JAC chega ao Brasil com o sedã e o hatch
Numa competição, escolher bem os adversários pode ser a chave do sucesso ou, se a escolha for errada, um atalho para o fracasso. A chinesa JAC Motors chega este mês ao mercado brasileiro disposta a captar habituais consumidores de Gol, Uno, Fox, Celta, Corsa, Palio, Fiesta, Agile, Sandero, C3 e 207. Além de colocar seu hatch compacto J3 para enfrentar os "best sellers" das maiores marcas instaladas no Brasil, ainda traz a versão sedã, o J3 Turin, para tentar "beliscar" também o disputado segmento de três volumes compactos, que inclui Siena, Voyage, Corsa sedã/Classic, Fiesta sedã e Logan, entre outros. E os preços já estão definidos R$ 37.900 para o J3 e R$ 39.900 para o J3 Turin. "O coração do mercado é a faixa entre R$ 30 mil e R$ 40 mil. É aí que vamos entrar", explica Sergio Habib, presidente da JAC Motors do Brasil. As metas de vendas são ambiciosas: 2 mil unidades mensais do J3 hatch e mil do sedã. "Queremos vender 35 mil carros ainda em 2011 e terminar o ano com 1% de market share no país", contabiliza Habib. Em três anos, a meta é alcançar 3% de marketing share.
Como a Jianghuai Automobile Co., mais conhecida como JAC Motors, é uma marca desconhecida no Brasil, a escolha dos adversários e as metas de vendas poderiam parecer inviáveis. E seriam, se por trás de tal projeto não estivesse o Grupo SHC, do experiente empresário Sérgio Habib. Maior varejista de automóveis do país, Habib foi o responsável há duas décadas pela implementação dos carros da Citröen no Brasil e até hoje controla mais de 50 concessionárias da marca francesa. O Grupo SHC também inclui concessionárias Ford e Volkswagen, além de ser responsável pelas importações dos modelos das marcas inglesas Jaguar e Aston Martin para o Brasil. A ousada estratégia da empresa para a JAC começa pela inauguração simultânea no dia 18 passado de 50 concessionárias em 28 cidades brasileiras. Outros 50 pontos de vendas deverão ser instalados nos principais shopping centers do país e a ideia é abrir mais 30 concessionárias ainda em 2011. Além dos compactos da linha J3, a rede ainda vai comercializar a minivan de sete lugares J6, que chega em junho, e o sedã médio J5, a ser lançado em setembro. A previsão é vender cerca de mil unidades mensais de cada. Para popularizar a marca JAC Motors, o "garoto propaganda" será o apresentador televisivo Fausto Silva, do "Domingão do Faustão".
Carro muda para gosto do brasileiro
Tantas estratégias de marketing de nada adiantariam se o produto não ajudasse. Para brigar no segmento que mais vende carros no Brasil, o escolhido foi um compacto com design do renomado estúdio italiano Pininfarina. A frente, que expressa a identidade dos modelos da marca, é inspirada nas tradicionais máscaras chinesas, com os faróis elípticos fazendo a vez dos olhos. As linhas laterais seguem o mesmo estilo fluido, com a traseira um tanto alongada para um hatch. Com design dinâmico, a traseira ostenta grandes lanternas trapezoidais, que ladeiam o porta-malas de 350 litros. No sedã Turin, de aspecto tipicamente chinês, são lanternas com formato de bumerangues que emolduram o porta-malas de 490 litros. Ambos os modelos são movidos pelo mesmo motor quatro cilindros a gasolina de 1.332 cm3 apresentado como 1.4 VVT de 16 válvulas, com potência de 108 cv a 6 mil giros e torque de 14,1 kgmf em 4.500 rotações.
Segundo o Grupo SHC, o J3 sofreu 242 adaptações em relação ao que é vendido na China para se adequar aos gostos do consumidor brasileiro. O modelo é vendido completo - o único opcional é a pintura metálica, por R$ 990. Bancos de couro serão oferecidos como acessórios em toda a rede. De série, ambos os J3 vem com direção hidráulica, ar-condicionado, vidros e espelhos com acionamento elétrico, airbag duplo, freios ABS com EBD, luzes de neblina dianteiras e traseiras, sensor de estacionamento traseiro, CD-Player com entrada USB, volante com regulagem de altura, brake light, banco traseiro bipartido 60/40, chave com destravamento remoto, travamento automático das portas aos 15 km/h e alarme, entre outros equipamentos.
A tática é óbvia: oferecer mais equipamentos que os concorrentes, por um preço igual ou mais baixo. Para convencer quem desconfia da JAC, o Grupo SHC garante que já importou 16 contêineres com mais de 10 mil diferentes itens de reposição, estocados em um galpão de 15 mil m2 em Barueri, na Grande São Paulo. E o J3 ainda oferece seis anos de garantia total sem limite de quilometragem a maior do mercado brasileiro e dois anos de assistência 24 horas da Porto Seguro Auto. "A baixa fidelidade dos brasileiros às marcas de automóveis é uma oportunidade para a JAC Motors", avisa o empresário Sergio Habib.
J3 se sai bem nas ruas e rodovias
Lançar um carro chinês no mercado brasileiro significa enfrentar um estigma. Os primeiros carros do grande país oriental a desembarcarem no Brasil, na década passada, apresentavam padrão de acabamento sofrível e eram mecanicamente não confiáveis. Algo como os carros japoneses dos anos 60 e sul-coreanos dos anos 90. Mas japoneses e coreanos, com o tempo e bastante investimento, aprenderam a fazer automóveis de alto padrão construtivo. E os chineses também vão aprender. Afinal, boa parte do que há de mais moderno na tecnologia automotiva está na mão dos grandes sistemistas mundiais do setor Delphi, Visteon, Bosch e pode ser adquirido por qualquer fabricante de automóveis que se dispuser a pagar. É nesse conceito de evolução tecnológica das marcas chinesas que deve ser avaliada a chegada do J3 e da JAC Motors ao Brasil.
A escolha de entrar no mercado de compactos responsável por mais de 80% das vendas no Brasil reflete a postura agressiva da marca. E o modelo escolhido para desembarcar por aqui, o J3, tem atributos que vão além de sua aparência. O fato do motor 1.4 de 108 cv ser de 16V faz com que a faixa mais otimizada da motorização fique em giros elevados o torque máximo chega aos 4.500 giros e a potência máximo aos 6 mil giros. No trânsito urbano, isso se reflete numa certa demora para reagir aos comandos do acelerador quando o giro está baixo. Nessas horas, o melhor mesmo é reduzir a marcha e ter um pouco de paciência. Depois que o motor embala e o giro sobre, o J3 se mostra bem mais esperto e consegue oferecer boas retomadas de velocidade.
No trecho de quase 520 quilômetros onde foi avaliado - nas rodovias Dom Pedro I, Carvalho Pinto e Dutra, que ligam a cidade de Campinas ao Rio de Janeiro , o compacto chinês teve condições de encarar sol, chuva e diversas qualidades de pista. E se saiu bem. Acelerou de forma desembaraçada até os 170 km/h e ofereceu boas retomadas sempre que exigido. Mesmo em altas velocidades, não apresentou sinais de flutuação, virtude rara nesse segmento. Nas curvas, obviamente feitas em velocidades bem mais comedidas, o modelo também mostrou bom equilíbrio. Os freios com ABS e EBD são de série no J3.