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O que revelam, afinal, os desenhos infantis?



Lucimeire Prestes de Oliveira Tomé

Sabemos que há um tempo o desenho era utilizado pelo adulto como atividade para ocupar as crianças. Não era dada efetiva importância para este momento, simplesmente eram oferecidos à criança os materiais e ali ficava entretida e já não dispendia tantos cuidados. Hoje muita coisa mudou, os adultos se mostram mais interessados pela produção artística infantil. Profissionais da área da educação e psicologia percebem nesta atividade um aspecto importante, em que a criança expressa através do desenho as suas emoções, revelando segredos que se passam no seu mundo interno e que ainda não é capaz de comunicar pela linguagem oral.
Quando desenha, a criança conta histórias e às vezes representa, expressando sentimentos que até então estavam escondidos.
Utiliza para a atividade de desenhar, papel, cartolina, lousa, muro, chão, madeira, pano e alguns instrumentos como lápis, giz, pincel, canetinha e até mesmo os dedinhos.
Algumas atitudes do adulto poderão influenciar a atividade de desenhar, pois quando estabelece regras em demasia, como o que desenhar, como desenhar, que cor usar, inibe a expressão livre da criança, sendo que o objetivo principal da arte de desenhar é contribuir para que esta possa expressar suas emoções.
O desenho é também uma maneira da criança raciocinar, pois enquanto desenha está organizando em seu interior as ideias de mundo e construindo também as suas próprias ideias.
Métodos para estudo do desenho infantil
Utilizam-se para estudar o desenho infantil dois métodos:
-Método estatístico ou estudo transversal: é o estudo feito com um grande número de crianças de diferentes idades. Por esse método ficam-se conhecendo diversos aspectos do desenho infantil, como temas preferidos, características de várias idades e em cada sexo, ou as características que acontece em algumas idades e não em outras.
-Método biográfico ou estudo longitudinal: este método consiste em colecionar muitos desenhos de uma mesma criança, desde as garatujas (rabiscos) até aproximadamente aos 12 anos. Somam-se com os desenhos, as condições em que a criança se encontrava ao realizá-los, as cores por ela escolhidas, o espaço por ela utilizado no papel, as expressões fisionômicas enquanto desenha, sua tonicidade e as figuras desenhadas e a importância e significado que a criança atribui a elas.
Desenvolvimento completo do desenho infantil
Através do método estatístico, chegou-se a conclusão que as crianças menores de seis anos, preferem desenhar figura humana, já a diferenciação quanto ao sexo é notada dos quatro aos oito anos.
As meninas preferem representar crianças, pois suas figuras trazem fitas no cabelo, carregam bolsas e geralmente após aos seis anos se voltam às coisas domésticas, como mesa, toalhinhas, bandejas, etc.
Já os meninos preferem desenhar adultos, pois notamos que suas figuras possuem chapéu, bengala e usam calças compridas. E ainda após os seis anos são mais voltados a objetos mecânicos como veículos, revólver, etc.
Após os seis anos, tanto as meninas, quanto os meninos, se voltam a objetos que fazem parte do seu cotidiano e da sua vida social.
As crianças de maneira geral, ao desenhar não têm noção de proporção, desenhando a cabeça maior que o corpo ou vice-versa.
Com o desenvolvimento mental, a criança começa a ter noção de proporção revelando um maior acerto na dimensão de cada elemento da figura humana.
Outra particularidade é a falta de orientação das partes do corpo, alguns elementos de frente, outros de perfil.
Sabemos, no entanto, que o desenho infantil evolui, Isto é, características próprias de uma idade não são as que aparecem em outras.
Características do desenho da figura humana
A criança na maioria das vezes esquece-se de partes do corpo humano, como tronco, orelha, porém prende-se a acessórios, como bolsas, cintos, brincos, etc.
Uma criança de mais ou menos quatro anos não coloca nas suas figuras uma base, sempre as desenha flutuando. A partir do desenvolvimento mental, a criança adquire essa noção, passando um traço por baixo do desenho. Porém, o adulto deve ficar atento a este detalhe, pois se uma criança com idade mais avançada continua a fazer seus desenhos sem colocar uma base, talvez esteja sentindo-se insegura e sem apoio.
Outra característica do desenho infantil é a rigidez, as crianças menores sempre desenham seus bonecos com braços, dedos e cabelos esticados e com o desenvolvimento mental, espera-se que os desenhos demonstrem mobilidade.
E por fim, a transparência, muitas vezes a figura humana aparece vestida, mas deixando transparecer o corpo através da roupa. As crianças, de uma maneira geral apresentam com mais frequência um traço contínuo, com linhas firmes, grossas e pesadas.
Outras características importantes
CASA - o adulto deve estar atento quanto portas e janelas da casa desenhada pela criança, visto que estas representam o contato com o meio ambiente, ou seja, se uma criança desenha portas e janelas fechadas, leva-nos a pensar que talvez a interação com o ambiente e com as pessoas está difícil para ela.
A linha representativa do chão simboliza o contato com a realidade.
FAMÍLIA - a criança que desenha sua figura isolada ou afastada dos familiares pode estar querendo mostrar a falta de comunicação entre os membros.
Percebemos também que quando a criança representa a sua figura por último, pode ser que esteja com a sensação de não receber a devida atenção na família. Daí a necessidade do adulto estar atento em qual ordem à criança faz seus desenhos. Quanto ao tamanho das figuras, o que vemos é que as pessoas da família com quem a criança tem maior proximidade afetiva são figuras desenhadas de forma maior, mais colorida e expressiva.
Notamos que na maioria das vezes ao desenhar, o espaço é regido pelo emocional, ou seja, se a criança está vivenciando uma relação conflituosa com o pai, coloca-o no seu desenho no canto da folha, bem distante da família, mesmo não sendo sua real posição física.
ÁRVORE quando a criança desenha uma árvore, devemos estar atentos quanto à copa desta árvore, pois representa a área da criatividade.
Outro aspecto é quanto aos frutos, pois estes representam o desejo de realizar coisas.
Em relação à linha do solo, que é à base da árvore, esta nos fornece dados sobre a necessidade de apoio.
Importância das cores
A simbologia das cores varia de cultura para cultura, ocorrendo uma diversidade de interpretações. No entanto quanto mais bizarro for o emprego da cor, maior a probabilidade de ter um significado representativo.
Amarelo- é a cor da luz, do ouro e do sol. É a cor preferida por pessoas alegres, desinibidas, flexíveis e espontâneas. Quando utilizada pela criança com muita ênfase sugere um comportamento mais dependente e emocional.
Azul- é a cor do céu, do espírito. A contemplação do azul determina leveza e contentamento. É a cor preferida por pessoas calmas, seguras e equilibradas.
Laranja- é a cor preferida por pessoas confiantes, perseverantes, independentes e extrovertidas. Quando utilizado pelas crianças sugere desejo de conseguir algo e se valorizar.
Marrom- é a cor preferida de pessoas passivas, indiferentes, inseguras e observadoras de regras. Quando usado com muita ênfase por crianças, sugere inibição ou repressão.
Preto- é a ausência de todas as cores, transmite a sensação de renúncia, entrega, abandono e introspecção. Em crianças reflete repressão da vida emocional, ansiedade e luto.
Verde- é a cor da natureza, do crescimento, da reprodução, é chamada a cor do equilíbrio. Quando usada com muita ênfase pelas crianças sugere dificuldade de expressão das emoções.
Vermelho- universalmente considerado como símbolo fundamental do princípio da vida, é a cor do sangue. É uma cor ativa e estimulante. O interesse pelo vermelho decresce à medida que a criança supera a fase impulsiva e ingressa na fase da razão.
Violeta ou roxo- é uma cor resultante da mistura do vermelho com o azul e nas crianças reflete um temperamento mais sombrio ou tristeza.
Faz-se necessário que o adulto esteja cada vez mais atento e sensível à construção do desenho infantil, pois como pudemos perceber, este é um dos instrumentos utilizados pela criança para expressar suas emoções e conflitos. Através do seu desenho, a criança nos convida gentilmente a adentrar o seu mundo interno.
Quanto ao professor, no espaço rico da sala de aula, através da atividade de desenhar este terá oportunidade de conhecer mais intimamente o seu aluno e dentro do que compete a sua função acolher as emoções vivenciadas e junto a este aluno desenvolver uma relação de cumplicidade, amizade e afetividade.

Lucimeire Prestes de Oliveira Tomé é pedagoga; psicóloga clínica com Formação em Avaliação Neuropsicológica de Crianças e Adolescentes e especialista em Psicologia Escolar e Educacional, Educação Especial e Terapia Sistêmica de Casal e Família ([email protected])