Camille, uma campeã na vida e na natação
Telma Silvério
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A pele morena e o sorriso cativante não deixam a estudante Camille Rodrigues Ferreira da Cruz, 19 anos, passar despercebida. Recordista brasileira de natação, a atleta niteroiense que nasceu com má formação genética teria uma vida "normal". Não fosse o esporte e a determinação em vencer. Há algumas semanas ela esteve em Sorocaba com um patrocinador para a confecção de uma prótese mais moderna - perna esquerda, na altura do joelho -, e contou um pouco sobre sua vida e sonhos. Um deles realizou no Carnaval deste ano, quando foi convidada para desfilar, pela primeira vez, numa escola de samba.
O convite partiu da Escola de Samba de Inclusão Social Embaixadores da Alegria, que abre o desfile das campeãs do Rio de Janeiro. Camille conta que sempre gostou de dançar. Aprendeu com parentes e amigos desde o axé até o funk, mas sambar era o seu maior desejo. Decidida, este ano matriculou-se numa escola de dança. O convite para desfilar veio logo. Apesar de ter saído num dos caminhões da escola, Camille disse ter se sentido realizada. Agora se prepara para desfilar no Carnaval do ano que vem, quando terá a oportunidade de mostrar tudo o que aprendeu, mas desta vez no chão, como passista da escola, adianta.
Nascida em Niterói e moradora da cidade de Santo Antônio de Pádua, no Rio de Janeiro, Camille revela que a deficiência nunca impediu de levar uma vida normal, com estudos e amigos. Aos 4 anos começou a utilizar prótese. Ela desconhece alguma situação de preconceito que tenha vivenciado. "As pessoas lá me tratam normalmente. Às vezes surge a curiosidade de saber como perdi a perna", afirma. O esporte entrou em sua vida aos 13 anos de idade, quando conheceu, por meio de um tio, a Associação Niteroiense dos Deficientes Físicos (Andref). Um teste na piscina do clube bastou para mudar para sempre a sua vida.
Esporte e vida
Até agora foram mais de cem medalhas e troféus em competições regionais, Nacional e Internacional. "Acabei aliando lazer e trabalho. A natação virou minha profissão", observa. Após concluir o Ensino Médio diz ter prestado vestibular e começado a fazer um curso de Nutrição, mas a falta de tempo devido ao esporte fez com que desistisse. "Pretendo voltar a fazer o curso", promete. Por outro lado, a natação foi responsável por experiências antes inimagináveis como conhecer todo o Brasil, e pela Seleção Brasileira conheceu outros países. A primeira viagem foi para a China, onde ficou 15 dias.
Agora o objetivo é a classificação para os jogos em Londres, no mês de junho, adianta a atleta. Além do apoio da família ela conta com o carinho do namorado, o vendedor Carlos, de 21. Quem quiser mais informações sobre a Escola de Samba de Inclusão Social pode acessar o site www.embaixadoresdaalegria.org.br