SOROCABA E REGIÃO

Feira de cutelaria atrai centenas de pessoas


Miriam Bonora
miriam.bonora@j cruzeiro.com.br
 
Centenas de pessoas participaram ontem da 3ª Feira Anual de Cutelaria Artesanal de Sorocaba (F.A.C.A.S.), que contou com mais de 95 expositores. Colecionadores e interessados em geral conferiram facas, canivetes e machados de todo tipo, com cabos de madeira, metal, ossos, chifres, desenhos e tamanhos variados.
O organizador da feira, Luiz Antonio Camargo, conta que o evento tem atraído cada vez mais pessoas, tanto de Sorocaba quanto de outras cidades e estados. Segundo ele, a adesão deste ano superou as expectativas, pois eram esperados apenas 85 expositores. Sobre os compradores, Camargo diz que são desde colecionadores até o público em geral que se interessa, por exemplo, por facas de cozinha, de caça, pesca etc.
O cuteleiro Ricardo Vilar - reconhecido entre profissionais e colecionadores e que produz facas para o Exército brasileiro -, comemora o interesse crescente pelas lâminas. Ele trabalha no ramo há 20 anos, e conta que o mercado nacional era fraco há 10 anos. "De 2003, quando eu fui expor nos Estados Unidos pela primeira vez, até 2007, não vendi nenhuma faca no Brasil", lembra.
Foi a partir de 2007 que o interesse do brasileiro pelas facas começou a crescer, quando aumentou também a disseminação de informações. Em 2009, Ricardo já não precisava mais comercializar os produtos fora do país. Ele ressalta que o mercado nacional cresceu tanto que até os estrangeiros estão vindo expôr aqui, como o norte-americano Jerry Fisk, que estava na F.A.C.A.S. ontem.
Ricardo frisa a importância histórica e cultural das facas, confeccionadas com a mesma estrutura básica desde o tempo do homem das cavernas: um cabo e uma lâmina. "O ser humano não nasceu com garras. Somos fisicamente fracos perto dos outros animais. A única forma que tínhamos de nos igualar era criar uma ferramenta, e veio a faca".
O cuteleiro e presidente da Associação Sorocabana de Cutelaria Artesanal, Pedro Luiz Lopes, confirma que o interesse aumentou nos últimos anos, o que têm atraído cada vez mais público nas feiras. "A venda no ato nem é tão importante, mas sim o relacionamento, a troca de informações. Vendemos muito depois, pela internet". Sobre a faixa de preços de uma faca artesanal, Lopes relata que ele varia de acordo com o cuteleiro, mas podem ser de R$ 150 até R$ 20 mil, dependendo da performance, da qualidade e raridade dos materiais.
Colecionadores
O escultor Edson de Camargo, 42 anos, de Tatuí, é um dos que busca materiais diversificados para serem reaproveitados em suas peças, que são procuradas principalmente por colecionadores. Ele trabalha com tecnologia, mas pegou a onda dos novos interessados em cutelaria e, nos últimos dois anos, usa a arte e o hobby de escultor para dar nova cara às lâminas antigas.
Ele corta as têmperas originais a frio para moldá-las em curvas que acompanham as empunhaduras feitas de chifres e ossos de animais, galhos de árvores e metais. Há peças, por exemplo, em que o cabo tem a escultura de um rosto chinês, egípcio, de um caboclo, e de faces animais. "As peças tem história, como a data de forja ou as marcas de martelo do ferreiro", comenta.
O autônomo Lúcio Lourenço Faravelo, 39 anos, é colecionador há 15 anos e um dos que buscam peças diferenciadas nas feiras. "As variedades aumentaram, tem artesãos novos. Para o colecionador é uma oportunidade única. Ver e tocas as peças é muito mais prazeroso e interessante do que comprar pela internet", comenta.
O corretor de imóveis Leonardo Penna Rey Loureiro, 28 anos, veio de Rio Grande (RS) para sua primeira feira fora de seu estado. "Não imaginava que seria desse tamanho todo. Valeu a pena a viagem". Ele relata que herdou do pai a paixão pela cutelaria e que possui pelo menos 550 facas, entre artesanais e antigas, guardadas em um quarto especial só para elas.