CULTURA

Sorocabanos entram em cartaz no Sesc Consolação com 'Depois Daquela Viagem'

José Antônio Rosa
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Foi durante um cruzeiro nos anos 80 que a escritora Valéria Piassa Polizzi contraiu o vírus HIV. Como em tantas outras histórias sobre a doença, a de Valéria foi marcada pela expectativa em torno das incertezas sobre o tempo de sobrevida que ela teria e pelo preconceito que, fatalmente, enfrentaria por conta disso. Passados quase vinte anos, Valéria Piassa retratou o próprio drama em "Depois Daquela Viagem - Diário de Bordo de uma Jovem que Aprendeu a Viver com Aids".

O livro se tornou um best seller e ganhou adaptação para o teatro pelas mãos do jornalista e crítico de arte Dib Carneiro Neto. O texto foi mantido guardado até este ano, quando a produtora Roseli Tardelli decidiu montá-lo. A peça, que conta no elenco com as presenças dos sorocabanos Giovani Tozi e Rafael Sola, começa temporada hoje no Sesc Consolação, com sessões às quartas e quintas.

Giovani e Rafael fazem parte do grupo de 14 jovens atores aprovados em teste para o espetáculo. Foi com o primeiro que a reportagem do Mais Cruzeiro conversou ontem, horas antes da estreia para convidados. Entusiasmado, Tozi engrossou o coro dos artistas que esperam mostrar o trabalho na cidade. A temporada segue até o próximo dia 20 na Capital; em seguida, deve excursionar pelo interior. "Quem sabe, Sorocaba não é incluída no roteiro", torce o ator.

"Depois Daquela Viagem", continua Giovani, não pretende cumprir uma função didática. "A proposta, claro, é reforçar o alerta sobre os riscos de contágio, mas a linguagem e a dinâmica trabalhadas por Dib Carneiro Neto, tornam a produção mais atraente e interessante ao público." Todas as passagens mostradas tomaram por base fatos reais e o mesmo acontece com os personagens. Govani, por exemplo, interpreta o médico que cuidou de Valéria, e que ela descreve como "um anjo".

No processo de preparação que consumiu três meses de trabalho, o elenco conversou com especialistas e aprendeu que o perfil da AIDS mudou. "Hoje, o diagnóstico não tem mais o peso de uma sentença de morte, como acontecia há algum tempo. Existem tratamentos que asseguram não apenas uma sobrevida maior, como, principalmente, uma qualidade de vida muito melhor. O espetáculo tem, assim, também, a função de desfazer esse estigma, de discutir o assunto."

Hoje radicada na Áustria, Valéria acompanhou um dos ensaios. "Foi um momento lindo, emocionante. Ela se comoveu com o tratamento dado à sua própria história e acrescentou algumas informações importantes." Três atrizes revezam-se no papel da protagonista. "Essa foi uma sacada muito legal do Dib. Deu mais ritmo, agilidade à ação, e dá bem a ideia das transformações ocorridas ao longo do tempo."

Tozi também destacou a trilha sonora, assinada por Ed Côrtes. Ele que escreveu temas para os filmes "Carandiru" e "Abril Despedaçado", deu ao trabalho um ""tratamento contemporâneo"". A peça tem a direção de Abigail Wimer, cenografia e figurinos de Márcio Medina. Já Dib Carneiro tem outros dois textos em cartaz na atual temporada teatral paulistana: "A Crônica da Casa Assassinada", com direção de Gabriel Vilela e "Salmo 91".

SERVIÇO:

"Depois Daquela Viagem"
Texto de Dib Carneiro, baseado no Livro de Valéria Piassa Polizzi, com direção de Abigail Wimer
De hoje até o dia 20, no Sesc Consolação, à rua Dr. Villa Nova, 245 - São Paulo
As sessões acontecem às quartas (20h) e quintas (15h e 20h)
Os ingressos custam de R$ 2,50 a R$ 10
Outras informações pelo telefone (11) 3234-3000.