"Crime da mala" ocorreu duas vezes; corpos foram levados para navios
Na manhã de 4 de outubro de 1928, após uma discussão Giuseppe Pistone, 34 anos, matou a esposa Maria Mercedes Fea, 23 anos, por sufocamento com um travesseiro. Sem saber o que fazer com o corpo, resolve esquartejá-lo, cortando o joelho com uma navalha e quebrando o pescoço, para que tudo coubesse dentro de uma mala, que três dias depois do crime é colocada a bordo no navio Massilia, no porto de Santos, com destino a Francesco Ferrero, em Bordeaux, na França. Entretanto, um imprevisto muda tudo, pois a mala sofre um impacto e abre uma fresta, exalando forte odor. Na abertura, o espanto pela descoberta macabra: o corpo, a navalha e algumas peças de roupas, como 15 pares de meia, duas almofadas, duas camisolas, duas saias, uma saia com anágua, e um chapéu.
Pistone alegou traição, mas se apurou que a briga foi motivada porque ele descobriu uma carta que a esposa havia escrito para a sogra Marcelina Baeri, na Itália, contando porque Pistone queria 150 contos de réis, da herança deixada por seu pai. Ele pretendia se associar a um primo dono de uma casa de salames e vinhos. Porém, mesmo sem o dinheiro, Pistone aceitou a proposta do primo, com a intenção depois de extorqui-lo.
Em 15 de julho de 1031 Pistone foi condenado a 31 anos de prisão, e em 13 de junho de 1944, por um decreto presidencial (indulto), sua pena foi reduzida para 20 anos, e em 3 de agosto do mesmo ano, ele sai em liberdade condicional, e em 5 de novembro de 1948 sua pena é considerada cumprida. Pistone vai trabalhar de zelador em Taubaté e se casa em 1949. Ele morreu em 28 de junho de 1956, aos 62 anos.
O corpo de Maria Fea é, até hoje, um dos mais visitados no Cemitério da Filosofia, em Santos, sendo atribuído a ela diversos tipos de milagres pelo fato de, após morta, seu corpo ter expelido o feto de uma menina, de seis meses. A tragédia originou o filme O Crime da Mala, dirigido por Francisco Madrigano.
Mais um
Apesar do crime da mala praticado por Giuseppe Pistone ser o mais conhecido, o primeiro nessa modalidade aconteceu no Brasil em setembro de 1908, na rua Boa Vista, em São Paulo. O comerciante Michel Trad, 23 anos, matou por estrangulamento com corda, Elias Farah, que seria seu sócio. O corpo é embarcado, numa mala, no navio Cordillere, e diante da percepção de marinheiros sobre o forte odor, justificado por Trad como decorrente de alguns enlatados deteriorados, o criminoso resolve se desfazer da "bagagem", jogando-a ao mar. Mas ele é impedido, e o corpo de Farah é descoberto parcialmente putrefado, couro cabeludo sem rigidez e a língua caindo para fora.
Condenado a 25 anos de prisão, Michel Trad nunca confessou a motivação do crime, cujas investigações apontavam para um romance não comprovado do assassino com Carolina Farah, esposa da vítima. O filme A Mala Sinistra, de Antonio Leal, foi baseado nesse crime, devido sua grande repercussão. (A.M.)