Programa para o Dia dos Pais, Ca'd'Oro de São Paulo oferece pratos clássicos do Norte da Itália e viagem ao passado da Paulicéia
Por MARCO MERGUIZZO
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Símbolo da melhor hotelaria aliada à boa mesa durante décadas na cidade de São Paulo, o Grande Hotel Ca'd'Oro preparou um menu especial para o próximo domingo, 12/8, em que se comemora o Dia dos Pais. Um programa gastronômico para lá de charmoso para quem está pensando em esticar até a capital para festejar a data com os filhos e a família (confira no final deste post os detalhes do menu e as dicas de serviço).
Reaberto em 2016 totalmente remodelado no mesmo endereço que o consagrou, seu restaurante marcou época como um dos melhores da capital ao introduzir um saboroso acervo de receitas clássicas das regiões do Norte da Itália, como o Piemonte, a Lombardia, o Vêneto e a Liguria, jamais provados aqui antes pela maioria dos gourmets, como o consagrado carpaccio, hoje amplamente conhecido.
Além desta especialidade vêneta, o Ca'd'Oro foi o primeiro de São Paulo e do Brasil a preparar o risotto alla milanese (com açafrão importado, o vero) e a servir o bollito misto, o famoso cozido piemontês de carnes e vegetais, e os risotti, que começavam a se popularizar na Europa e hoje são um grande sucesso à mesa.
O hotel também foi o responsável por divulgar o ossobuco de vitela, o fettuccine al triplo burro (receita criada e internacionalizada pelo famoso restaurante Alfredo di Roma), e ali reinventada com a massa cozida no consommé e dose tripla de manteiga (em vez do al doppio burro), creme de leite e parmesão. Além do tiramisù, receita clássica feita com queijo mascarpone, Amaretto, café e chocolate.
Este tradicional cinco-estrelas paulistano ainda foi o primeiro a servir aos seus clientes brasileiros e hóspedes estrangeiros a hoje internacionalizada caipirinha, até então um drinque consumido somente em bares e restaurantes populares mas ausente nas cartas dos endereços mais elegantes da cidade.
HOTEL ICÔNICO QUE TEM A CARA DE SÃO PAULO
Como um bom roteiro de cinema, a trajetória do Ca'd'Oro é repleta de boas histórias e reviravoltas. Tudo começou com a chegada ao Brasil de Fabrizio Guzzoni, sua esposa brasileira e dois filhos na primeira metade século 20. O imigrante trazia na mala vasta experiência no ramo hoteleiro. Começou a ganhá-la no negócio do pai, o Grand Hotel Moderno em Bergamo, no Norte da Itália, e a aprimorou trabalhando no Savoy, em Londres, e no Lausanne Palace, na Suíça.
Seu empreendimento inicial, contudo, foi um restaurante: o Ca'd'Oro, ou Casa de Ouro, inaugurado em 1953. Na mudança a São Paulo, vieram com Fabrizzio também os chefs Alberto Micheletti e Emilio Locatelli e os gerentes Edwin Prieth e Michele Brusa. O quarteto integrou a equipe que se tornou responsável por uma série de inovações gastronômicas que conquistaria a elite paulistana de paladar mais exigente.
O ponto escolhido era estratégico: o número 207 da Barão de Itapetininga, centro paulistano. Essa era a rua preferida pelos ricos para as compras – especialmente de tecidos e vestuário –, nas galerias comerciais, as avós dos shopping centers. Ficava ao lado de outra casa já então afamada, a confeitaria Fasano, onde o ponto alto era o chá da tarde.
Aos três anos de idade o restaurante tornou-se hotel, encravado em uma sossegada travessa paralela à Barão, a rua Basílio da Gama. (Ficava a poucos metros de outro ícone da cidade, o restaurante libanês Almanara, aberto em 1950.) Em 1965 foi promovido a Grand Hotel Ca'd'Oro, já com cinco estrelas no emblema, agora na rua Avanhandava, ainda no centro. Em 1978, transferiu-se para a rua Augusta, onde foi ampliado e viveu seus anos de maior glória.
O hotel resistiu como pôde às transformações ocorridas na cidade São Paulo, incluindo sobretudo a deterioração da região central. Primeiro à transferência das instituições financeiras para a Avenida Paulista e em seguida a áreas mais distantes, como o entorno da avenida Berrini.
Em dezembro de 2009, a família Guzzoni fecharia as portas após 53 anos de atividade. Vendeu o local a uma grande incorporadora paulista, que derrubou o prédio para construir as duas modernas torres atuais.
Mas, felizmente, a saga dos Guzzonis não terminou e terá novos capítulos. Terceira geração do fundador do hotel, o neto Fabrizio é quem, a partir de agora, passará a gerenciar o restaurante e a escrever os próximos 60 anos (pelo menos) desta dinastia da boa mesa ítalo-paulistana.
VIAGEM AO PASSADO DA PAULICÉIA E CLIENTELA DE FAMOSOS
O velho Ca'd'Oro, primeiro hotel cinco-estrelas de luxo de São Paulo, reinou soberano até que o eixo da vida urbana e o poder econômico se deslocassem para a avenida Brigadeiro Faria Lima e para outros bairros da zona oeste da capital, a partir dos anos 1990. Seu precioso legado também se estende à formação de mão de obra. Como uma grande escola da boa mesa que era, nasceram ali várias gerações de profissionais do salão e da cozinha.
Foi formado ali, por exemplo, o restaurateur Giancarlo Bolla (1940-2014), ex-chef-proprietário do elegante La Tambouille, de cozinha italo-francesa, e de outros endereços sofisticados da capital, como o Bar des Arts e o extinto O Leopolldo.
Foi exatamente no antigo Ca'd'Oro que Bolla deu os primeiros passos na carreira como cumin (auxiliar de garçom) para tornar-se, anos depois, num elogiadíssimo maître de quatro costados. E, em seguida, iniciar sua promissora carreira à frente desses três empreendimentos na região da avenida Faria Lima, emergente à época, em oposição ao decadente Centro velho paulistano.
Embora não estejam mais lá as poltronas de couro capitonê em frente à lareira, os quadros, tapeçarias e as obras de arte, os maîtres Giancarlo Bolla, (já falecido) ou o "seu" Ático (hoje no restaurante Parigi, da grife Fasano) ditando o ritmo do serviço no salão ou, mesmo, alguns de seus clientes mais ilustres.
Caso do rei Juan Carlos I, da Espanha. Do ex-presidente francês François Mitterrand (1916-1996). Do cientista norte-americano Linus Pauling (1901-1994). Do cantor americano Nat King Cole (1919-1965). Do pintor Di Cavalcanti (1897-1976). Do poeta chileno Pablo Neruda (1904-1973), E do tenor italiano Luciano Pavarotti (1935-2007).
O restaurante, que funciona no térreo do moderno espigão de vidro localizado no número 129 da rua Augusta, mantém o mesmo piano francês Érard de 1870 (uma relíquia feita em madeira marfim e marchetaria da sua fase inicial que é tocado tão-somente no almoço) ocupando lugar de destaque ao lado de seu estiloso bar, e, claro, a maioria dos pratos que fizeram a sua fama.
Ou seja: com tantas boas referências ao Centro antigo e ao passado da Paulicéia, é possível fazer no Ca'd'Oro mais do que uma refeição em grande estilo uma volta afetiva à São Paulo de antigamente numa saborosa viagem no tempo. Portanto, não pense duas vezes em programar-se para conhecê-lo e, de quebra, saborear com o seu pai (e, caso seja você o homenageado do dia, junto de seus filhos, esposa e familiares) o menu preparado especialmente para a data.
São três entradas e três pratos principais que serão servidos no almoço e no jantar do dia 12 de agosto. Com preços justos que não doem no bolso, são ótimas pedidas de entrada os medalhões de lagosta à Moscovita (R$ 46), a polenta alpina com funghi prataioli (R$ 42) e, caso faça frio, a sopa de cebolas com toast de gruyère (R$ 30). O agnolotti ao creme de nozes (R$ 70), o tournedo ao creme de brie com batata lionese (R$ 86) e a moqueca de robalo à Ca'd'Oro (R$ 85) figuram entre as boas sugestões para compor uma refeição inesquecível no dia deles. E a última dica: é recomendável fazer a reserva com antecedência.
SERVIÇO
CA'D'ORO – DIA DOS PAIS
Endereço: Rua Augusta, 129, Consolação – São Paulo
Horário: Domingo, 12h/15h30 e 19h/23h.
Reservas: (11) 3236-4300 | Site: www.cadoro.com.br
Lugares: 80 | Taxa de rolha: R$ 75 | Estacionamento com manobrista: R$ 25
Acessível para pessoas com deficiência | Wi fi gratuito
(*) Marco Merguizzo é jornalista profissional especializado em gastronomia, vinhos, turismo e estilo de vida. Confira outras novidades no Instagram (@blog 1gole1garfada1viagem) ou clique aqui e vá direto para a página do blog no Facebook