Cururu volta a ser festejado no Barcelona
Priscila Fernandes
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O tradicional cururu voltou a ser uma das atrações do clube do Atlético Barcelona, um domingo por mês. O desafio entre duas duplas de caipiras, que cantam rimas provocadoras, não acontecia desde dezembro. Revivido por um grupo de cururueiros, com o apoio da Secretaria de Cultura do Município, a arte mostrou que ainda tem força na região. No último domingo (23), cerca de 200 pessoas se reuniram para apreciar novamente a tradição caipira.
"Decidimos abrir esse espaço para matar a saudade. Hoje em dia, as pessoas vão nessas baladas, mas eu gosto do cururu", conta Benedito Lisboa Belo, 72 anos, um dos diretores do clube. Para o cururueiro Cido Garoto, 69 anos, que se apresenta em várias cidades da região desde 1967, divulgar essa tradição é essencial para a cultura do interior. "Nós cantamos em toda parte, até na capital. Ainda faz muito sucesso", orgulha -se.
O desafio cantado é típico da chamada região do Médio Tietê - formada por cidades que ficam próximas ao rio - e tem como principais características a provocação e o improviso. "No cururu, as duplas se enfrentam ao som dos violeiros e tocadores de pandeiro. É como se fosse uma trova caipira, a gente tem que cantar, no ritmo da viola, as rimas que inventamos na hora", relata Cido. A irreverência dá o tom das canções. "É uma grande brincadeira. A gente implica com os cantores e com as pessoas que estão na roda", comenta.
Para que a festa dure entre três e quatro horas é preciso muita provocação. "Se não tem defeito, tem que inventar", brinca a apresentadora de cururu Ana Sueli, 63 anos, conhecida como Nhá Bentinha. Cido lembra que por várias vezes cometeu erros propositadamente, só para não deixar a discussão esfriar. "Tem que dar um espetáculo. Se eu vejo que o cururueiro é fraquinho eu deixo umas abas para ele pegar", explica. Apesar de tantas farpas, ninguém leva mágoa para casa. "Parece que a gente está brigando de verdade, mas quando acaba todo mundo volta a ser amigo normalmente", relata o cantor Arlindo Mariano, 64 anos.
Para Cido, esta tradição nunca vai acabar. "A maior parte dos cururueiros tem mais de 60 anos, mas tem surgido um pessoal novo que gosta desta arte. Tem cantor de 18 anos, estudantes de universidades que querem pesquisar e um monte de fãs que colocam os vídeos de nossas apresentações na internet", conta o cantor que pretende continuar divulgando o cururu. "A minha vida é esta arte", diz.
O próximo cururu será realizado 27 de novembro, a partir das 17h, no Clube do Atlético Barcelona - localizado na avenida Paraguai.