Ciclo virtuoso do crédito
Por Yan Cattani, economista do blog Agenda Econômica
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Passada a turbulência sofrida em virtude da greve dos caminhoneiros, o país finalmente começa a demonstrar resultados mais vigorosos em termos de produção econômica. A começar pela própria greve, que em maio ocasionou grandes perdas nos setores reais da economia, agora nos deparamos com uma reversão desses maus resultados.
O que ocorreu é que um pouco antes da greve, as empresas já se mostraram mais animadas, iniciando contratações e com isso voltando pagar salários. Com maior afluxo de renda na economia, maior o consumo, fluxo de caixa para empresas, lucros e toda uma gama de fatores benéficos que esse ciclo virtuoso gera para nós, pobres indivíduos dessa sociedade.
A despeito dos prejuízos ocasionados na greve, agora os indicadores sinalizam que estamos voltando a ter nossas engrenagens lubrificadas com toda aquela graxa dos níveis imediatamente do período pré-crise da boleia, o que por si só é um excelente sinal, pois mostra que a economia agora recupera-se de forma vigorosa, adicionando de fato valores novos à nossa economia – até então era só efeito base de comparação, pois na crise de 2015-2016 as baixas foram muito acentuadas e estávamos apenas repondo perdas.
Uma hipótese bastante provável dessa melhoria talvez seja o crédito, ou melhor, crédito barato. Apesar de já estarmos experimentando uma queda dos níveis de juros há algum tempo, o que muda agora é justamente a estrutura desse crédito. O Banco Central (BC) vem fazendo um grande esforço para diminuir os spreads bancários, e consequentemente a taxa de juros final aos consumidores e empresas, cujos resultados já são sentidos pelos agentes econômicos.
Os números do próprio BC mostraram que em junho as concessões de crédito (novos empréstimos) aumentaram no acumulado em 12 meses alta de 7,9%. E se consideramos ainda o segmento utilizado para consumo (ou capital de giro no caso das empresas) chamado “recursos livres”, a alta é de 9,7% no período. Para completar, nessa semana o BC ainda por cima manteve a decisão de sua política monetária, que deverá permanecer em 6,5% ao ano, até o fim de 2018. Serão mais 4 meses de calmaria neste mar.
Tais números estão por trás desse bom desempenho das variáveis de produção. Caso assim permaneçam, nos próximos meses iremos ver a taxa de desemprego cair de forma acelerada, que por sua vez impulsionará adicionalmente a economia – e se o câmbio ajudar, isso será ainda mais rápido. Menos pessoas sem renda, mais consumo, mais crédito, mais produção. Vamos torcer para que o próximo evento decisivo de nossa agenda, as eleições, não quebre esse bom andamento.