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Vítimas e patrocinadores


Geraldo Bonadio

O jurista Magalhães Noronha, que durante longo período lecionou na Faculdade de Direito de Sorocaba, em seu clássico texto sobre o Direito Penal, se referia à receptação de bens roubados como "um crime anão", de reduzida importância entre os delitos, que afligem a sociedade.

Isso era plenamente verdadeiro à época em que o mestre escreveu seu clássico Curso de Direito Penal. A realidade mudou. Hoje, a receptação de mercadorias obtidas de maneira ilícita -- de computadores recém-saídos da fábrica a peças de carro obtidas com o desmanche de veículos roubados -- é o coração do crime organizado. Todos sabem disso, mas não são poucos os que se abastecem, episódica ou regularmente, nesse mercado.

Ao assumir a recém-criada pasta da Segurança Pública, o ministro Raul Jungman manifestou perplexidade face ao pequeno número de moradores do Rio de Janeiro a quem nada falta: "Durante o dia, clamam contra a violência, contra o crime, e à noite financiam esse mesmo crime através do consumo de drogas". Tem razão o ministro: o figurão que se deleita com rodadas de cocaína nas festas a que comparece, também arma o braço do marginal que, durante um arrastão, pode matar seu filho ou a sua mulher.

A sabedoria popular há muito adverte contra os maus resultados de se ter o pé em duas canoas, fazer jogo duplo, aliar-se a facções políticas antagônicas, elogiar pela frente e criticar pelas costas. Todas essas condutas traduzem, em maior ou menor grau, um caráter vacilante.

Ao confraternizar com o homem de duas caras e nenhuma consciência, você se aparta da vontade de Deus e entra na fila preferencial do arrependimento tardio.

"Feliz o homem que não vai às reuniões dos perversos, não frequenta o caminho dos pecadores e não participa da assembleia dos difamadores."

Salmo 1:1 Nova Bíblia Pastoral
Geraldo Bonadio é jornalista. [email protected]