TURISMO

Registro, Lembrança e História


 
Aline Menezes da Silveira Lima Sousa
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 Você já recebeu um cartão postal? Caso tenha respondido sim, consegue lembrar quem te enviou e de onde era a imagem?
 
O Caderno Turismo do Jornal Cruzeiro do Sul possui a seção Meu Cartão Postal, em que os leitores enviam, pelo correio ou por e-mail, a foto de uma viagem que realizaram e relatam, brevemente, a experiência vivida.
 
Durante várias décadas os cartões postais serviram para povoar o imaginário, especialmente de quem os recebia. E, numa época em que o acesso às fotografias era muito restrito, foram indispensáveis para o turista ou o viajante comunicar a percepção do lugar visitado, mostrar o que conheceu e provar que, de fato, esteve no local.
 
Os cartões postais surgiram na Europa em 1869 como uma forma rápida e barata para a troca de informações e, a princípio, não continham fotos, alguns possuíam apenas gravuras. Geralmente um lado era destinado ao endereço e o outro à mensagem.
 
No Brasil, o uso do bilhete-postal ou carta-postal, teve início em 1880 e, segundo Otávio Dias, a regulamentação dizia que, caso o bilhete tivesse conteúdo indecente ou ofensivo aos bons costumes e à moral pública, seria destruído pela repartição dos correios.
 
Em 1890, com a possibilidade de reprodução fotográfica e a aceitação dos postais pela população, estes se espalharam pelo mundo com sofisticadas edições, passando a serem produzidos e consumidos em grande quantidade, graças à indústria e ao comércio. Foi nos últimos anos do século 19 que o formato conhecido atualmente, com um lado reservado à imagem e o outro separado para o endereço e para a mensagem, passou a ser utilizado. O autor do livro Realidade e Ficções na Trama Fotográfica (1999), Boris Kossoy, afirma que, 112 anos atrás, em 1910, a França produziu 123 milhões de postais.
 
Esse meio de comunicação serviu como estímulo às viagens, preenchendo o imaginário popular e, segundo Kossoy (1999), ocasionou uma revolução na história da cultura do século 20, pois se constituiu num mundo portátil, repleto de ilustrações e com uma infinidade de temas, que poderiam ser colecionados. O consumo de imagens em larga escala impulsionou, por exemplo, aplicações comerciais, artísticas, científicas e promocionais dos cartões postais.
 
O período que compreende 1899 a 1930 é considerado a idade de ouro do cartão postal para os praticantes da cartofilia, ou seja, colecionadores de cartões postais. Devido à imensa quantidade produzida nesses mais de 140 anos, existem coleções temáticas. Assim, cada colecionador elege um assunto, por exemplo: ferrovias, pinturas, fotos aéreas, religião, meios de transporte terrestre, cidade, país, edificações, dentre outros, sobre o qual se dedicará com mais atenção, promovendo a catalogação do material, que pode incluir a história da imagem estampada, as condições de conservação, bem como as datas de impressão e envio.
 
Entretanto nos últimos vinte anos o desenvolvimento de novas tecnologias e a popularização das câmeras fotográficas provocou uma diminuição considerável do consumo e, consequentemente, da produção dos cartões postais, sejam eles oficiais, de iniciativa ou com apoio de órgãos públicos, ou comerciais, feitos por empresas privadas.
 
Contudo se você já recebeu um e teve a oportunidade de relê-lo após algum tempo, entende que o postal carrega registros de uma cultura, uma sociedade, um espaço e guarda a lembrança de um momento, a letra de alguém que escreveu uma mensagem especialmente para você. É isso que torna o cartão postal um meio de comunicação tão importante, especial e significativo para a história e a vida das pessoas.
 
Então, lembrou-se de um cartão postal que tenha recebido? Se a sua resposta foi negativa, não hesite, peça para alguém lhe enviar ao menos um!
 
Aline Menezes da Silveira Lima Sousa é aluna da Universidade Federal de São Carlos - Ufscar - câmpus Sorocaba