Os desafios das lições de Paulo Freire continuam vivos
Regina Helena Santos
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Considerado um dos maiores educadores brasileiros, Paulo Freire foi lembrado neste mês de setembro, 14 anos depois de sua morte, pela passagem da data em que completaria 90 anos de vida. O momento gerou uma série de homenagens, inclusive em Sorocaba, que recebeu na noite da última segunda-feira a visita da professora Ana Maria Araújo Freire, a Nita Freire, viúva do pedagogo, que assumiu a função de continuar levando suas ideias, conceitos, teorias e livros Brasil afora. Aos 77 anos, a também pernambucana, mestre e doutora em educação pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), organizou e trabalhou pela publicação de vários livros de Freire, após sua morte, além de lançar dois títulos: "Nita e Paulo: crônicas de amor" e "Paulo Freire: uma história de vida", com o qual recebeu o Prêmio Jabuti 2007, na categoria Melhor Livro de Biografia.
Antes de abrir, com uma palestra, as atividades da Mostra Anual de Produção Acadêmica (Mapa) de 2011 da Faculdade de Educação Física da Associação Cristã de Moços de Sorocaba (Fefiso), Nita Freire falou sobre sua missão, os traços de Paulo Freire nas escolas brasileiras e a importância da luta pela valorização do professor. "Se o professor hoje é desrespeitado na escola é porque é desrespeitado na sociedade."
Jornal Cruzeiro do Sul - A sra. viveu dez anos ao lado de Paulo Freire e após a sua morte continuou o legado de propagar suas ideias. Por que seguir neste trabalho?
Nita Freire - Eu persisto porque eu acredito na teoria educacional que Paulo criou tentando humanizar, dignificar e solidarizar com as pessoas, sobretudo com os oprimidos, com os mais fracos e pobres. Não é só porque fiquei sucessora da obra dele, nomeada pelo seu testamento. Eu venho organizando livros, fazendo palestras e mobilizei muita gente quando coloquei na internet: "2011, ano comemorativo dos 90 anos de nascimento de Paulo Freire". Muita gente se lembrou que a gente não pode se esquecer dos grandes homens, dos brasileiros que pensam esse País seriamente, tendo em vista que somos uma sociedade autoritária, elitista e que se há de fazer sempre mais movimentos em prol da democratização da sociedade. O que me leva a esse trabalho é isso. Eu acredito no que Paulo fez, no que ele escreveu. Paulo nos mostra caminhos de uma vida mais ética, mais feliz. E acho que isso vale a pena não se deixar esquecer.
CS - E quando se fala em sociedade elitista, escola para os excluídos, como a sra. vê a escola brasileira de hoje? Estamos avançando?
NF - O Brasil está avançando sim, mas ainda estamos muito longe da educação que nós queremos. O esforço para uma educação melhor vem sendo grande. Houve a inserção de classes que estavam condenadas à pobreza, mas é preciso que o movimento de cultura caminhe com a educação para que haja a inserção das pessoas enquanto gente, enquanto ser humano. Eu acho que isso está faltando. Essa conjugação de esforços, um esforço cultural, porque os brasileiros têm um potencial criativo enorme. E isso muitas vezes é perdido pela história de pobreza, de não compreensão de cada um de nós como agentes da cultura, como transformadores da sociedade. Estamos quase universalizando, a escola fundamental passou de oito para nove anos, mas me refiro não somente ao conhecimento científico, necessário para o desenvolvimento do País, mas da criação de cultura. O povo tem que saber que faz um carnaval bonito, joga um futebol bonito, que a música que faz é tão importante quanto a de autores clássicos, que transformar argila em santos e objetos é criação de cultura. E que o povo fazendo cultura está transformando a sociedade e dando o seu perfil: nós somos um País assim. E isso como fator engrandecedor das pessoas, de auto-realização, de humanização de cada um de nós. Ainda falta chamar o povão para ser agente de cultura do Brasil.
CS - Qual traço da educação brasileira a sra. vê, hoje, com o maior resquício das ideias plantadas por Paulo Freire?
NF - Não existem somente resquícios, existe muita coisa que Paulo implantou. Às vezes não com a radicalidade e a profundidade que ele queria. Mas, por exemplo, o movimento de educação e alfabetização de jovens e adultos, naquele tempo, mais que hoje, partindo dos movimentos sociais, das favelas, dos aglomerados, das vilas, que queriam a alfabetização. Esse tipo de educação veio para ficar e é algo eminentemente freireano.
CS - E o que foi dito por Paulo Freire que os educadores e governantes ainda não abriram os olhos?
NF - Tem muita coisa. É preciso dizer que o professor tem que buscar mais a sua valorização. Ele luta muito por melhores salários, condições de trabalho, mas tem que lutar pela dignificação. Porque esta já foi uma profissão altamente respeitada no Brasil e hoje em dia a gente vê o professor ser desmoralizado, levar tiro, surra. É preciso que haja uma cultura do diálogo, de procura, por parte do professor, do como fazer para resgatar este estágio no qual já tivemos.
CS - E esse resgate deve partir do próprio professor?
NF - Tem que partir dele, mas ele tem que procurar os aliados. Os pais, os alunos, a direção da escola e ir ampliando isso para a sociedade como um todo. Porque se o professor hoje é desrespeitado na escola é porque é desrespeitado na sociedade toda. Tem que existir o empenho de movimentos, de organizações, em prol do restabelecimento da educação como algo fundamental e determinante para a emancipação e libertação do Brasil.
CS - Muitos professores e escolas falam que aplicam o modelo freireano em suas ações educadoras. Porém, nem todos que anunciam realmente o fazem. Isso preocupava Paulo Freire?
NF - É moda. Preocupa mais a mim do que preocupava a Paulo. Ele falava que os equívocos e os erros as pessoas vão constatando depois. Ele dizia ainda: "não posso controlar o que se pode fazer em meu nome pelo mundo todo. Vou entrar em desespero se quiser controlar o que dizem e que uso fazem de mim. Agora o que eu fiz, o que eu disse, está escrito". Existe muita gente que inventa histórias, conta que trabalhou com ele. Isso é um falso testemunho, não é algo louvável. Paulo tinha muita paciência com essas coisas, mais do que eu tenho. Eu fico muito zangada, às vezes, quando dizem: "isso fazemos em nome de Paulo Freire. Isso é freireano" e que eu vejo que fica muito distante do que ele fez, do que proclamou e praticou.
Um educador do Brasil e do mundo
O homem que se tornaria um dos maiores educadores do Brasil, Paulo Reglus Neves Freire (1921-1997), nasceu na cidade de Recife (PE), no dia 19 de setembro. Foi alfabetizado "à sombra das mangueiras", como contava, usando gravetos para escrever e depois ler as palavras "do seu mundo". Com a crise de 1929, quando sua família perdeu tudo o que tinha, mudou-se para Jaboatão dos Guararapes (PE), onde conheceu a verdadeira miséria. Com muita luta, empenho e ajuda de sua mãe, continuou seus estudos - boa parte como bolsista no Colégio Osvaldo Cruz, cujo proprietário era o pai de Ana Maria Araújo Freire, a Nita Freire, que o conheceu quando tinha três anos de idade e não imaginaria ser, um dia, sua segunda esposa.
Tornou-se professor e começou a mostrar ao Brasil suas ideias em 1963, numa experiência com 300 trabalhadores rurais em Angicos (RN), quando promoveu a alfabetização do grupo em apenas 45 dias. O segredo? Discussões, nos chamados "círculos de cultura", de questões regionais e locais e a promoção do ensino da leitura e escrita tendo como base o dia-a-dia daqueles trabalhadores, com a intenção de transformá-los em sujeitos de sua aprendizagem e protagonistas políticos capazes de debater o mundo. O trabalho rendeu a Paulo Freire um convite para integrar o Ministério da Educação, suspenso poucos meses depois com sua prisão e exílio, por conta do Golpe Militar de 1964. O protagonismo político proposto pelo método de alfabetização de Freire foi considerado subversivo. Fora do País, fez suas ideias famosas na Bolívia, Chile, Suíça e por todo o mundo, que aprendeu a respeitá-lo pelos conceitos que aplicava. Freire só voltou ao Brasil em 1979. Publicou mais de 25 obras, todas traduzidas em dezenas de línguas, dentre as quais a famosa "Pedagogia do Oprimido". Sua história e obra podem ser conhecidos por meio de várias fontes, dentre elas o site www.projetomemoria.art.br/paulofreire.
Amanhã
Ensino fundamental
Seguem abertas até amanhã as inscrições para o concurso público que visa o preenchimento de 11 cargos na área da Educação na Prefeitura de São Roque: assistente técnico pedagógico, assistente técnico psicopedagógico, diretor de escola de educação básica e professor adjunto de ensino fundamental II das disciplinas Ciências, Artes, Educação Física, Geografia, História, Inglês, Matemática e Língua Portuguesa. A remuneração varia conforme o cargo. As inscrições devem ser feitas exclusivamente no site da administração municipal -www.saoroque.sp.gov.br - onde também é possível ter acesso ao edital. As provas estão previstas para o dia 6 de novembro.
Concurso de Bolsas
O Colégio OSE COC está com inscrições abertas, até amanhã, para o CONCOC, concurso de bolsas de estudos para alunos que cursarão o 6º ano do ensino fundamental e a 1ª série do ensino médio em 2012. Elas podem ser feitas no site www.osecoc.com.br ou pessoalmente, na rua da Penha, 620, centro. As provas - compostas por testes de Matemática e Língua Portuguesa - serão realizadas no sábado, dia 1º de outubro, às 9h para os candidatos do ensino médio e às 14h para o ensino fundamental. Mais informações pelo telefone (15) 2101-3800.
Semana da Química
Estão abertas até amanhã as inscrições para a I Semana de Química, que será promovida numa parceria entre a Universidade de Sorocaba (Uniso) e o câmpus local da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) na próxima semana, de 3 a 7 de outubro. O evento faz parte das comemorações do Ano Internacional da Química (AIQ 2011) e busca suprir as necessidades da região que não dispõe, atualmente, de canais amplos ligados à área. O objetivo é ampliar o conhecimento sobre o assunto, contribuir para a formação acadêmica na área de Educação Química e incrementar a formação dos futuros profissionais. A Semana contará com palestras, minicursos, exposição e apresentação de trabalhos. Mais informações e programação completa no www.semanadaquimica.xpg.com.br.
30 de Setembro
Escola técnica
A Escola Técnica Estadual "Rubens de Faria e Souza" prorrogou até a próxima sexta-feira, dia 30 de setembro, o prazo para inscrições de professores interessados em ingressar na instituição nas áreas de: Automação Industrial/Instrumentação e Equipamentos Industriais/Mecânica / Mecatrônica / Química/Alimentos/Nutrição e Dietética/Enfermagem/Eletrônica/Eletrotécni
ca e Ensino Médio. As inscrições podem ser feitas das 13h30 às 16h30 na Seção Pessoal da escola, na avenida Comendador Pereira Inácio, 190, com a apresentação de cópia e original de um documento de identidade que contenha o número do RG. Mais informações pelo telefone (15) 3233-1316.
1 de Outubro
Visita à Unesp
Os estudantes do ensino médio interessados em conhecer o câmpus de Sorocaba da Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (Unesp) podem participar, neste sábado, 1º de outubro, do projeto "Sem Fronteiras". Das 9h às 17h acontecerão atividades programadas para que os visitantes possam conhecer mais sobre as carreiras profissionais, visitar laboratórios didáticos e de pesquisa, participar de oficinas e conferir exposições com trabalhos dos alunos do ensino superior. Mais informações podem ser obtidas no site www.sorocaba.unesp.br/semfronteiras.