo status na América do Sul. Sabe-se que o responsável pela introdução da variedade no Uruguai foi Don Pascual Harriague, em 1870, e com seu sobrenome a uva foi chamada até a década de 1980, quando foi reconhecida como a Tannat francesa.

Um tinto da uva Tannat tem como características a concentração: de cores, sabores, corpo e do tanino (daí a origem de seu nome), aquele elemento importantíssimo da uva que dá cor e uma sensação de adstringência na boca (pois tem a capacidade de coagular a saliva) e que, embora seja muito intensa e marcante, pode ser bem trabalhada. Aí entra o talento do produtor para tirar o melhor das qualidades da casta.

Esta é a virtude, e o pecado, da Tannat. Muita gente torce, literalmente, o nariz para a uva pois tem na memória um vinho muito tânico e adstringente. Tem muito rótulo assim por aí mas nos últimos anos esse panorama mudou para melhor. Ou seja: quando domado, amaciado e bem elaborado, esta característica marcante da uva ressalta suas qualidades e torna este estilo de vinho uma boa alternativa para as carnes, como as parrillas, o corte uruguaio por excelência, e que também é perfeito para acompanhar aquele churrasco de final de semana.


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Além disso, não há só rótulos feitos 100% da uva Tannat. Ao lado dos varietais (elaborados a partir de uma única cepa), também gosto bastante dos vinhos de corte, que são aqueles que combinam no mesmo caldo duas ou mais castas. No Uruguai, as mesclas de Tannat com uvas bordalesas Cabernet Sauvignon, Franc e Merlot são grandes alternativas. Embora mais caras, em geral, esses rótulos merecem ser saboreados. 
 
DICAS DE PRODUTORES CAMPEÕES DO URUGUAI
 
Selecionei uma lista de produtores uruguaios, cujos Tannats apresentam ótima relação preço-prazer, e que podem ser comprados aqui no Brasil. São eles: Bodega Garzón (www.worldwine.com,br), De Lucca (www.premiumwines.com.br), Carrau (www.zahil.com.br), Castillo Viejo (www.lapastina.com.br), Familia Deicas (www.interfood.com.br), Pizzorno (www.grandcru.com.br), Pisano (www.vinci.com.br)Bouza e Juanicó (www.decanter.com.br) .


Bodega Bouza - Divulgação Bodega Bouza - Divulgação

BODEGA BOUZA: MUITO ALÉM DA TANNAT

Situada na província de Canelones, a cerca de 30 minutos de carro do centro de Montevidéu, a charmosa e requintada Bouza Bodega Boutique, fundada há pouco mais de duas décadas pelo casal de engenheiros Juan e Elisa Bouza, é uma das vinícolas que ajudaram a modernizar nas últimas décadas a tradicional indústria vinícola uruguaia, e a construir a boa fama dos vinhos da pátria do jornalista, escritor e pensador contemporâneo Eduardo Galeano (1941-2015). Desfruta atualmente, por isso, de prestígio como uma das melhores do país ao lado das tradicionais bodegas Pisano, Carrau, Juanicó, Casa Magrez, Família Deicas, De Lucca, Gimenez Mendes e da morderníssima Garzón. 

Com uma produção butique de 100.000 garrafas/ano, a qualidade de seus tintos e brancos se baseia em uma produção de pequena escala, intervenção mínima na vinificação e trabalho personalíssimo na vinha. O resultado? Rótulos de terroir de estilo próprio, modernos e originais, visando a privilegiar a fruta em sua máxima expressão. "Vinhos de alta qualidade devem ser feitos com conhecimento e paixão", resume o proprietário Juan Bouza.

Além da Tannat, cepa emblemática do Uruguai, a sua bodega é pioneira no país vizinho, bem como na América do Sul, a cultivar a Albariño, casta branca originária da Galícia, região espanhola onde nasceu o pai de Juan, de mesmo nome, um dos fundadores da Pagnifique, uma das mais conhecidas indústrias de panificação de Montevidéu.


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A Tempranillo, variedade presente nos grandes tintos espanhóis, igualmente foi plantada pelo casal nos vinhedos da bodega. Juan e Elisa têm um total de 20 hectares, divididos em duas propriedades: Las Violetas, na região de Canelones, área de grande tradição vinícola situada a cerca de 40 km do centro de Montevidéu; e Melilla, praticamente um subúrbio da capital uruguaia, que abriga a sede da vinícola.

A maioria de seus vinhedos, exceto algumas parcelas de vinhas antigas em Las Violetas, foi replantada durante a última década, com rigorosa seleção de clones de alta qualidade e baixo rendimento. Por ser uma bodega pequena, a Bouza pode se dar ao luxo de dividi-los em parcelas de meio hectare, as quais são vinificadas em separado.

As de Melilla são identificadas pela letra A; as de Las Violetas, pela B. Para melhorar a exposição solar, o parreiral foi todo plantado em espaldeira no sentido noroeste/sudoeste. A colheita é integralmente manual, com a seleção das uvas feita grão a grão.

Nas modernas instalações da bodega, sob a responsabilidade do respeitado enólogo Eduardo Boido, a vinificação conjuga tanques de inoxidável e carvalho; e mesmo os mais antigos, de cimento, são dotados de sistema de controle de temperatura. Para o amadurecimento dos vinhos são usadas cerca de 300 barricas de carvalho, 70% delas francesas, utilizadas por apenas três anos, ao contrário da maioria, que os aproveita durante quatro.


Bodega Bouza - Divulgação Bodega Bouza - Divulgação

Em 2009, Elisa e Juan adquiriram uma nova área, com 67 hectares, na região de Maldonado, próxima ao famoso balneário de Punta del Este, e que só há poucos anos começou a ser explorada para a produção de vinhos. Ali, o casal deposita suas fichas e expectativas, cultivando 20 hectares de Tannat, Merlot, Chardonnay, Riesling e Pinot Noir.

"A combinação de variedades pouco cultivadas no país como a Riesling e a Pinot Noir, aliada ao terroir pedregoso e marítimo, serão a nossa principal contribuição para o desenvolvimento da qualidade e um passo a mais no reconhecimento internacional dos vinhos uruguaios", diz Juan.

Fora da taça, a bodega Bouza proporciona também um programa completo e irresistível para quem deseja visitá-la in loco e, ao mesmo tempo, conhecer o melhor do vinho uruguaio. Situada em um local bucólico, sua sede, para lá de charmosa, abriga um sofisticado restaurante que realiza degustações programadas, mediante reserva antecipada, além de uma bela coleção particular de carros antigos do proprietário.  

No Brasil, todos os rótulos da vinícola, incluindo o seu topo de gama, o excepcional Monte Vide Eu, são importados com exclusividade pela Decanter de São Paulo (www.decanter.com.br).
 

(*) Marco Merguizzo é jornalista profissional especializado em gastronomia, vinhos, turismo e estilo de vida. Confira outras novidades no Instagram (@blog 1gole1garfada1viagem) ou clique aqui e vá direto para a página do blog no Facebook.