ESPORTES

Mulheres vão à luta

Ana Paula Yabiku Gonçalves
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programa de estágio

Autodefesa, condicionamento físico, estética ou, simplesmente, hobby. Muitos são os motivos que levam um número cada vez maior de mulheres a, literalmente, arregaçar as mangas e partir para a luta. Com a popularização das artes marciais mistas -- ou, simplesmente, MMA (sigla para mixed martial arts) -- nos últimos anos, a procura por modalidades como boxe, jiu-jítsu, muay thai, karatê e judô nas academias vem aumentando consideravelmente em todo o País. Inclusive entre as mulheres.

Para o coordenador técnico da Liga Sorocabana de Boxe, Vladimir Juliano de Godói, isso acontece porque as mulheres nem sempre se acostumam com exercícios mecânicos e repetitivos e optam pelas dinâmicas aulas de luta. Grande parte delas pratica musculação apenas por obrigação e pelos efeitos positivos da atividade, já comprovados cientificamente. Já os homens, em geral, preferem a musculação às artes marciais. "Alguns profissionais sugerem, ignorantemente, que as lutas eliminem massa muscular magra, quando simplesmente complementam os exercícios musculares", explica Vladimir.
O elevado gasto calórico também seduz as mulheres a praticarem artes marciais. O esporte é bastante indicado para quem quer perder peso, seja por questões de saúde, bem-estar ou estética. Além disso, sua prática faz com que o sistema nervoso libere endorfina, o hormônio do prazer, permitindo que as alunas tenham algumas horas de lazer, após um dia estressante no trabalho ou em casa. De acordo com Vladimir, poucas alunas buscam as aulas realmente pela luta em si. "Além de terem medo, elas precisam acordar no dia seguinte e tocar a vida normalmente. Muitas só estão procurando companhia para o esporte", explica.

Influenciada pelo pai e pelo irmão, a professora de educação física Kátia Mayumi Yamamoto, de 30 anos, acabou aderindo às artes marciais mistas. "Os dois praticavam e, por curiosidade, tive o interesse de experimentar", conta. Ela praticou judô e jiu-jítsu na Academia Bonsai no Japão, onde morou por cinco anos. Logo que começou, identificou-se com o esporte. "Sempre fui um pouco bruta e nunca levei muito jeito para atividades delicadas, como dança". Infelizmente, o rompimento de ligamentos nos dois joelhos -- um durante os treinamentos e outro numa atividade da faculdade -- fizeram-na dar um tempo nas artes marciais. Entretanto, Kátia pretende voltar a praticar o judô, o jiu-jítsu e até outras modalidades de MMA. "Eu sinto falta, pois é um esporte que me trouxe condicionamento físico e defesa pessoal", explica.

A estudante Gabriela Pereira de Melo Rodrigues, de 17 anos, também decidiu experimentar o jiu-jítsu. No começo praticava por lazer mas, com o passar do tempo, pegou gosto e amor pela "arte suave". A partir daí, foram mais de três anos de treinamento na Academia Herman Gutierrez/AOA e três edições do Campeonato Paulista na modalidade. Em 2009 Gabriela foi vice e, no ano seguinte, campeã. Em 2011, ficou com a terceira colocação na categoria juvenil. Já neste ano, a estudante precisou fazer uma pausa nos treinamentos, uma vez que tem ocupado seu tempo estudando para os vestibulares. "Mas no ano que vem estarei de volta aos tatames", garante. Além do jiu-jítsu, Gabriela pretende praticar muay thai e natação.

Para Jéssica Rodrigues Russini, de 16 anos, a divulgação das artes marciais acaba despertando o interesse das pessoas pelas diversas modalidades do MMA. Há pouco mais de um mês, ela começou a praticar o jiu-jítsu na Academia Arena, com o grupo Check Mat, de Christian Keller. A influência veio do irmão mais velho, Erick Russini, campeão de jiu-jítsu. Além disso, Jéssica conta que sempre gostou de atividades físicas. Ela pratica ginástica artística desde os 7 anos e disputa competições pela equipe sorocabana da modalidade; também faz academia e alguns tipos de dança. "Daqui a alguns meses, já pretendo disputar campeonatos de jiu-jítsu", conta Jéssica, animada.

Luta na escola

No Colégio Objetivo, as modalidades tae kwon do, boxe e capoeira foram incorporadas às aulas de educação física do Ensino Médio. O intuito, segundo a coordenadora da unidade Zona Norte, Elza Bastida, é dar aos alunos a oportunidade de aprender conceitos específicos, como o autocontrole e a disciplina. A proposta começou no ano passado, quando foi inserida aos alunos do terceiro ano do Ensino Médio. Além de estimular a prática de exercícios físicos e contemplar a saúde, o coordenador do Centro de Aprendizagem Desportiva (CAD), Cristiano Amâncio, acredita que as modalidades exijam disciplina, concentração e relaxamento em momentos importantes, como o vestibular.

A aluna Andrezza Cristina Romano, do segundo ano do Ensino Médio, é uma das entusiastas. "É a primeira vez que tenho contato com o tae kwon do, mas já estou gostando bastante. É uma maneira de manter a disciplina e, ainda, aprender coisas novas", conta. Para o professor de boxe Michel de Oliveira Barros, os alunos aprendem que respeito e dedicação são as palavras-chaves para o esporte. "Durante a aula é preciso muita concentração e isso ajudará na rotina de estudos. Além de ganharem autoconfiança e conseguirem enfrentar as lutas que a vida trará", afirma Michel.

Respeito e Preconceito
Nas palavras de Lao-Tsé, um dos idealizadores do livro A Arte da Guerra, "quem vence os outros é forte, mas quem vence a si mesmo é invencível". Muito popular na China, o ditado faz jus à filosofia da prática consciente das artes marciais. A superação dos desafios durante as aulas é tão importante quanto saúde ou estética. Para Vladimir, não se trata de vencer os adversários o tempo todo e, sim, de vencer a si mesmo e superar os seus próprios limites para poder viver melhor e conviver em sociedade.

"As artes marciais ensinam bastante a questão de respeitar ao próximo e, principalmente, a si mesmo", acredita Vladimir. Para ele, é importante que as pessoas saibam diferenciar as lutas que assistimos na televisão das praticadas nas academias. A exigência e o objetivo dos atletas e dos alunos são diferentes.

Além disso, com a visibilidade do esporte, Vladimir espera que as pessoas deixem de associar as artes marciais à violência da competição. De acordo com o professor de jiu-jítsu Ricardo Munhoz Júnior, o preconceito com as artes marciais está se dissolvendo aos poucos e as pessoas estão aceitando cada vez mais o esporte. "A crescente procura pelas aulas só tende a melhorar esta situação", acredita. (Supervisão: Adriano Catozzi)