Doença não tem cura, mas tem controle
Daniela Jacinto
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Aos 17 anos de idade, apareceram umas manchas vermelhas no joelho, cotovelo e couro cabeludo da gaúcha Marli Hoffmann, jornalista hoje radicada em Sorocaba. Isso aconteceu há mais de 25 anos e, naquela época, ela nem imaginava o que poderia ser. Pensava que fosse reação a algum tipo de comida. Correu ao médico, que disse tratar-se de sarna. "Fiquei horrorizada e comecei a fazer um tratamento que não teve resultado. Eu estudava à noite e era muito constrangedor quando sentava no ônibus e as pessoas viam meu couro cabeludo daquele jeito. Quando ia para a balada, minhas amigas aconselhavam a não sentar pra ninguém ver. Imagine, eu sou bem loira e a pele ficava vermelha, com feridas, e ainda por cima coçava", lembra.
Demorou para saber que tinha psoríase. "Um dia, uma amiga indicou um médico, que deu o diagnóstico. Tive problemas pra aceitar a doença", conta Marli. Ela afirma que há seis anos a doença está controlada e aconselha àqueles que convivem com alguém que tem psoríase a não terem preconceito. "Ao contrário, devem ajudar, incentivar a procurar ajuda médica. Eu sofri muito no começo, por parte de pessoas com medo de contágio, gente com nojo, enfim, sei que não é mesmo uma aparência bonita, mas é preciso entender o que está acontecendo, aceitar a doença e procurar se manter calmo. Teve uma fase que eu sentia vergonha das pessoas, pois cheguei a ter feridas até na sobrancelha. É muito constrangedor, mas hoje aprendi a lidar com isso", diz.
Marli acredita que o estado nervoso ajudou a desencadear o problema. "Eu tinha perdido o meu primeiro emprego e isso tinha abalado o meu emocional. Fiz tratamentos e consegui controlar, mas quando fico estressada ela ameaça a aparecer. Por isso sou adepta de uma vida saudável, tranquila e levo as coisas mais na esportiva". Estima-se que em Sorocaba, 2% da população tenha psoríase, e apesar de não haver dados oficiais no país, pesquisadores acreditam que ela atinja ao todo mais de 3 milhões de brasileiros. Doença inflamatória crônica da pele, a psoríase se manifesta, na maioria das vezes, por lesões róseas ou avermelhadas recobertas por escamas esbranquiçadas. Em alguns casos, as lesões aparecem nos cotovelos, joelhos ou couro cabeludo. Já em outros, se espalham por toda a pele.
Frequentemente há acometimento das unhas e inclusive articulações. Antigamente confundida com a hanseníase (lepra), a doença chegou a causar grandes transtornos para seus portadores. A falta de informação, ainda hoje, é a pior inimiga dos que têm psoríase, que sofrem isolamento e rejeição por parte de muita gente que pensa tratar-se de doença contagiosa. Não é. Na verdade, a psoríase nunca é adquirida pelo contato, mesmo íntimo. Tão pouco resume-se a um problema de pele. Há apenas dois anos foram descobertas as consequências dessa inflamação, que tem vários graus, podendo se espalhar para o corpo todo e afetar diversos órgãos, com risco de infarto e derrame.
O QUE É
Ao contrário do que se pensa, a psoríase não surge por problemas de ordem emocional. É uma doença de pele e de articulações (chamada psoríase artropática), de origem genética, mas que atinge somente 30% dos indivíduos que possuem histórico familiar. Existem dois picos de idade de prevalência: antes dos 30 e após os 50 anos. E, em 15% dos casos, surge antes dos dez anos de idade, com grande frequência em pessoas da pele branca, sendo mais raras em negros, índios, asiáticos, não tendo sido ainda diagnosticada entre esquimós.
COMO TRATAR
Os cuidados básicos recomendados são: hidratar a pele diariamente, tomar sol com moderação, usar filtro solar, evitar medicação a base de corticóides e evitar atrito na pele. Alimentos com ômega 3 e 6 podem ajudar no processo de restauração da pele.