CULTURA

Data é lembrada no monumento à Mãe Preta

Maíra Fernandes
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Aemblemática escultura da Mãe Preta, do artista sorocabano Oswaldo Saiane, será o palco das comemorações da Abolição da Escravatura, logo mais, às 19h, na Praça Castro Alves, em frente à rodoviária de Sorocaba. O evento, realizado pela Secretaria da Cidadania, em parceria com os Conselhos da Mulher e do Negro e o Movimento de Mulheres Negras de Sorocaba (Momunes), será aberto pelo prefeito Vitor Lippi, e depois os pronunciamentos seguem com a presidente do Conselho da Mulher, Maria Thereza de Três Rios Meletti, que fará um histórico das comemorações e do trabalho do Momunes, e Márcio Brown, presidente do Conselho do Negro, que falará a respeito do movimento Rap e sobre as lutas dos negros.

Também haverá apresentações do Coral das Crianças do Quilombinho, do grupo Panela do Samba, de bateria, e o coral do Momunes, além de homenagens às mães Vera Maria da Silva e Biuldes Leme de Albuquerque. A data lembra o dia em que a então Princesa Isabel assinou a Lei Áurea, em 13 de maio de 1888, extinguindo a escravidão no Brasil.

Nem tão comemorado assim

Mesmo com o título de comemoração, o presidente do Conselho Negro de Sorocaba, Márcio Brown, reforça que não há muito o que se comemorar na data. Como explica, para a comunidade negra a data mais importante é o 20 de novembro, quando se comemora a "Consciência Negra". "A população negra tem o 13 de maio como dia da denúncia contra a escravidão e o racismo", argumenta Brown e prossegue: "Para nós, vai ser um dia de refletir. Em Sorocaba, não conseguimos ainda desenvolver uma reflexão exata do que pensamos, pois a comunidade negra está começando a se unir agora."

Para ele, o 13 de maio sempre remeteu à dor dos negros enquanto escravos; já o dia 20 de novembro, às lutas. "Parece que Portugal e a princesa foram legalzinhos com a gente e não foi bem isso. A maioria da população negra é pobre no Brasil. Como comemorar o dia 13 se ainda há exclusão?", rebate.

Sobre o artista

Em Sorocaba, o monumento à Mãe Preta, que faz referência à Mãe África, continente de onde foram capturados os negros para serem escravizados no Brasil, foi produzido por Oswaldo Saiane a pedido do poder público. O artista, que é um dos maiores escultores da cidade ainda vivo, assina também outros monumentos importantes como a escultura em homenagem à Dom Aguirre. Hoje, o aposentado artista só trabalha por encomenda, e mesmo assim, se dá ao luxo de negar.

Em sua casa, divide espaço com algumas das esculturas que restaram. Muitas delas, reforça, ou foram doadas ou vendidas até para o exterior. "Nem sei em quais país estão", brinca o bem humorado artista. Para entender o tamanho da importância do artista, quando jovem, Saiane conseguiu chegar a um patamar bastante confortável de vida, quando morava em São Paulo e contava com uma galerista para vender suas obras. Passado essa boa fase, a qual não sabe precisar o motivo da mudança, Saiane, que voltou à Sorocaba, entrou no funcionalismo público e se aposentou.