ARTIGOS

Educação Ambiental e Política



Rodrigo Barchi

A educação ambiental é herdeira direta dos movimentos ecologistas que depois da Segunda Grande Guerra, especialmente a partir dos anos 60, denunciaram a ação destruidora do Estado e do capital corporativo transnacional sobre as paisagens naturais do planeta e sobre a própria saúde humana. Eles tinham como principais características suas perspectivas múltiplas e heterogêneas, muitas vezes estando intimamente próximas aos discursos dos movimentos autogestionários e internacionalistas.

No Brasil, a educação ambiental foi enriquecida com a contribuição da pedagogia libertária de Paulo Freire, que acabou se tornando referência para a maioria dos trabalhos teóricos relativos a essa área, e fez com que as pesquisas e produções teóricas da educação ambiental brasileira ganhassem destaque no debate internacional devido à sua qualidade e especificidade.

Nos últimos quarenta anos, a educação ambiental se tornou o tema central de congressos, seminários, conferências e encontros, globais, nacionais e locais. Consequente a isso, a educação ambiental, no caso brasileiro, foi institucionalizada como lei no formato de Política Pública, em esfera federal, estadual e municipal. Em Sorocaba, a educação ambiental se tornou Política Pública Municipal através da Lei 7854/2006, de 16 de agosto de 2006.

Por um lado, essa institucionalização representa uma considerável conquista política no que diz respeito aos espaços a serem ocupados pela educação ambiental. Ao abarcarem tanto a educação formal quanto a educação informal, as políticas públicas tornam obrigatórias as abordagens ambientais em todas as esferas educativas. Além disso, fazem com que o Estado se torne responsável pelos processos que farão com que as pessoas tomem consciência da gravidade em que se encontra a situação ecológica do planeta, e assumam uma posição de defesa do meio ambiente.

No entanto, e por outro lado, tornar uma proposta política e educacional de grande potencial de transformação que é a educação ambiental em uma lei que provavelmente perdurará cristalizada e imutável por décadas é um fato atravessado por um grave risco negativo. Ao fazer da educação ambiental um discurso da verdade e uma mera impositiva de normas e condutas, hierarquizando as posturas sociais e políticas dos indivíduos a partir do que é o ecologicamente correto ou incorreto, essa institucionalização pode criar centralizações de poder que não condizem com as clássicas reivindicações dos movimentos ecologistas.

O dilema sob o qual essa área heterogênea e plural chamada educação ambiental encontra-se hoje é relativo à qual perspectiva política ela irá se pautar.

Se for seguir a uma noção tradicional que entende a Política como a ciência de direção e administração social, onde o Estado mantém o monopólio da organização social, a educação ambiental, ao mesmo tempo em que se deve comemorar sua inserção no amplo rol das preocupações de instituições estatais, precisa-se temer pelo fato de suas reivindicações tornarem-se dispositivos, ferramentas e instrumentos do exercício de um poder governamental, o qual pode acabar descambando para o exercício de um fascismo verde e/ou ecológico. Quando se fala em fascismo aqui, é no sentido em que Michel Foucault fala de apego e paixão pela prática do poder.

Por sua vez, a educação ambiental, para não perder sua potencialidade de transformação, pode aceitar a sugestão de Jacques Rancière, que, em um trabalho chamado "O Desentendimento", sugere a Política não como um modelo de instalação de consensos que ditarão condutas gerais em como se portar socialmente, culturalmente e, principalmente, no nosso caso, ecologicamente, mas como um exercício de diferenças, onde cada situação é um mosaico de discursos, verdades e saberes que estão constantemente reivindicando sua possibilidade de existência.

Nesse sentido, os educadores ambientais - e os educadores de um modo geral - podem perceber que a "defesa do meio ambiente" não está somente onde as cartilhas, livros didáticos e leis ecológicas dizem estar, afirmando constantemente que ecologia é isto OU aquilo, mas em cada manifestação, reivindicação e discurso político, social, cultural e artístico que afirmem, de forma direta ou indireta, que a ecologia pode estar aqui E ali, presente nos mais diversos tempos e espaços, atravessados por uma multiplicidade de sentidos que não fazem mais do que enriquecer as relações entre a educação e meio ambiente.

Professor Rodrigo Barchi é Coordenador do Curso de Geografia da Uniso e doutorando em Educação na Unicamp.