Nas lentes do conhecimento

O sofrimento das crianças separadas de seus pais nos EUA


Peço licença a todos para sair um pouco do nosso assunto, que é fotografia e imagem. Não se trata também do posicionamento do Jornal Cruzeiro do Sul, e sim do meu posicionamento.
 
Minhas lágrimas provavelmente não serão vistas nestas palavras, a dor que sinto no peito neste momento pode não ser dividida para todos como um grito de esperança, mas como ser humano não poderei me silenciar. Este não é um texto jornalístico e sim o grito de uma pessoa cansada com tantas desigualdades e perversidades. 
 
Dentro do próprio Jornal Cruzeiro do Sul ou de outras instituições jornalísticas você pode conferir reportagens que tratam o assunto com maior profundidade.
 
Hoje cedo saindo para trabalhar, uma das minhas filhas ainda dormia, ela tinha a segurança que seu pai a protegia, mas precisava sair para tentar lhe garantir um futuro. Ao acordar e percebendo que não estava ao seu lado neste momento, fui informado que ela se colocou a chorar, me queria ao seu lado. Minha ausência era também para o seu bem, mas não tinha como não sentir a sua tristeza.
 
Na pouca liberdade que ainda me resta liguei para ela, expliquei a situação e falei o quanto lhe amava e que logo estaríamos juntos novamente. 
 
Enquanto digeria a tristeza de minha filha, pensei em todas as crianças latinas que se encontram hoje nos campos de concentração dos EUA (não existe uma definição melhor para este horror). Pensei no desespero das crianças em não ter seus familiares por perto, nos pais que não podem sequer escutar a voz dos seus filhos ou de lhes conferir liberdade e uma vida digna, uma infância. 
 
Existe um movimento estranho no mundo, retrogrado e não humano, voltado totalmente para uma lógico de lucro e poder, que busca segregar a humanidade da própria humanidade. É neste campo que se concentra a política adotada pelo governo americano de Trump. 
 
Querer se convencer do contrário é apenas uma tentativa de salvar a alma da própria consciência. 
 
A política da tolerância zero no governo de Donald Trump sobre a migração e patrulhamento de suas fronteiras, tem como resultado a separação de famílias, crianças são colocadas em jaulas, choram desesperadas e convivem desde cedo com uma solidão forçada. 
 
Uma solidão que ocorre não por uma questão natural ou por um equívoco na sua existência enquanto ser, mas pela desigualdade que geramos ao mundo. Na concentração de riqueza em poucos pontos do globo, sem que o ganho seja questionado historicamente. 
 
Estes campos de concentração não são novos e muito menos distantes, as imagens fotográficas novamente podem nos auxiliar na memória. Os campos de concentração nazistas não podem ser esquecidos e muito menos reinventados. 
 


Crianças em Auschwitz são vistas por trás de uma cerca - Crianças em Auschwitz são vistas por trás de uma cerca -

 


Mulher chega com crianças ao campo de concentração - Mulher chega com crianças ao campo de concentração -

 
Depois de vivermos este momento histórico lamentável da humanidade, como pode existir pessoas que ainda tem ações, práticas nazistas, pensamentos fascistas, e como no Brasil, pedem o retorno dos militares? Será que desconhecem os campos de concentração indígena, por exemplo?     
 


Campo de Concentração Indígena - 1972 - Campo de Concentração Indígena - 1972 -

 
Não é possível que em pleno século XXI, tenhamos hoje no Texas (antiga terra indígena e mexicana), nos Estados Unidos, centenas de crianças presas em galpões, dentro de grandes gaiolas de metal e cobertas por folhas de papel. Que tenhamos trabalhadores impedidos de exercer sua condição humana. 
 
A Patrulha da Fronteira, seguindo as ordens do governo de Trump, está dificultando o acesso dos jornalistas ao local. Os poucos que conseguem acesso não podem entrevistar “os prisioneiros do sistema” e tirar fotos. Segundo a Patrulha, neste local amplo e escuro, encontra-se mais de 1100 pessoas, sendo que 500 menores ainda tem o “privilégio” da companhia de seus pais, entretanto 200 encontram sozinhas. 
 
Ao todo na política de tolerância zero, 2300 crianças foram tiradas de seus pais, enquanto estes são processados criminalmente.
 
Podemos até compreender o argumento de crime que estes pais estão cometendo ao tentar entrar em uma nação ilegalmente, entretanto não podemos deixar de perceber a atitude de desespero deste por procurar uma vida melhor aos seus. E muito menos questionar o que denominamos de fronteiras, depois de milhares de anos ainda não superamos esta barreira fictícia, de efetivar a liberdade humana.  
 
Quantas vezes assistimos a estas mesmas nações que hoje negam ajuda aos migrantes, aos semelhantes, ou no mínimo dignidade a estes, invadindo territórios com objetivos puramente econômicos ou para expandir suas fronteiras? 
 
Nos silenciamos por muito tempo diante destas barbaridades, diante de tantos preconceitos, está na hora de nos posicionarmos. Estou da lado da humanidade, e você?
 
Escute o áudio que a organização não-governamental Propublica conseguiu captar no interior destes campos de concentração no Texas. Se permita sofrer, se coloque no lugar do outro, dos menos favorecidos. Seja humano.